Não nos apaguemos como uma cova noturna
Vivemos numa miserável irrealidade
Recusamos a nossa pouca vida
Sem entendermos que ela é nossa pertença
E que podemos usá-la como aprouvermos
Ao acordarmos de manhã podemos rolar do colchão
Premir o botão e mudar de canal
Escolher o canal da Razão vertiginosa
Lá há sempre qualquer coisa realizável
Num sítio ou outro podemos ser nós.
Podemos viver estólidos..ou viver de imaginação
Deixemos o mundo tangível tilintar lá longe
Esqueçamo-lo como a uma imagem desfocada...
De memórias esquecidas...
E de contornos translucidamente inítidos.
Recorramos a essa imagem do mundo
Apenas como uma ideia guardada pela inutilidade
Das coisas que ostentamos na lapela como uma medalha
Ou que colocamos numa moldura
Estruturalmente voltada para a parede
Para que nos lembremos de a olhar ...de longe...
Paremos de catalogar sentimentos...amemos sofregamente...
E não nos apaguemos como uma cova noturna.
Soturnamente sós!