Naufrago solitário
Vagueio como um naufrago solitário
Tripulando o meu corpo através da vida
Num mar irradiante de coisas palpáveis
Procuro na corrente à deriva
Uma garrafa mensageira de algo que não sei.
Anseio por descobrir em mim
Mais do que sou capaz de imaginar.
Percebo no mistério superior da vida
A graça inexplicável da esfinge...
Germina no meu interior a dúvida
Completará o meu corpo destroçado a viagem
Que termina no porto da luz e da paz?
Haverá espaço para mim no ancoradouro desse cais
Imerso e saturado de fantasmas como eu
Ou serei apenas um soçobro que ciganeia?
A verdade é que não vendo o cais nem o seu rasto
Permaneço sem viabilidade nem ilusão.
Chega-me uma vontade de rir do vazio do nada
Aplico as minhas forças nessa vontade iminente
Entrego-me completamente a esse riso sem sentido...
Abandono a silhueta dos meus vestígios
Desaparecido e calado pelo silêncio do infinito
Sou como uma ideia inconseguida....
Como um desencanto de ilusão.