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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A estupidez …

A estupidez …
Essa flor que ilumina os pântanos
Como se fossem jardins de prazer
A estupidez …
Que escurece a alma e a transtorna...como um passaporte falsificado
Que emite sons estropiados de sentido
Que ecoam perenes na vasta selva vazia de vida.
A estupidez..
Loba avara da razão...garganta incoerente
Vazio rodopiante dos olhos e... dos filhos
Espaço de tempo desesperado...que as mãos não tocam
Que os sentidos não vêem...que o calor não aquece...
A estupidez …
Desperdício...desespero...habituação..
Espaço penoso dominado por silenciosas actividades de espíritos retardados....
Atoleiro onde o homem ganha as suas quatro patas
A estupidez …A estupidez …A estupidez …
Porque existes?

É vasta a planície onde a alvura silenciosa ascende

Quando a noite cai...e as cabras sossegam nos currais
Ouve-se na noite... o som de um violino rasgado de estertores
Acendem-se estrelas na mágoa...e a alma faz movimentos vagos e trémulos...
Como um papagaio de papel... respondendo à chamada da distância.
É vasta a planície onde a alvura silenciosa ascende
E onde a solidão é um espaço imenso...fechado...inscrito na mudez do verde
Giestas amarelas e cintilantes escutam as aves nocturnas...que soluçam...
E o chamamento é como uma voz...arruinada e profunda...rasgada... ao meio...
Mãos trémulas desenham caprichosas formas...marmóreas...polidas...
E a noite é um território desocupado e cruel...
Onde cada estrela está presa... na raiz do homem!

Vivemos certamente em muitos lábios

Vivemos certamente em muitos lábios
Somos palavras que rasgaram peitos...sem descanso...
Dormimos em corações...como dias serenos
E disfarçámo-nos de danças e risos...fechados sobre nós...
Somos deserdados de um tempo profundo e distante
Pesados...adversos aos degraus caprichosos...
Gastos por passos rasgados...chamas que não encontram saída...
Esquecidos por um tempo que se alimenta de nós...e nos alimenta...
E... porque só sabemos uma ínfima parte da nossa história
Temos os lábios secos...como um coração escuro...
E o calor que sai das nossas bocas...
Embacia as palavras que não temos coragem de dizer...
Silenciosamente ...na escuridão...aprendemos o tempo da ruína...
O tempo que martela na nossa bigorna...amolgando-nos...
Moldando-nos...aproveitando o tempo em que somos brasa...
Até nos retirar da boca...o último sopro...

Amanhecia...e vi a luz correr aflita em contramão

Na hora mais nocturna...soturna...algures num magnífico areal...
Juntei todo o espaço sem esforço...
Garças negras esvoaçavam...enganadas pelas marés do temporal.
E ofuscadas pelo sal que escorria....das falésias caprichosas ...
Pediram-me para me juntar aos seus ecos e à grandeza dos maiores...prantos...
Então... fiz música da realidade anónima...discorri sobre os enganos...
Achei reais os sustos e o futuro...jantei algas daninhas...
Sorvi o cálice embaraçado...mudo... por aquele momento
Da harmonia fiz consolo e da simplicidade grandeza
O sangue antigo disse-me que queria ver ao longe...a vida perplexa
As nuvens entraram em mim como um futuro inexplicável
Desapareci...rodando naquele eixo...perto da vida...
Eu era canto...banco...janela...luz e sombra...sobras de reclusão
Quis mostrar o meu cérebro inventado...infinito...fixo como um olhar...
Quis sobrevoar a serenidade...a solidão...e todos os pontos cardeais
Pousei o meu corpo na monotonia...sagaz...como um dia sereno...
Despi as mentiras que me cobriam...inventei a verdade...
Andei de trás para diante...como uma alma em desassossego
Convalesci pacientemente da indignidade...alarguei o meu território...
Aprendi que o tempo é longo...e o amor...duas solidões...
Amanhecia...e vi a luz correr aflita em contramão
Vinha cariada...preocupada....tinha perdido um raiozinho pelo caminho
Ele...tinha desaparecido nas sombras da montanha...levado por ventos
Juntei-me a ela...e fomos procurá-lo..

E eu seria um respeitável maníaco rondando o paraíso.

Tivesse eu despido esta infância a tempo
Tivesse eu arrancado esta pele rugosa
Tivesse eu caminhado como um imbecil...ligeiro...
Tivesse eu mutilado o respeito e as regras
Tivesse eu concedido paz à minha alma....
E os meus dias seriam agora diáfanos e aprazíveis
A hora da dor nunca soaria
E eu seria um respeitável maníaco rondando o paraíso.