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folhasdeluar

Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

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Uma coisa é uma explicabilidade inexplicável...Hugo von Hofmannsthal

Naufrago solitário

Vagueio como um naufrago solitário
Tripulando o meu corpo através da vida
Num mar irradiante de coisas palpáveis
Procuro na corrente à deriva
Uma garrafa mensageira de algo que não sei.
Anseio por descobrir em mim
Mais do que sou capaz de imaginar.
Percebo no mistério superior da vida
A graça inexplicável da esfinge...
Germina no meu interior a dúvida
Completará o meu corpo destroçado a viagem
Que termina no porto da luz e da paz?
Haverá espaço para mim no ancoradouro desse cais
Imerso e saturado de fantasmas como eu
Ou serei apenas um soçobro que ciganeia?
A verdade é que não vendo o cais nem o seu rasto
Permaneço sem viabilidade nem ilusão.
Chega-me uma vontade de rir do vazio do nada
Aplico as minhas forças nessa vontade iminente
Entrego-me completamente a esse riso sem sentido...
Abandono a silhueta dos meus vestígios
Desaparecido e calado pelo silêncio do infinito
Sou como uma ideia inconseguida....
Como um desencanto de ilusão.

Torres de silêncio

A manhã arranca-me da cama aos tropeções
Acordo com um desenho de mim
Refletido na cidade submersa numa poça de asco
Estou atolado nessa lama fria
E açoitado por correntes de ar gélido
Assistindo à assombração venerada do ludíbrio.
Tenho vista panorâmica sobre torres de silêncio
Onde as filosofias em ruínas se exibem sem sentido.
Avisto alguém... um esqueleto humano
Esgravata um propósito nas nuvens espantadas
A boca é como um poço seco e ofendido
Uma boca chacinada e traída
Que fala de um tempo sem tirania nem obrigação.
Os ossos são uma marionete ligada por fios invisíveis.
A cena instiga abundantemente a minha imaginação
Entre estupefacto e angustiado
Sonho com imagens de pessoas gentis e graciosas
Quero voltar aos tempos de harmonia da alma
quero respaldar -me num pacto libertador do silêncio.
Mas...como um caudal de vida cinzenta sob o vazio do infinito
Vejo elevar-se um fumo girante
Como um combustível sobrevivente
Resquício da fogueira onde arde o homem.