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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Quando eu morrer não me vistam nada

Quando eu morrer não me vistam nada
Nem me apertem num caixão...
Quero ir descalço e nú,
Como um monge que fugiu
Deste cadafalso feito de almas soterradas...
Liberto enfim do grande Atilho da Vida
Embrulhem o meu corpo num lençol de linho branco,
Refúlgido...
Coloquem-me sobre uma padiola de fracas tábuas puras e sem verniz...
Dispenso epitáfios? Para que os quero?
Tumbas pesadas... de granito?Não !


Já bastou aquela em que vivi e o peso na alma que me causou!


Passei a vida a carregar esta pedra...esta tumba...como um caracol solitário.
Carreguem-me às costas,
(se houver alguém que me queira carregar)
Mas não me tapem o rosto...quero ver tudo...
Finalmente posso olhar o céu de papo para o ar...
Piscando o olho ao sol...porque carga de água os enterros são só de dia?
Eu preferia uma noite de lua cheia...
Onde as pessoas fossem iguais a si próprias..
E uivassem como lobos...em minha memória!


Numa sinfonia de uma nota só...


aúúúúúúúú....aaaa.....aúúúúú

Sou a súmula de milhares de milhões de actos de amor

Sou a súmula de milhares de milhões de actos de amor
Sou o vértice do triângulo antigo dos meus ascendentes
Sou a matéria de uma estrela descendente do grande Big Bang
O apuramento da espécie...
Quantos relógios fizeram tic tac até eu chegar?
Não muitos, o relógio é uma invenção recente!
Mas há outro relógio, o relógio imaterial...desse é que não sabemos nada!
A humanidade é como as ondas do mar,
Todos os dias chegam ondas à costa da vida,
Desembarcando delas bebés na areia da praia...
alguns ...momentaneamente deixarão resquícios de espuma nessa vida,
outros nem isso...nem resquícios,nem espuma, nem vida!

Esqueci-me de mim e consubstanciei-me em outro

Esqueci-me de mim e consubstanciei-me em outro
Sou um e outro ancorado em outro
Deixo um e outro desterrarem-me de mim...
Bato três vezes no peito e...faço a minha penitência secreta...
Abro o cortinado ondulante da alma
E salto para dentro da janela da minha outra mente.
Começo a estranhar o enredo deste filme que desconheço.
Sou empurrado por uma profunda curiosidade
Como uma rajada de vento soprando mistérios...
Quero ir mais além... quero espreitar para detrás do palco..
E entro num caleidoscópio de sessões contínuas e raras.
Exijo um lugar no camarote... tem os apoios partidos...
E observo os meus pensamentos a correr no ecran voltado ao contrário...
Estou encarecidamente só e de cabeça para baixo...


Mas sinto-me livre na minha prisão domiciliária...
Estarei a ficar louco?...

Tenho o olhar turvo e confundo as imagens

Tenho o olhar turvo e confundo as imagens
Toco com a mão no espelho do meu rosto
E fico silencioso perante mim...
Oscilo entre o espanto e o bloqueio da vista...
Sorrio para liquefazer a minha alucinação
Depois convido-a com gestos obscenos...
Tomo o xarope mágico, e ...que maravilha...sou eu novamente...
Ponho o braço à volta de mim...dou-me um abraço apertado..
E... de braço dado comigo para não me perder de vista...
desabitado de alma volto ao meu quarto...
docemente encosto a cabeça na minha almofada de penas... de galinha pedrês.
E adormeço...erguido e encontrado no sono...

Apoderam-se dos nossos domínios com tecnologias de ponta

Apoderam-se dos nossos domínios com tecnologias de ponta...
Como se cagassem em cima de nós
Como cães que mijam nos recantos a marcar território
Lançando olhares baixos e circunspectos...
E nós... somos como faquires vivendo e dormindo em camas de pregos...
Por vezes também brincamos com o fogo
E ocasionalmente arremessamos beijos que queimam
Como sinais de fumo de respeito...
Não gostamos de carregar estes objectivos sem confissão
Estas manobras em sentido contrário ao nosso querer
Deveríamos poder acertar contas... mas somos calmos e pacíficos
Quando nos deveríamos vestir de inquietude e beligerância....
Mas... somos apenas homúnculos serviçais submetidos aos interesses dominantes