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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Irritado com o sentido da vida

Irritado com o sentido da vida
Já que não descobro as Razões da Criação
E porque as altas instâncias do Eterno são o  lugar onde nos depositamos...como lixo abandonado
Com uma lucidez sonambular afoguei-me num plano áspero
E fechei-me na minha gaiola de sonhos emancipantes.
Procurei a adaptar-me ao complexo tempo existêncial
Desajustado de mim por uma sucessão de dramas
Vividos e sobrepostos em camadas.
Espalhei no chão os meus problemas
Tragicamente definitivos e veladamente irresolúveis .....
Mergulhei então no poço negro das tristezas
E declamei magnificentemente verdades afogadas em lágrimas...
Não há beleza eterna!
Não há vida eterna!
Só o nada é eterno!
O resto são eternilidades...
E digo isto como se fosse algo sério...importante...
Digo-o graciosa e polidamente como um poeta
Que olha fixamente nos olhos o Noturno
Sem medo... e sem esconder os ângulos esquinados dos actos
dispersos por uma inconfessibilidade de fins...
Somos como uma manifestação impossível da vida
Alabardada pela incompreensão humana
Somos como analfabetos das tecnologias da alma inacessível
Como palavras sem paladar e sem password
Que secam a mente como vírus ofensivos.
De resto...sou um esqueleto desidatrado de mim...
coberto por uma fantasia carnal de homem!

Paredão granítico

Sentado no no paredão granítico e rude
que aperta o rio ao pôr-do-sol
a procurar ouvir os céus calados,
enrosco-me na terra,
como no útero da mãe que me abrigou.
A Terra, a Mãe...veleja pelo espaço,
Numa infindável rota sem limite de confins.
Sei também que a esta hora,
risos ou choros devem estar a marcar rostos,
(os risos ou os choros que ainda tiverem rostos para marcar),
e alguém... porventura já sem forças
tem que secar essas lágrimas
dizem que Deus é força possante...
mas não seca lágrimas.
Já os risos que são secos de lágrimas...
também podem chorar....
No outro lado da terra,
as estrelas tornam-se invisíveis
porque o sol germinante
começa a irradiar o seu clarão luzente
indiferente às alegrias e tristezas.
Aqui, ainda deste lado,
mesmo antes de cair a noite integral
os raios acariciam o ar docemente,
o rio vai-se alargando no escuro
aos poucos perde a sua margem.
Os montes ao longe,
tomam a forma de fantasmas
vestidos por uma ligeira neblina.
E no enebriamento do entardecer
apreendo que ninguém,
ninguém conhece o seu porvir
excepto o que todos sabem,
que os dias são farrapos que talham
o fato que todos iremos vestir.
O fatal andrajo do nosso ocaso.

Lentamente deixamos de existir

Reinvidicando com voz plangente outra vida
Lutamos contra o relógio inexorável dos dias
Inventando um sentido para a realidade padecente.
Numa conduta de vulgar animal amestrado pelo tédio
Languidamente estimamos o bocejo
Carpindo deferentemente a clausura das ideias
Enroscados numa vida armazenada na cave da memória.
Cobrimo-nos de pó inútil e astucioso
Brutalmente calados de protestos e exigências
Ausentamo-nos da humanidade.
Desaparecendo lentamente como o sol no horizonte
Crendo ingénuamente numa ressurreição restaurada de nós
Conformados... preenchemos assim o vazio angustiante e gélido
Sem que seja emanado um protesto
Vindo do nosso desocupado interior.
Já nada nos acorda para uma vida plena
Vivendo num irreal medo sem prazo, soterrados de solidão...
Procuramos estratagemas idiotas...
Extraviados no silêncio e harmonizados com a limitada avareza do dia.
Lentamente deixamos de existir!

A família do melro

Hoje vi um melro, negro, patas para cima e costas na terra, afinal era como um ser humano... o bico amarelo estava fechado, silencioso, o melro estava morto... vem-me a questão metafísica para onde voou a alma do melro? Os melros têm alma? Bem...inteligência têm, senão como é que saberiam o caminho para o ninho onde estão os melritos? E como é que saberiam que os têm que alimentar? Mas há outra questão...a questão familiar... terá deixado o melro descendência? Piarão lindas árias fúnebres de saudade os filhos, os sobrinhos os irmãos, se calhar até tinha enteados... a viúva até já estava vestida de luto desde a nascença... toda a família estava enlutada sim...os melros têm família... tal como alguns humanos.... mas...não é o nascimento de todos nós a antecâmara da morte? Porque seriam diferentes os melros?