Nas fendas dos relógios
Nas fendas dos relógios pulsam bocados de medo
Chove na brancura das palavras...o musgo é a herança do inverno
Nas artérias do mar um pontão escolhe ser consolo de tragédias
Mais austero que os segredos enferrujados das noites
Mais urgente que o sabor amargo que contamina as almas vazias
Mais vivo que o vento polido que faz florir as pedras
É o tempo febril...suspenso no trapézio desequilibrado das tardes
E no ângulo oblíquo da consciência...o fogo... a seiva...a gratuitidade dos astros
Dizem-me que nas goteiras das casas a chuva eclode em imparáveis socalcos
Não há delito no vento nem na queda dos anjos
Não há novelos de águas distantes a cabrear pela antecipação dos corpos
E o horizonte inunda-se...inflama-se...acende-se num algar de lava desconsolada
Concerteza que verei no fundo alcandorado da noite...
O perdão das crisálidas por abrir
Concerteza que longe de mim...
O fundo dos risos estará coberto por farrapos de angústia
E no vento que sopra no voo das gaivotas...fala-me de manhãs vazias
Há cactos assombrados no paredão distante das penumbras
Há fios de prumo que traçam geometrias de sonho
Há o perdão a assomar no esboço apetecível do fogo
Há lirismos de lâminas a cortar o assombrado dos dias
Mas no impossível perdão das violetas...as ervas falam de floridas varandas
Onde fantásticos rios cortam os olhos do horizonte
E o ontem é como o amanhã..sempre a deslumbrar..sempre a ser mar...
Sempre a agitar a enigmática seda do amor...