O mundo é azul e dourado
Para quem segue pelo passeio soalheiro da vida
Para quem segue uma vida ordeira
Para quem nunca experimentou a noite verdadeira
Para quem nunca se revoltou
Perante o Inferno sem fim do vazio.
Para quem segue numa penitente ignorância
Bocejando perante a realidade
Para quem não percebe que é um símio
Incorporado em homem.
Para quem a sordidez do momento final
Não passa de uma meta irreal
Para quem enjaulou a revolta
E vive sem prazer à procura do prazer
Para quem petrificou os pensamentos
Ignorando princípios e fins.
Para quem apitam os comboios
Numa manhã altiva e sorridente
Para quem jamais descobrirá
Que vive de pernas para o ar.
Trespassado pelo imenso vermelho escuro
De um Ser servidor e banal
Sem os seus próprios pensamentos
Sem a sua própria maneira de ser
Sem sequer fazer sombra no passeio
Que fóssil sorridente é este
Que vive no inferno sem se queimar?
E que quando a noite cai...deita-se sem saber...
que tem um longo caminho a percorrer
para se tornar Homem!

Os peixes não têm pátria, vivem em todo o oceano, alguns desovam nos rios e voltam ao mar, outros encontram aí a derradeira viagem, mas são livres de ir para onde querem. Eis o retrato dos irracionais peixes que são mais livres que os homens...

Ondulando num tempo vazio e sem atmosfera
Interrogo a sombra que me persegue
Quem és?
A sombra que se estende aos meus pés
Aumentando o tamanho do meu corpo
Respondeu-me sorridente:
Sou a tua foto ...cinzenta... da criança...
Que foi crescendo com os anos...na calçada de pedra ...
E que se estende como um caminho  sem fim...
Para a noite piedosa
Que te alcançará no crepúsculo...

Um nevoeiro baço e espesso alimenta os meus dias
Passo pelas coisas e pelas pessoas sem as ver
Sou intangível...
Sou como uma estátua que tudo observa
Mas que se retirou para o interior gelado da pedra esculpida.