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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Nem sempre habitei este iglô!

Estou deitado de barriga para o ar,
Pensativo...relaxado...olho o tecto branco...
Este tecto branco é como um universo gelado
Um tempo parado e sem vida
Dentro de um tempo paralelo que corre na rua
Medito sobre mim...sobre os outros...sobre a vida...
Indiferente ao gelo que me cobre...
Vejo o tecto branco como um espaço largo de vistas
Este tecto branco não tem grades...nem aborrecimentos...
É uma cela libertadora e vasta...
Na rua sobrevivem em gaiolas mentais
Aqueles que não têm um deserto branco para se espraiarem
Não tenho paciência para a rua...
Onde vive a intranquilidade...
Sou como um gato enrolado na cama
De vez em quando espreito pela janela
Convenientemente disfarçado...
Mas não me interessa saber nada da rua
A curiosidade guardo-a para o meu tecto...
Onde o vendaval não me atinge...
Só gosto de quem gosto
E não me esforço para ser simpático
Aliás, não me esforço por fazer qualquer tipo de esforço.
Sei que a imobilidade é conveniente ao pensamento
É por isso que nada me arranca ao meu tecto branco.
Mas...nem sempre habitei este iglô!

Sentado no meu banco ao fundo do quintal

Concentro-me densamente no meu ser
E num arrebatamento fascinado
Descubro incríveis sinais de tesouros
Soterrados no âmago do meu espírito
Como crisálias dentro do casulo
Como uma constelação Láctea de expressividade
Gritam em enormes espirros o meu nome e,
Nomeiam-me o seu explorador oficial,
Passo a ser o navegador que procura os seus destroços coloridos
Perseguindo as palavras enterradas na mina
Onde me aguardam as ideias escondidas...
Esvazio esse tesouro que jaz na minha consciência
Sobre um fundo de papel branco e carecido de palavras
Depois, com uma expressão espantada de mim
Sentado no meu banco ao fundo do quintal
Fecho-me a sete chaves... por dentro.

Sentado no meu banco ao fundo do quintal

Concentro-me densamente no meu ser
E num arrebatamento fascinado
Descubro incríveis sinais de tesouros
Soterrados no âmago do meu espírito
Como crisálias dentro do casulo
Como uma constelação Láctea de expressividade
Gritam em enormes espirros o meu nome e,
Nomeiam-me o seu explorador oficial,
Passo a ser o navegador que procura os seus destroços coloridos
Perseguindo as palavras enterradas na mina
Onde me aguardam as ideias escondidas...
Esvazio esse tesouro que jaz na minha consciência
Sobre um fundo de papel branco e carecido de palavras
Depois, com uma expressão espantada de mim
Sentado no meu banco ao fundo do quintal
Fecho-me a sete chaves... por dentro.

Sou um devoto espectador do noturno

Sou um devoto espectador do noturno
Idólatra da lua cheia
Sentindo a infinita agonia do desconhecido...
Quando me sento em frente ao altar estrelado
Sei que as minhas mãos que em nada tocam...
São feitas de estrelas...da mesma massa...
Perante esta panorâmica grandiosa...


Perante este sonho incomensurável...
Vou-me diluindo neste Universo Infinito ...


Silenciosamente puxado para o Nada...

A menina negra

Espreito o tejo...
Sento-me à sombra de um enorme e belo plátano
Em frente a mim, no ringue de futebol...
Dois miúdos brancos jogam à bola...não têm mais que treze anos...
Estão de férias...chutam o dia sem peocupações...e riem...
Um deles...pontapeia a bola com mais força...sem direcção..
A bola sai do ringue...
Do lado de fora...
Vem a passar uma menina negra
Aparenta a mesma idade dos rapazes
Colado a si...vem o seu tesouro...puxa-o as suas mãos...
É um carrinho de compras..
Daqueles com duas rodas...que as senhoras puxam..
Quando vão fazer compras à praça...
Mas a menina não vem da praça...
A menina passou à pouco...a porta do banco alimentar...
É lá que fica o mercado da família...
Ao ver a bola...a menina negra...
Larga o carrinho de compras...
Vai buscar a bola e entrega-a ao menino branco...
Que agradece...
Que belo gesto...que admirável simplicidade...
A menina negra...pobre de haveres e grande de alma...
Deixa o seu caminho e baixa-se para apanhar a bola...
A bola do menino...
Que não sabe onde fica o banco alimentar...
Ali não houve cor de pele...
Ali não houve riqueza nem pobreza...
Ali estavam duas crianças e uma bola...
Sem subterfúgios nem falsos orgulhos...
Aquela menina negra deu uma lição de riqueza...
Mostrou como é grande a sua alma...
Aquele gesto fez-me acreditar no futuro...
Aquele gesto salvou-me o dia!