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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

Devemos viver absurdamente alegres

A vida é absurda... devemos então vivê-la alegres, devemos matar em nós todo o sentimento de tristeza porque é muito mais absurdo vivê-la de forma triste, a palavra que todos os dias devemos utilizar é: disfrutar! Disfrutar de tudo o que o dia nos trás, disfrutar das chatices, rir-mo-nos delas como se fossem piadas contadas pelo destino. Devemos atingir uma espécie de nirvana que nos trará um estado de alma em que nada importa e tudo é alegria. Afinal a vida é isso mesmo Nada Importa, só é importante viver!

Uso uma seta de raios inflamados

Uso uma seta de raios inflamados
Para atravessar os dias
Feitos de um branco denso...
Dias talhados numa pedra insensível
Que um capataz com chicote me obriga a carregar.
Dias onde o Sorridente me saúda...maldoso...
Enquanto joga às cartas com Deus
Pisca-me o olho como quem não quer a coisa
E lança o desafio:
Serias capaz de incendiar as palavras?
Serias tu capaz de ser o Nero da Filosofia?
Serias capaz de olhar Deus nos olhos
Só para o lembrar que existem Homens?
Mas porque devo eu lembrá-lo?
A Ele que em tempos...
Matou todos os primogénitos do Egipto
Não! Eu fujo disso!

Que outra coisa é a vida senão um brinquedo?

A lua faz descansar o sol
A lua é o descanso da vida
E tudo é vida...tudo é harmonia...tudo está ligado
O canto dos pássaros liga-nos à natureza
A nossa janela liga-nos ao mundo
A vida liga-nos ao universo.
Todos os dias renascemos
E todas as manhãs
Devemos começar por alumiar o escuro dos dias
Atear fogo à monotonia...enlouquecer...
Desvairar infinitamente...questionar os Deuses
Pintar a paisagem com cores garridas...renová-la...
Incendiar as ruas com roupas coloridas
Alumiar as sombras com archotes de carne viva...
Devemos arder na vida...sofrer da sua febre...
Eu não quero a cura...não tomo calmantes...
Quero ser sempre um fogo-fátuo...
Não quero as pantufas na minha casa
Quero sentir o frio do chão, nos pés.
Quero abrasar-me nesse fogo
Que a minha alma ateia e aplaude...
Quero gastar-me até só restar o meu esqueleto
Descobrir as mil faces das coisas
Mudar...mudar...mudar...
Mudar tudo...todos os dias...
Como uma criança que se farta do brinquedo
E quer logo outro...
Que outra coisa é a vida

 

senão um brinquedo posto à nossa disposição?
Por isso devemos desfrutá-lo nesta curta existência!

Os falsos crentes governam o mundo.

Hoje sonhei com cores
Cores brilhantes... mais brilhantes que a realidade...
Esta realidade que é sempre tão baça.
Um mar de de tinta colorida cobria o meu corpo
E eu nadava nessas cores como um coração naufragado
Do meu coração vermelho saíam cantos
Cantos suaves que subiam pela minha garganta
E se iam desfazer de encontro às falésias da praia
Olhei o céu...profundamente branco...sem fim
Frio como pedra que não se dissolve...
Não há nada mais frio que a pedra branca
Depois...o céu era o mar...
Nadavam comigo os Arcanjos
Que pretendiam entrar à força no meu coração...
Como quem entra num sepulcro...
Queriam mostrar-me a Divina Comédia
E o Inferno de Dante...
Afastei-os com uma alegria de criança...
Depois vi uma lua vermelha
Com o Soturno sentado na montanha mais alta...
A chamar-me Anjinho...
A sua voz era como o vagido de uma sombra tenebrosa
Que dizia: os falsos crentes governam o mundo.

Guardo as emoções no catálogo da memória

Guardo as emoções no catálogo da memória
Para lá regressar sempre que me esqueço de mim.
Sei que esse tempo arrumado e suspenso
Guardou para meu contentamento...essas memórias...
Que são como uma porta sempre aberta
Que dá entrada para uma casa iluminada
Uma casa onde as lágrimas regam sentimentos suspensos no ar
Como poeira que se vê através do sol.
Uma casa feita de noites negras e luas pardas
Cheia de pequenos regatos por onde escorre a luz.
Uma casa onde o coração empoeirado respira fundo
E uiva solene como um vento desnecessário.
Este coração desgastado de tanto correr e guardar coisas...
Não espera encontrar a porta de saída...
Espera o fim das coisas!

Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração

Quis voltar a pisar a terra do lugar onde cresci
Como um fantasma andei por ali
Porque já ninguém sabe quem sou
Partiram os amigos que a infância
E as circunstâncias juntaram naquele bairro
Mas ainda os vejo …
Mesmo agora pontapeio a bola com eles
No campo de futebol improvisado
E rodeado de oliveiras.
Ainda conheço cada uma daquelas oliveiras
Soterradas pelo cimento que agora veste o tijolo das casas.
Fechei-me angustiado por reviver aqueles pedaços da memória
Aquela alegria infantil...a liberdade...
Na angústia ninguém nos vale
É como uma companhia...é a solidão do tempo passado
É como a rodagem de um filme encerrado em nós...
Na mesma rua passam agora outras pessoas
Eu... estou a viajar no tempo...mas ao contrário...
Rejuvesneço...sou agora um miúdo num corpo de meia idade
Um extraterrestre de que ninguém desconfia
Um homem a vestir um tempo antigo...esfarrapado...
Um homem a tentar consertar esse tempo...
Como um conforto para a alma...
Um homem a tentar vestir um tempo apertado no coração
Como um andrajo que já não lhe serve.

Quando falo de mim...de quem falo?

Quando falo de mim...de quem falo?
Se eu sou uma mistura dos outros
Se sou o que aprendi com os outros
Sou um pouco de todos os que por mim passaram
Sou um pouco de todas as coisas que vi
Sou o arquivo sem fundo das minhas experiências.
Sou o nadador salvador das minha recordações
Sou o que as pôe a salvo da tempestade do esquecimento.
No meu interior residem os dias de sol...
As sombras da floresta cheia de fantasmas...
Os dias espinhosos...a morte e a vida...
O abismo negro e o luto branco...
O vidro partido onde entra o frio e a luz...
A indecisão...a dança dos ramos ao luar...
Sou o espelho refletor e refletido...
Sou o pedinte esfomeado de ilusão
Sou a fé perdida e espalhada pelo vento
Sou a folha virada... da página sem remorso
Sou o peixe nas garras da águia Colossal
Que luta para fugir...desesperançado...
Sou o que procura agarrar a balsa salvadora
E também subir a árvore da aflição
Para afinal perceber...
Que os outros também estão comigo
Que também têm algo de meu
Que também querem sobreviver...
Desesperadamente....

Há rostos que nos dizem tudo

Há rostos que nos dizem tudo...
Olhamos para eles,
E vemo-los como uma menção aos vencidos
Novos feitos velhos
Farrapos de nada sem aproveitamento
Que seguem com os dias encardidos pela ferrugem da vida.
E nem uma lima de aço é suficiente para os polir.

Polidamente escondem as arestas falsificadas

Fundem-se em si mesmos como chumbo derretido
São escorrimentos que na sua falsidade tudo destrói
Vivem à meia luz sem contornos e sem brilho
Usam a linguagem da mentira como se fosse verdade
São peritos em farsas...impenetráveis... perecíveis
Vestem fatos imaculados...como intrusos que comem risos.
São deputados da farsa...
Beliscam a verdade cheios de objectivos dissimulados
Pregam como apóstolos...a mentira...
Desfazem a realidade...decompondo-a astuciosamente
Ultrajando religiosamente e sem vergonha a comunidade.
São a imagem brilhante e ilusória da fraude
Polidamente escondem as arestas falsificadas
São os frutos deste tempo...marcados pelo selo da trapaça!

Um culto ao Deus do absurdo!

Norte, sul, este, oeste,
Escuto o eco do tempo cardeal...
Visto-me com a correcção do desleixe
E coloco um olhar ansioso caído sobre o colarinho
Como um sátiro dono da tragédia
Mastigo os dias como quem come
Uma ementa repulsiva....
E...no escuro desses dias
Arfo sons cavos e estranhos...inúteis...
Como se visse ao longe a minha existência
Suspensa e mirrada num eterno deserto.
O mundo é um lugar demasiado vasto
Um angustiante vulcão expelindo a lava... que me sufoca.
E onde o passar dos dias ,
Não passa de um combate perdido...mas obrigatório...
Um culto ao Deus do absurdo!