Habito os lugares que o inverno purificou
Não sou o tédio faustoso que soçobra
Nem os desgostos me cortam a orelha
(chegou-me o sofrimento de van Gogh)
Porque foi a minha orelha que ele cortou
E foi a sua orelha o meu sofrimento...
Agora...
Habito os lugares que o inverno purificou
E... não vivo em êxtase coralino, mas... afeiçoei-me ao inverno...
Gosto do imprevisto que especado atrás do tempo..me espreita
Mas sou um egoísta do silêncio...
O vinho é a minha delícia...o céu escuro o meu porvir...
As raivas surdas ou de ouvido atento...já as escorracei...calmamente
Não preciso mais que este corpo maduro...se purifique...
Não vivo enleado na borbulhante comédia
Recosto-me na minha cama antiga e...rio-me das superstições
Gosto das tempestades e da redenção..do sopro...
Gosto da perfeição do espírito e do desprendimento gracioso...dos surdos...
Gosto das formas estilhaçadas de Picasso
E do surrealismo louco e raivoso de Dali...que crucificou Cristo..
E fez das horas relógios moles...
Quem descerá do Céu? A idade?
Quem acalmará as mulheres? A alegria?
E o meu corpo que terra fecundará?