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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

O espaço encontra eco no silêncio

As montanhas esvaziaram-se em pedaços
E os ruídos fugiram pelo espaço adentro
Os choros ecoaram pelos cantos...acordaram antepassados...
Mas foram os cantos que secaram os choros.
Enquanto a nossa infância procurava sem esforço..a alegria
A nossa alegria procura alguém real
E os enganos procuram palavras simples
Sopradas pelos ventos azuis do Sul
Onde a raiz das coisas cresce dentro de nós... inóspita e solitária...
O mar distante balança movimentos anónimos
O espaço encontra eco no silêncio
Porque a realidade reside perplexa na morte.
O nosso território alarga-se...
Como um peito a ansiar grandeza...para prolongar o nosso coração...
Que afinal...só anseia por um pequeno ancoradouro
Ou por uma enseada solitária e anónima
Onde o inóspito frutifique e nós!

A humanidade desloca-se simplesmente...

Como um gatuno orgulhoso da sua obra
Depois de ter largado a infância espantada
Deitei-me nos suspiros... espessos...como um desonrado...
Trouxe a ignorância pela mão...e o meu desprezo pela claridade...
Acompanha-me o espírito dos mártires...
E a força escondida nos pântanos
Disse-me para escolher as carícias...e sonhar com paraísos
Porque a humanidade é mendiga do saber
E o desconhecido ..é mendigo que voga em ignorância
Eu...desloco-me com a Terra...não me interessa a sua idade..
A humanidade... desloca-se simplesmente...

Os sentimentos não têm tamanho

Levantei-me cedo e entrei na espessa manhã brumosa
Nada me segue...nem a minha sombra...
Saboreio esta liberdade e sento-me no paredão junto ao rio
Procuro encontrar-me nos olhos dos que por ali pescam
Mas...nada...silêncio..sou invisível...
Dedico o meu desprezo pelo frio...à divagação
Penso no universo...nos sentimentos...na matemática...
A matemática ...sóbria ...explica-me que é do tamanho do Universo...
Que não tem tamanho...
Mas que também é... do tamanho dos sentimentos...
Que também não têm tamanho...
Assim podemos estender sentimentos...
Como quem estende uma passadeira vermelha
Que todos podem pisar...milhões e milhões a podem pisar...
Podemos pôr a secar em todos os estendais
Sentimentos molhados pelas lágrimas...
Podemos colar sentimentos no lugar das folhas caídas das árvores...
E esperar a sua floração na Primavera...
Podemos abrir a estrada em sentido inverso
E mendigar na infância os sentimentos esquecidos
Ah! Parasitas de carícias que são os sentimentos
Que dão razão aos suspiros e espantam os trouxas
Que acordam os intratáveis e os delicados
Que detestam os inconvenientes e os sóbrios joviais
Que alteram a luz e o movimento
Que suspiram pelos mártires...e extinguem o suplício da pureza
Porque eles são audazes e nunca se dão por vencidos...

Que a poesia arda e as suas cinzas contaminem os cérebros imperfeitos

Benditos todos nós que cá estamos...
Mas... quem pode dizer que cá estivemos?
Quando os nossos fantasmas que passaram pela sede,
Se cobrirem de hinos celestiais...ardentes...
Quando formos chamados à Pena Capital
Para suavemente cumprirmos o nosso Baptismo
Como duendes esquisitos beberemos a nossa poção de veneno
Deliciados de ambições e mutilações
Invocaremos as chamas e as criaturas convertidas...
Invocaremos três vezes a desfiguração das visões apocalípticas
Invocaremos magias...perfumes...pombas...
Invocaremos a falta de paz e quem a faz
Invocaremos as conversões ás delícias e à vergonha.
Que as leis humanas esconjurem os firmes
E o luar...e os algozes...e os falsos justos...
Que o ignóbil discernimento se pareça com uma adorável ninfa
Que a Verdade se materialize no vácuo
Que os idiotas se chamusquem juntamente com os poetas
Que a poesia arda e as suas cinzas contaminem os cérebros imperfeitos
Que a peçonha passional engula o seu veneno,
Que o fogo...o infortúnio...o inferno...
Sejam ambições cobertas de razão...
E que sejamos perfeitos e pagãos...
Sem causas espirituais...sem forças contrárias...
Sem sufocos... nem gritos que venham do fundo da vergonha
Porque a vida ainda pulsa na perfeição das pedras...
E da chuva...e nos relógios das torres sineiras...
E na pele escamada da cobra...
E nos beijos ardentes...e nas astúcias...
E nos braços de Hércules...
Que suportam as nossas colunas demoníacas...

Por favor...dêem-me verdade!

Tragam-me o cilício para me mortificar
Calcem-me botas cardadas para me pontapear
Mas afastem de mim a banalidade
Tragam-me os Stones numa bandeja de prata
Sirvam-me Waitz em cálices de cristal...para eu sorver de madrugada
Esfreguem em mim jazz e blues...e tudo o que seja negro..até a magia..
Mas afastem de mim a banalidade...
Ai Luís Pacheco! Que vida...
Furem-me as costelas e as orelhas
Deixem-me espirrar sangue pelas ruas...
Acendam a luz da minha infâmia...
Mas afastem de mim a banalidade...
Quero Thoreau na minha mão
Quero reinventar a simplicidade...
E por isso...tal como ele queria...
Mais que amor...fama...dinheiro...
Por favor...dêem-me  verdade!