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folhasdeluar

Poesia e outras palavras.

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Poesia e outras palavras.

O abraço consolador do Absoluto!

A rua cheirava a perfume barato
Deixando um rasto de melancolia flutuante
Abro o portão...
E sento-me num banco à entrada de casa...
A lua emanava uma lucidez fria
E nessa noite de verão...
Eu não procurava mais que o abraço consolador do Absoluto!

Voltámos à escravatura consentida

Misteriosamente regredimos no tempo, voltámos à escravatura consentida. Hoje ser escravo do trabalho é sinónimo de estatuto social, quando deveria ser de miséria social. Ser escravo do trabalho é não ter tempo para a família, nunca estar descontraído, levar o computador para as férias e mais grave que tudo é pensar que estão correctos e que são insubstituíveis.

Chego à minha janela e vejo o Tejo

Chego à minha janela e vejo o Tejo
Que é uma enorme casa para as aves
Uma enorme estrada para os peixes
E um enorme alívio para a minha alma...
Óh flamingos, óh garças reais, óh águias pesqueiras,
óh gaivotas, óh patos marrequinhos,óh corvos marinhos!
Levantai voo e vinde até à minha janela
Vinde abraçar este vosso companheiro
Que não tem asas...
Mas voa convosco...


Vivendo numa saudade azul!

O nosso futuro vive calado na alvura de um túmulo!

Vi um velho a querer passar por jovem
Ou era um jovem que não aceita ser velho?
Velhice e juventude confundiam-se naquela pessoa
Recriando uma comédia sem futuro
O tempo é sempre o mesmo
Não retorna a si próprio...não vai nem vem...é...
E nós ...não podemos evitar transformar-nos num resíduo.
Todos sabemos que o nosso futuro
Vive calado na alvura de um túmulo!

O pleno emprego é possível

O pleno emprego é possível, desde que exista vontade e visão por parte dos políticos, mas também pode ser uma imposição pela sociedade que o pode atingir desde que haja união e as pessoas de concentrem nesse objectivo. É preciso que haja uma centelha que indique o caminho e a forma como é possível atingi-lo. O trabalho deve chegar a todos e há maneiras de isso se fazer. Uma delas é reduzir o tempo de trabalho e reduzir os ordenados no valor correspondente, isso iria contribuir para que as empresas contratassem mais pessoas sem sobrecarregar as suas despesas, por outro lado o estado pouparia nos subsídios de desemprego e com esse dinheiro criaria um subsídio para quem tivesse tido o ordenado reduzido. As vantagens são que todos teriam emprego, o estado receberia os descontos de quem trabalha e pagaria muito menos a subsidiar a redução do tempo de trabalho do que aquilo que agora gasta em subsídios de desemprego.

A terra não gosta de perguntas

Pergunto à terra se sabe de quem é este esqueleto que um dia carregou carne
Mas a terra nada diz...a terra come e cala...
Come-nos simplesmente..sem ligar a quem fomos
Alimenta-se de nós como as árvores se alimentam dela
Alimenta-nos em vivos,e,
Porque é apenas terra... não gosta de perguntas
Não lhe interessa o que fizemos
Não quer saber se fomos gente
A terra é tão natural como nós.
Que lhe interressa se fomos felizes ou miseráveis
Se fomos um fantasma macabro
Ou uma manhã de sol
Se vivemos angustiados dentro de um pesadelo
Ou rimos da inocência das crianças
Se existimos esgazeados pelo escuro
Ou se plantámos flores nos sentimentos
Se nos regámos com preocupações
Deixando-as crescer...infinitamente...até lhes perder o sentido...
Até nos perdermos... sem saber qual o nosso sentido!

O vento segredava como um colar de pérolas

Acho que um dia morri nas ondas suaves das tuas mãos
E a minha alma subiu à superfície da água pura do teu lago
Não senti dor...apenas harmonia
Os meus cabelos ondulavam sobre a água
Ignorando a existência dos apagados da vida
O lago tinha nenúfares...e sentimentos...e ervas mortas...
O sorriso corria em segredo no meu rosto
O vento segredava como um colar de pérolas
Harmonia...flores...sentimentos...
Depois ressuscitei …
E soube que não valia a pena perder tempo com amarguras!

O céu não acode aos aflitos!

Olho para o corpo do céu e empurro a minha alma contra ele
Toco com o dedo nas nuvens e nas estrelas...
Debruço o meu corpo para espreitar no mar o céu refletido...
E sinto um arrepio na minha face...
O mar tem olhos, boca, mãos...que também tocam no céu...
Ou serei eu a tocar no mar
E a ver a minha alma refletida nas nuvens mais longínquas?
Essas nuvens que têm raízes...
Que se enterram no mar...alimentando-se dele...
Como o céu se alimenta de nós...
Essas nuvens que morrem desfazendo-se em água...sobre a terra
E nós que morremos desfazendo-nos em vida...sobre nós...
Empurro para longe o meu olhar...a minha esperança...
Mas do longe nada vem...nada responde...
O céu não acode aos aflitos!

Precisa o homem dos milhões que não tem tempo para gastar? Ou precisa o homem de ter tempo para viver?

A sociedade virada apenas para a satisfação dos bens materiais, não contemplando o essência do Homem, estará um dia extinta? E o que aconteceria se todos fossemos livres? Se a Terra se tornasse o paraíso perdido? E se a sociedada da igualdade fosse imposta no mundo? E se o homem pudesse dedicar a sua vida a tarefas que o realizem? Não faz sentido que tendo nós todo o mundo, toda a natureza ao nosso dispôr, vivamos de costas voltadas para a felicidade. Imaginemos que todos trabalham para o bem comum, que todos têm o que necessitam para viver, que não é preciso acumular dinheiro nos bancos porque em caso de necessidade o essencial à sobrevivência está garantido, que todos trabalham mas que todos têm tempo para dedicar parte da sua vida a fazer o que desejarem, que o estado recebe e distribui garantindo em caso de necessidade o bem-estar de todos, que todos são na verdade iguais e recebem consoante as suas necessidades...A questão a colocar é: de quanto dinheiro precisa o homem para viver? Precisa o homem dos milhões que não tem tempo para gastar? Ou precisa o homem de ter tempo para viver?

Sei que escondo qualquer coisa...que desconheço...

Ignoro se existe uma ferida profunda no coração da Terra
Mas sei que existe um arrepio na alma da Terra
Sei que os pássaros voam refletidos na água
Onde apanham o peixe que os alimenta.
Sei que os dias contam segredos amargos
Sei que as gaivotas pairam ao vento
Sei que as flores têm sentimentos
E as crianças dentes de leite...e mel...
Sei que as rochas da costa esperam a primavera
E os segredos um lado bonito.
Sei que os meus maxilares gemeram...quando morreste...mãe...
E sei que a mandíbula da vida nos espreita.
Sei que me enrolo no vento...como uma trepadeira feliz...
Sei que o meu corpo é tocado pela hesitação...de te tocar...
Sei que me agarro ao impossível...acocorado e amargo...
E sei que escondo qualquer coisa...que desconheço

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