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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Não nos apaguemos como uma cova noturna

Vivemos numa miserável irrealidade
Recusamos a nossa pouca vida
Sem entendermos que ela é nossa pertença
E que podemos usá-la como aprouvermos
Ao acordarmos de manhã podemos rolar do colchão
Premir o botão e mudar de canal
Escolher o canal da Razão vertiginosa
Lá há sempre qualquer coisa realizável
Num sítio ou outro podemos ser nós.
Podemos viver estólidos..ou viver de imaginação
Deixemos o mundo tangível tilintar lá longe
Esqueçamo-lo como a uma imagem desfocada...
De memórias esquecidas...
E de contornos translucidamente inítidos.
Recorramos a essa imagem do mundo
Apenas como uma ideia guardada pela inutilidade
Das coisas que ostentamos na lapela como uma medalha
Ou que colocamos numa moldura
Estruturalmente voltada para a parede
Para que nos lembremos de a olhar ...de longe...
Paremos de catalogar sentimentos...amemos sofregamente...
E não nos apaguemos como uma cova noturna.

Soturnamente sós!

Estou em descrédito com esta turba

Colecciono letras no caderno das ideias
Rabisco-as como quem apanha azeitonas do chão
As letras são como silvas espinhosas,sombriamente arrojadas
Pego nelas com cuidado para que não me piquem
Depois...explodem em palavras...
Como uma composição musical...
Como um dever generoso para com elas...
Como se só vivessem se eu as libertar da prisão do meu cérebro
Fazendo-as voar em frases absurdas ao meu entendimento.
Grito-as com a caneta para despertar a letargia dos outros
Que aflito vejo começarem a cobrir-se de líquenes
Fremente e zaranzado de tristeza
Apetece-me dar-lhes verbais bofetadas
Para os despertar da brutidade da sua vida...
Mas para abrir cabeças é preciso paciência
E eu tenho a caneta romba e a tinta esgotada...
Enfim...estou em descrédito com esta turba.

Cólera requentada

Filho! Filho! Filho!
Chega-te p´ra lá...cheiras a mijo...agonias-me..
e eu tenho a cólera requentada.
Filho! Filho! Filho!
Porra ,não basta a merda da vida ainda tenho que aturar velhos
é pá fecha a tampa,
andas a cavar a tua cova desde que nasceste e ainda cá estás...
Filho! Filho! Filho!
Já te disse que os velhos deveriam ir para o eremitério
ficam lá sózinhos e cagam e mijam à vontade...
não cheiram a ninguém...
Filho! Filho! Filho!
Olha este...depois de me ter ensinado a andar
de me deixar encavalitar nele
de me levar à escola, agora quer que eu o abrace...
Filho! Filho! Filho!
Nem sei se sou teu filho e agora é tarde para fazer o teste do ADN...
Filho! Filho! Filho!
Pois é pai... a vida é fodida....