Interesse/desinteresse
Escuto a música do piano com prazer
Ofereço um olhar de desinteresse à imprensa
E durmo durante os noticiários.
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Escuto a música do piano com prazer
Ofereço um olhar de desinteresse à imprensa
E durmo durante os noticiários.
Numa serena solidão
Caiu-me no colo o bafo inútil da fé.
Vi na face turva das preces
A borrasca peregrina que perturba o mar imaculado.
Aprendi que a intolerância da razão
Mata o sonho da liberdade
E traz reminiscências de clausura.
Vi na luz radioctiva a mudez estupefacta da face incendiada
Conheci a saudade esmagadora
Olhei perplexamente o bem e o mal...
Fechei-me com uma chave enferrujada...
E com meticuloso propósito enterrei-me no meu cerne
E mirrado de expressão e vida
Fiquei como um fóssil numa paralisia orgânica.
Transformei-me numa crisálida
Num apoucamento de mim próprio...
E assim me guardei para futuros dias menos sombrios.
Enquanto manipulo o globo terrestre
Ouço-o narrar-me a biografia da humanidade.
Vejo lugares onde a mesquinhez vive em insustentável silêncio.
Vejo vácuos perdidos no seu sôfrego compromisso
De destruír pelas armas, almas e corações...vidas...
Numa embriaguês colectiva de ausência de sentimentos.
Vejo passeando-se nos corredores do poder
Olhares fixos, sinistros e desmembrados da razão
Oiço risos e conversas que à socapa
Procuram esconder a miséria do estado do mundo
Ostentando sorrisos manchados de morte.
No conforto dos salões, diabolicamente cristalizados em taças
Brinda-se numa paz podre e odiosa
Com copos cheios de pormenores secretos e inconfessáveis segredos.
O futuro, trancado e soterrado nos detritos do presente
Sofre o fadário de um tempo incerto e insano
Ofuscado e misturado com lixo da pequenês mental
Que por razões que não descortinamos é bastante nojento.
É como se estivessemos numa corda bamba sem protecção
Um banco desconjuntado feito de presciências injustas
De onde arrancaram os pés do sonho... que agora manqueia...
Como se fosse uma quimera falar na regeneração da humanidade
Recolhido na minha escura furna
Construída pela ausência terminal da razão,
Refugio-me numa quase loucura esfusiante
Buscando nas palavras o sentido do essencial,
Porque sem palavras a vida torna-se indizível.
As palavras falam-me de medo e pânico
De homens desalinhados e decapitados,
Comoventes...de borco no pó da rua
Com a carne dessangrada a apodrecer.
Placidamente os sinos entoam a sua melodia
o Muezim anuncia o Adhan e,
Assombra-se a terra desentupida de almas
Volatizada definitivamente a última razão
O homem torna-se cadáver de si e... parte,
E com a sua partida....
A concórdia e a paz regressam serenamente
Só libertando-me de mim posso falar de mim... porque eu, não sou apenas eu...
Arde em mim a ansiedade de me saber, esta ideia forte e rija apoquenta-me, quantos sou afinal?
Na espuma coalhada dos dias em suspenso
com a fralda da camisa de fora
os gatos miam em volta...pedem ratos
e eu penso...que merda....
As frases apoquentadoras do pensamento
arranco-as cá de dentro,
repuxo-as das entranhas...
como uma segunda pele interior
como uma cobra mudando de pele... por dentro.
Desaguam poemas do meu cérebro
Saem-me pelo nariz, pelas orelhas, pelos olhos
Sou palavras, o corpo liquefeito em frases
Que esculpo com a caneta.
Comédia e tragédia são as matérias compósitas da vida.... são os fatos que vestem os nossos dias.
A montanha larga as suas águas rumo ao mar e as águas levam a montanha até à praia...
Os oceanos são os rins da Terra e estamos a conspurcá-los, esquecendo que os Oceanos não podem fazer hemodiálise........