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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Deslizamos subtilmente pela superfície dos dias

Deslizamos subtilmente pela superfície dos dias
Como centopeias... gostávamos de ter cem patas...
Mas não somos centopeias...
Temos dois braços e duas pernas
Mas como centopeias deslizamos sem deixar marca
E fechámos as ideias num horário
Esquecendo que havia um intervalo para pensar
E..imprevistos seguimos...de consciência vazia...
Somos inconsciências vazias...
Vivendo no vazio dos dias...desfeitos....segmentados...
Desfeitos em bocadinhos...
Um bocadinho de paz aqui...
Um bocadinho de amor ali...
Sem atitude nem reflexão...
Seguimos com pressa...sempre mais depressa...
Porque nos esquecemos onde fica a meta...
Essa meta que reside no esquecimento trivial
Da incapacidade para descobrir...
O nosso próprio vazio!

Os remorsos não devem ocupar espaço!

Ah! não esperes por mim para te arrancar um grito...ou um espanto...
Não acendas velas...quando eu chegar...
Porque eu chegarei apagado
Serei uma penumbra que entra no teu quarto
Serei a noite que se entrega por um instante na escuridão
Serei uma portada nocturna...um eremita pecador...
Não volto a esta casa...
Onde os sonhos se despem em realidade
Onde os pensamentos distraídos vagueiam em longas horas
Onde os instantes são inúteis mordaças
Onde os abraços são silêncios...
Não te iludas com falsos tormentos
Não te prendas a ilusórios rancores...fanáticos apelos sem sentido...
Tudo é tão natural...
Que até os remorsos não devem ocupar espaço!

Pode um diferente tipo de educação das crianças gerar um mundo melhor?

Pode um diferente tipo de educação das crianças gerar um mundo melhor? Acredito que sim, acredito que somos vítimas em adultos do ensino que nos foi ministrado. Imaginemos que desde a escola primária eram profundamente inculcados nas crianças o sentido da paz, será que um dia quando essas crianças chegassem ao governo iriam fazer a guerra? Imaginemos que em todo o mundo só se ensinava os benefícios da  paz, alguém faria a guerra ? Imaginemos que em todo o mundo se estudava e mostrava os horrores da guerra, essas crianças em adultos iriam fazer a guerra? Na verdade a sociedade é vítima de si, somos vítimas de nós porque deseducamos, porque instilamos nos futuros adultos os valores dos adultos, na escola ensina-se a competição sem regras em vez de se ensinar a paz sem restrições. Os professores transformaram-se em burocratas que debitam programas desfasados da realidade, são como qualquer funcionário que preenche formulários.

Do fundo do peito saem notas musicais

Do fundo do nosso peito saem notas musicais
E os nossos olhos entoam...lentas músicas que excitam
Os sentimentos vincados pelo abraço.
Pausas na vida...lento cambalear...
O refrão não muda...os lábios roxos também não
As bocas tremem...puxamos para cima os lábios arrepiados...
Para que não desmaiem sobre o nosso queixo enrugado
Soltamo-nos...estabelecemos metas...
Mas não passamos de pedintes...
Temos os sapatos da alma rotos
Doem-nos os sentidos mordidos pelos espinhos
Temos rasgada a camisa dos sentimentos
Quando nem uma nota alegre...
Sabemos ir buscar ao fundo de nós
Olhamos a rua com força
Puxamos o mundo com os braços
Somos como escravos romanos...
Que importa....que importa...
Nós vamo-nos buscar onde quer que estejamos
Nós lenta e pesadamente restabelecemo-nos da ausência
E cantamos...cantamos...cantamos...
Porque se perguntarmos onde está o mundo que carregamos
Esse enorme mundo...esse enorme peso...
É uma pena invisível...
Que os nossos lábios beijam....

Apanho as minha cinzas à quarta feira

Jejuo à sexta-feira e...
À quarta-feira apanho as minhas cinzas
Não me perco em jardins floridos e agrestes
Onde as pessoas se dissolvem na sua acidez
Mas ...levo as minhas cinzas pela mão a passear
Como se elas fossem eu e eu elas
Mas não somos iguais...elas são cinzas...


Sentimentos...sentidos...chão...
Eu...sou apenas o resto de mim que deu à costa...
Fazendo sinais às cinzas para que não me esqueçam...

Pela a madrugada os homens do lixo recolhem os restos da noite

Pela  madrugada os homens do lixo recolhem os restos da noite
Nessa noite onde terrores sinistros desceram pelas gargantas
E as garrafas de vinho..paranóicas...despidas por dentro
São auroras escuras, que gestos exteriores despejaram
Não se arrependem da inutilidade
Não ostentam sinais interiores de dor
O luto e a alegria vive dentro delas
As gargantas que despejaram as garrafas
Procuram alguém com quem falar
As mãos que lhes pegaram...
Procuram alguém em quem tocar...
E perguntam de que valem os discursos, os livros,
Os poemas, as carreiras bem sucedidas...
Não vale a pena perguntar, tudo é um fogo fátuo
A vida vive-se...o dia conquista-se...
O nosso retrato esbate-se...dilui-se
De nada vale questionar os Deuses...
Os Deuses estão adormecidos...sonham com homens...
Revolvem-se na cama e olham para o lado...não têm insónias...
Insaciáveis...
E todos nos calamos...
O silêncio é sinistro...e belo
A vida é sinistra...e bela...
Os homens são sinistros...e belos...
Sobrevivem às pragas de gafanhotos
Que todos os dias descem sobre ele
Anónimos... enrolam-se na noite enevoada
Dormentes... ouvem as gargalhadas do Mito...
À socapa imaginam o Céu...
Os beirais das casas estão sujos
As porcarias da vida são sopradas pelo vento..
Pressentimentos...pressentimentos...
Os pressentimentos que escorrem pela aurora
São como espectros agitados e anónimos
Roçando a nossa vida..roçando-se em nós...desencantados
Vêm ao nosso encontro...como qualquer papel sujo...trazido pelo vento...
Transidos de medo...
Trazem consigo a falta de sentido da viagem...
Porque o sentido da viagem....
Está apenas...e simplesmente...em viajar!