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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O mundo anda ganzado.

O mundo anda ganzado.
Um final apoteótico reclama os nossos aplausos
Que entoaremos já no fundo do abismo
Já bateram as três pancadas... mas o homem está desatento
Enquanto o dinheiro correr como um rio para a sua conta bancária
Disfarça o verbo e não quer falar do perigo...
Só quando os animais se tornarem monstros
Só quando os rios correrem fora das margens
E o seu leito ficar seco...E os peixes a apodrecerem...
Só quando as montanhas se puserem de cu para o ar
Então incansalvelmente os loucos acreditarão.
Depois já ninguém fará milagres...
O Cristo primitivo não terá adeptos...
Será como um padre besuntado de pecado
Um zunido inconsistente desaparecido da realidade.
Os campanários ficarão negros da cinza de Satanás
Desaparecerão as Cruzes...
Serão todas açambarcadas pelo homem para a sua crucificação...
Esqueceremos a quem rogar protecção
E só depois da tormenta nos lembraremos...
Que afinal...somos todos Cristos crucificados na Terra
Entretanto os satélites continuam a sua órbita impassível!

Complacentes com as dentadas da boca do tempo

Complacentes com as dentadas da boca do tempo
Somos como reflexos ferrugentos e distorcidos
Caveiras fantásticas feitas de vómitos bestiais
Restos de homem numa convulsão misteriosa.
Enroscados num estertor de vísceras esventradas
Castigamos o nosso próprio género
Com uma perversidade congénere à discórdia!

Gasto por tanto passado assente no presente

Gasto por tanto passado assente no presente
Vivo no limbo que desagrega o devaneio da realidade
Numa falsificante utopia vertiginosa de apagamento
Hóspede de mim... escolhi viver banal e singelamente
E não jorra de mim o menor anseio pelo mundo
Possuo uma cama,um fogão,uma cafeteira e uma panela
Porque tudo o resto é alucinação e frio fogo-fátuo...
Numa representação permanente de mim
Posso renegar tudo... menos o livre pensamento.
Vivo na bolha cristalina que me separa da miséria humana
Onde posso subjugar o tempo... e torná-lo utilizável
Enquanto outros me pensam enfadonho...
Cogito de mente amanhecida e planto-me de barriga para o ar
Deixando ficar o olho esquerdo de vigília ao mundo
Desenferrujo a mente passeando no meu reduzido quarto
E sobe-me uma taciturna fecundidade de ideias
Que guardo como um pecúlio num mealheiro de sementes
Expectando que cresçam...
Depois... esparjo-as como água benta colorida
Extraída da minha jazida pessoal de frases acumuladas
Recheando de magia a extensão branca das páginas
Que depois devoro com uma colher sôfrega e espantada
A seguir abro os braços abraçando o silêncio
E numa fantasia que cinge tudo o que me rodeia
Aperto num abraço o amigo dia, e...
Abro a janela...olho o rio...e,
Feliz... estreito nesses gigantes braços que tudo abarcam...
O peito e as costas da vida!