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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Guardo as emoções no catálogo da memória

Guardo as emoções no catálogo da memória
Para lá regressar sempre que me esqueço de mim.
Sei que esse tempo arrumado e suspenso
Guardou para meu contentamento...essas memórias...
Que são como uma porta sempre aberta
Que dá entrada para uma casa iluminada
Uma casa onde as lágrimas regam sentimentos suspensos no ar
Como poeira que se vê através do sol.
Uma casa feita de noites negras e luas pardas
Cheia de pequenos regatos por onde escorre a luz.
Uma casa onde o coração empoeirado respira fundo
E uiva solene como um vento desnecessário.
Este coração desgastado de tanto correr e guardar coisas...
Não espera encontrar a porta de saída...
Espera o fim das coisas!

Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração

Quis voltar a pisar a terra do lugar onde cresci
Como um fantasma andei por ali
Porque já ninguém sabe quem sou
Partiram os amigos que a infância
E as circunstâncias juntaram naquele bairro
Mas ainda os vejo …
Mesmo agora pontapeio a bola com eles
No campo de futebol improvisado
E rodeado de oliveiras.
Ainda conheço cada uma daquelas oliveiras
Soterradas pelo cimento que agora veste o tijolo das casas.
Fechei-me angustiado por reviver aqueles pedaços da memória
Aquela alegria infantil...a liberdade...
Na angústia ninguém nos vale
É como uma companhia...é a solidão do tempo passado
É como a rodagem de um filme encerrado em nós...
Na mesma rua passam agora outras pessoas
Eu... estou a viajar no tempo...mas ao contrário...
Rejuvesneço...sou agora um miúdo num corpo de meia idade
Um extraterrestre de que ninguém desconfia
Um homem a vestir um tempo antigo...esfarrapado...
Um homem a tentar consertar esse tempo...
Como um conforto para a alma...
Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração
Como um andrajo que já não lhe serve.