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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O sonho do homem

O sonho absurdo e estúpido de qualquer homem
Passa por tentar esganar a morte.
Quer ser recordado
Deixar algo que o lembre
Dizer que esteve aqui.
Pensa que viverá eternamente
Na memória das pessoas.
Pobre animal...parvo e ignorante...
Não percebe a lição as coisas...
Que importa a nossa memória?
O que importa é mergulhar na vida
Conhecer a merda, revolver no lixo...
Cair e levantar-se...
Ter histórias para contar...viver...
E...cagar na memória...

Invejo o silêncio de quem morre

Invejo o silêncio de quem morre
Porque quem morre descobre a verdade e nada diz
Não é por acaso que muitos cadáveres
Jazem na urna... como se estivessem no seu leito
Alguns até sorriem...
A minha mãe quando morreu...
Tinha com ela aquele sorriso esfíngico da Gioconda
Como uma alegria descansada
Como se por detrás desse sorriso silencioso
Estivesse o gozo da partida para a viagem ao Éden...
Era um sorriso de ausência
A vingança perante a vida...
Esse sorriso era a vitória sobre a vida.
Ali estava ela imóvel...
A morte tinha-a transformado...
Num sorriso...

Não vivo para ser lembrado

Não vivo para ser lembrado,
Como poderia viver para isso
Se depois não me lembrarei de ninguém?
Não vivo para ficar
Na recordação de amigos ou família
Não quero encher-lhes as trevas
Com a minha alma negra
Quero que fiquem sós
E percebam que a recordação de alguém
É apenas algo lamentável...
Faço o possível para que não me lembrem,
Não quero ser um fantasma visitável
Esqueçam-me...porque eu sou como quero...
Faço o que quero...não me arrependo de nada....
Não tenho remorsos...por isso afastem-se da minha cova...
Estão dispensados!

Tenho em mim os sete pecados imortais

Passo na rua mascarado de riso,
Sou divinamente endriabrado
Sou como uma lágrima sorridente
Tingida com o sangue esverdeado da esperança...
Sou uma cópia de todos os homens
Sou como um esboço inacabado...
Um risco traçado a carvão...
Que para me desenhar,teve primeiro que arder.
Tenho em mim os sete pecados imortais,
Sou o diabo agitando a cauda perante o doce
Os olhos salientes perante a carne
A inveja rabujenta que se mira ao espelho
Perseguindo a ganância pela vida
E voltando as costas a Deus... só para o chatear!
Sou a garra de unhas afiadas que se esconde na sombra
Sou a feroz beleza do delírio...
Ai de mim! Se o sol me apanha...empalidece...
Sou um cómico no funeral da ilusão,
E tenho a liberdade do destino traçado...por mim...
Rio-me desse destino fatal
Enquanto ardo no altar da Liberdade.
Ponho os lábios sobre a Beleza...que cora de vergonha...
Como os miolos aos Anjos...sou um raio que os racha...
De alto a baixo...
Sou o espelho onde se mira ilusão...
Porque tenho os dedos gastos de raspar no áspero Infinito
Vou ardendo numa bela fogueira...
Qual canibal que se consome...
Como uma estrela a quem acabou o combustível
Como um riso que se desfaz em pranto,
Ou uma passagem em ruínas.
Sou o último suspiro que não se quer exalar
Porque ainda não recebi as chaves do Infinito!

Nem sempre habitei este iglô!

Estou deitado de barriga para o ar,
Pensativo...relaxado...olho o tecto branco...
Este tecto branco é como um universo gelado
Um tempo parado e sem vida
Dentro de um tempo paralelo que corre na rua
Medito sobre mim...sobre os outros...sobre a vida...
Indiferente ao gelo que me cobre...
Vejo o tecto branco como um espaço largo de vistas
Este tecto branco não tem grades...nem aborrecimentos...
É uma cela libertadora e vasta...
Na rua sobrevivem em gaiolas mentais
Aqueles que não têm um deserto branco para se espraiarem
Não tenho paciência para a rua...
Onde vive a intranquilidade...
Sou como um gato enrolado na cama
De vez em quando espreito pela janela
Convenientemente disfarçado...
Mas não me interessa saber nada da rua
A curiosidade guardo-a para o meu tecto...
Onde o vendaval não me atinge...
Só gosto de quem gosto
E não me esforço para ser simpático
Aliás, não me esforço por fazer qualquer tipo de esforço.
Sei que a imobilidade é conveniente ao pensamento
É por isso que nada me arranca ao meu tecto branco.
Mas...nem sempre habitei este iglô!

Sentado no meu banco ao fundo do quintal

Concentro-me densamente no meu ser
E num arrebatamento fascinado
Descubro incríveis sinais de tesouros
Soterrados no âmago do meu espírito
Como crisálias dentro do casulo
Como uma constelação Láctea de expressividade
Gritam em enormes espirros o meu nome e,
Nomeiam-me o seu explorador oficial,
Passo a ser o navegador que procura os seus destroços coloridos
Perseguindo as palavras enterradas na mina
Onde me aguardam as ideias escondidas...
Esvazio esse tesouro que jaz na minha consciência
Sobre um fundo de papel branco e carecido de palavras
Depois, com uma expressão espantada de mim
Sentado no meu banco ao fundo do quintal
Fecho-me a sete chaves... por dentro.

Sentado no meu banco ao fundo do quintal

Concentro-me densamente no meu ser
E num arrebatamento fascinado
Descubro incríveis sinais de tesouros
Soterrados no âmago do meu espírito
Como crisálias dentro do casulo
Como uma constelação Láctea de expressividade
Gritam em enormes espirros o meu nome e,
Nomeiam-me o seu explorador oficial,
Passo a ser o navegador que procura os seus destroços coloridos
Perseguindo as palavras enterradas na mina
Onde me aguardam as ideias escondidas...
Esvazio esse tesouro que jaz na minha consciência
Sobre um fundo de papel branco e carecido de palavras
Depois, com uma expressão espantada de mim
Sentado no meu banco ao fundo do quintal
Fecho-me a sete chaves... por dentro.

Sou um devoto espectador do noturno

Sou um devoto espectador do noturno
Idólatra da lua cheia
Sentindo a infinita agonia do desconhecido...
Quando me sento em frente ao altar estrelado
Sei que as minhas mãos que em nada tocam...
São feitas de estrelas...da mesma massa...
Perante esta panorâmica grandiosa...


Perante este sonho incomensurável...
Vou-me diluindo neste Universo Infinito ...


Silenciosamente puxado para o Nada...

A menina negra

Espreito o tejo...
Sento-me à sombra de um enorme e belo plátano
Em frente a mim, no ringue de futebol...
Dois miúdos brancos jogam à bola...não têm mais que treze anos...
Estão de férias...chutam o dia sem peocupações...e riem...
Um deles...pontapeia a bola com mais força...sem direcção..
A bola sai do ringue...
Do lado de fora...
Vem a passar uma menina negra
Aparenta a mesma idade dos rapazes
Colado a si...vem o seu tesouro...puxa-o as suas mãos...
É um carrinho de compras..
Daqueles com duas rodas...que as senhoras puxam..
Quando vão fazer compras à praça...
Mas a menina não vem da praça...
A menina passou à pouco...a porta do banco alimentar...
É lá que fica o mercado da família...
Ao ver a bola...a menina negra...
Larga o carrinho de compras...
Vai buscar a bola e entrega-a ao menino branco...
Que agradece...
Que belo gesto...que admirável simplicidade...
A menina negra...pobre de haveres e grande de alma...
Deixa o seu caminho e baixa-se para apanhar a bola...
A bola do menino...
Que não sabe onde fica o banco alimentar...
Ali não houve cor de pele...
Ali não houve riqueza nem pobreza...
Ali estavam duas crianças e uma bola...
Sem subterfúgios nem falsos orgulhos...
Aquela menina negra deu uma lição de riqueza...
Mostrou como é grande a sua alma...
Aquele gesto fez-me acreditar no futuro...
Aquele gesto salvou-me o dia!

A minha alma é um lago

A minha alma é um lago
Onde se refletem as cores dos dias
Um enorme poço onde uma pequena luz brilha no fundo
Bruxuleante...lacrimosa....
Espreito a minha alma
E vejo o meu vulto a dançar no fundo do poço
Não projecto sombra... sou uma figura de mim
Sou ao mesmo tempo como uma imagem exterior a mim
Onde todas as coisas se refletem...irrefletidamente...
Numa dança acrobática e ondulante...
Procuro romper com a minha sombra
Mas como posso fazê-lo sem romper a alma?
Como partir o espelho onde me revejo?
Como forçar a alma sem romper a sombra?
Como dar vida a esta imaterialidade?
Faço o meu vulto dissipado voltar à realidade?
Olho-me... e vejo um fantasma...aparentemente real...
Sou eu esta a sombra que me olha?
Esta aparição lívida e intangível de mim?
Ou uma irrealidade animada pela minha alma?
Vejo-me nitidamente decomposto em várias cores
Como quem espreita através do cristal
E na verdade sou eu...este corpo...esta alma...
Que imaterialmente predomina sobre a realidade!

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