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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Olhem o Inverno...como uma fogueira gelada...

Venham ao meu antro seus demónios...seus lobos de estepe...
Seus perdidos...incivilizados...estranhos...
Habituem-se ao desespero...eduquem a neve e o gelo
Vivam no atoleiro...arrastem a vossa cauda escondida...
Olhem o Inverno...como uma fogueira gelada...
Bebam zimbro em cabaças...calem os trovões...
Cortem o vosso cordão umbilical..que os liga às boas acções...
Sejam silenciosos...insinuantes...tentadores...
Mas não deixem sinais de vós...saiam de gatas...
Como sai o inverno para a primavera...sejam primavera...
Sejam mesmo a aurora esplendorosa...o espanto..a existência...
Na verdade... vós sois os meses..os séculos..os sentidos desfolhados
Sois o começo da tempestade...o alerta...o cair da folha inocente...
Sois simples almas...ogivais...risonhas...afogadas...
Mas ternas e frias como a palidez...

Amo o meu corpo como um dia quente...

Danço comprimido e gelado pelas naturezas mortas
Danço como um animal embaraçado...não abdico da fatalidade
Mas.. danço...energicamente como um espírito aflito
Encomendo o meu retrato..ascético...nauseabundo...
Com o gozo desprezivo da forma e da beleza...a quem atiro flechas...
E a quem manifesto a minha liberdade e a minha alegria...miserável..
E...perante o céu brutal...pintado com tintas de túmulo...
Amo o meu corpo como um dia quente...
Pressionando a minha deselegância nua...
Contra o desespero educado do Ocidente...

Segredo ao vento noites de doçura...

Segredo ao vento noites de doçura...
Erguendo-me como um som profundo...vindo do coração
Um som que me assedia os dias...e te oferece a tentação
Como um raio de luz secreta que acende as minhas noites vastas
E se derrama no espaço...como cinza ardida antes do tempo...
Porque não encontro os lugares secretos... nem quentes...
Onde a minha voz te sussurre coisas proibidas...

Coloquei uma vela branca sobre o meu corpo

Coloquei uma vela branca sobre o meu corpo
E vou boiando à janela desse barco que sou eu
Navego sobre os sobressaltos e as serras...o ar puro invade-me
E salto sobre fogueiras...que espicaço com as minhas esporas
Tenho a chave giratória... do meu paraíso...
Acompanha-me o brilho da minha cidade...interior...chego-me ao rio e...
Sorvo os soluços das gaivotas...que transformo em damas brilhantes...ofuscantes...
Ergo a Vida pelos colarinhos e segredo-lhe palavras de Amor...
Expludo em curiosidade pelos maquinismos que nos regem
E desdobro-me em brilhos rosáceos...
Como uma criança leve...inocente...que se pareceu comigo...
Mas que habita noutra penumbra...

Tintim por tintim...como o Hergé!

Coloquei a pedagogia no divã...abri a janela...respirou fundo...
Perguntei-lhe pelo seu significado
Disse-me que não percebia nada do assunto
E... se queria salvar a sua alma que fosse falar com um teólogo...dos mais ortodoxos
Porque são eles que conhecem tudo o que avaria a cabeça dos homens
Ou então com os Humanistas...esses parvos...
Que acham que os homens valem mais que o dinheiro...
Ou então com os Realistas..outros como os outros...
Que pensam que a verdade é uma crença...e a crença uma verdade...
Ou com o Rei...que vive em Sintra e conhece toda a Real pedagogia das.. Reais Famílias
Mas...disse eu...o que eu queria era que me mostrasse o seu espírito...
Galantemente respondeu-me que não tinha os termos próprios...
Que vivia algures... misturada com a ciência e a arte...
E que as faculdades tenham perdido o interesse nela...
Olhou-me para verificar se me envergonhara...
Improvisei...voltei as costas e...de repente...
Entreguei-lhe uma bandeja de prata para que vomitasse tudo...
Tintim por tintim...como o Hergé!

Como um rumor cintilante na solidão...

Pinto o teu quadro com tintas atrevidas
Como se fosses um glaciar azul...escondendo um vulcão
Pinto-te como um véu que descobre a raiva que disfarça... o desgosto
Pinto-te a quereres aparentar uma força...que tens...
Mas...que temes que os outros despontem...
Pinto-te como um aviso de cascavel...que não morde...
Mordendo o desespero..de ter que morder...
Contraditória e frívola...és uma tinta que demora a secar...
Perigosa...és forte e medrosa...
Como um rumor cintilante na solidão...

Para quem soariam os sinos?

Se não possuíssemos corpo... e a nossa alma vagasse eternamente
Como seriam os prazeres...as formas...a beleza...
Pois...a beleza...onde estaria ela?
E a liberdade...a alegria...e os meses?
Como se rebelaria o espírito...perante a falta de prazer?
Para quem soariam os sinos?
Que peso teriam os sabores amargos?
Cobrir-se-ia a terra de florestas selvagens?
E sobre quem atirariam os céus os seus raios certeiros ?
Quem faria a música... onde se sentariam os bancos de jardim?
Quem veria envelhecer as pedras?
Quem premiria o botão atómico da combustão do espírito?
E a miserável fatalidade dos corpos incandescentes
Não mais teria o cheiro nauseabundo da decomposição?
Ai de ti...desespero do Ocidente...das caves...da aguardente...
Do túmulo brutal afogado na lezíria verde...onde os dias despontam...
Infinitos...

É preciso que as mulheres acendam o seu brilho.

Passei na rua e vi uma mulher desfeita em lágrimas
Eram...lágrimas de mulher..daquelas que só elas sabem chorar
Lágrimas sentidas...profundas...intactas...
Lágrimas que o céu não cura...que os beijos não tocam...
Lágrimas de carícias... açoitadas por carrascos
Fecho os olhos...tremem-me os braços....
Aquela visão deixou-me impotente e opaco...sem matéria
Esvoacei sobre a crueldade que a deixou desamparada...
Quis abraçá-la...libertar a sua consciência asfixiada...abri-la ao sol...
É preciso que as mulheres acendam o seu brilho...abertamente
Que iluminem as suas escuridades....
Que o tempo perdido e intoxicado pela lividez...seja trocado...sem medos...
Pela luminosidade inflamada da sua libertação...