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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como um pêndulo....gasto pelo pó da vida!

Escorre a água na bica...suavemente...
Um banco de pedra assiste...tronco deitado sobre quatro pés...
E jorram acordes dessa água...como notas de piano
Pequenas gotas saltam... incólumes.. do volume contínuo...que arrasta a transparência.
Profundamente ensimesmado...encostado a si...
Um homem dedilha a vida...e oscila o pescoço...
Para trás e para a frente....como um pêndulo....gasto pelo pó da vida!

Como anjos inacabados....

Impaciente e austero arrasto-me pela terra negra
Como as folhas sem Outono ...sussurrantes e melancólicas....
O vento leva-me...para onde os homens não vão
E o meu olhar... como uma lamparina esvoaçando pela noite...alumiando-a
Cresce sobre a terra como um grito pesado...
Ou como um arbusto perdido na multidão ...
E eu...que sou o coveiro sepultado por Deus
Que sou a enxada nas asas de um pássaro
Que sou uma flor bravia...como uma alma a correr pelo céu
Sei que a terra é o ninho que nos acolhe...
E que todos estamos cheios de céu...
Que todos estamos fartos desse imenso sepulcro...onde Deus vive...
E...na terra onde as cruzes são feitas de lírios roxos e de chagas... do Homem...
Embalamos sementes de crianças como futuros sem nexo...
que depois erguemos...como troféus...ou como flores profanadas...
Através desses abismos escuros...que não suportam o peso da noite.
E se afastam de asas estendidas....como anjos inacabados....

Como se admirassem uma orgia de pedras preciosas!

Percorremos noites...somos fogos... corpos...santos
Esmagamos os dias...fracos...laboriosos...
Cavalgamos os gelos e os olhos vagos...
Percorremos lugares sem honra nem glória...
Somos cavalos desferrados...consumindo os nossos cascos...no saibro da fatalidade...
Que desçam do espaço os caminhos do sol
Que se ergam as terras e as cidades...e os peitos de gelo...
Que se santifiquem os abraços que nos apertam até à morte
Degolados de prazer dorido...despidos...acesos...santos...
Rolemos na loucura...vermelha...negra...como cadáveres petrificados...
Que a manhã não seja apenas luz...nem a nossa voz abrace o céu...
Que a música floresça nas ruas escuras...e a sorte grite nas florestas...desertas...
Para onde iremos descansar o nosso passo trôpego e desumano?
Quem matará a memória dos lugares que percorremos?
Quem serão aqueles por quem passámos... e não nos viram...
Mas... que comeram ao nosso lado...as chamas e o fumo...
E que espelhos gritarão que viram tesouros...
Nos olhares reflectidos nos relâmpagos faiscantes da nossa vontade...
Como se admirassem uma orgia de pedras preciosas!

Os peditórios...e o trauma da minha vida...

Nesta quadra pré natalícia a qualquer lado onde se vai lá estão umas senhoras com uma bancazinha a impingir pinchavelhos para ajudar as mais obscuras entidades...não tenho nada contra isso...nem a favor, mas...irrita-me o olhar que transparece delas quando digo que não dou...é um olhar que diz que um tipo tem o coração mais empedernido do mundo...e vem-me sempre à memória uma história que se passou comigo à mais de trinta anos. Nessa altura tinha eu cerca de dezoito anos e vivia numa cidade onde havia o mercado municipal, às sextas de manhã era um dos dias de maior movimento e iam para a entrada do mercado umas prostitutas,( eram mesmo mulheres da vida), fazer um part time que consistia em pregar na lapela das velhotas( à má fila) um Cristo pendurado numa fitinha de cetim que por sua vez atava um alfinete, e também vendiam uns panfletos com a senhora de Fátima na frente e uma oração atrás, e diziam que era para ajudar crianças. Quando as idosas se negavam a dar dinheiro as tipas insultavam-nas. Certo dia,(eu já tinha assistido àquela cena mais vezes), resolvi ir dar uma de moralista, fui falar com elas e disse-lhes que estava mal insultarem as pessoas, e só dava quem queria...elas riram-se e disseram-me: - já que és um rapaz tão simpático e educado não queres comprar um Cristo? Olha até te oferecemos a Senhora de Fátima..eu disse que não e elas responderam : -e se fosses para o c..........lhinho., não ganhavas mais? e foi assim que fiquei com um trauma para a vida.....

Gosto de saber onde o meu dinheiro é gasto

Hoje é dia de ajudar o Banco Alimentar, eu já fiz a minha parte, aliás para além deste só contribuo para a Liga P. Contra o Cancro e para a CERCI...isto como entidades institucionais...mas o que me dá mesmo prazer é dar dinheiro aos vadios, bêbados e drogados..tenho uma espécie de afinidade com eles, chego mesmo a ir ao seu encontro e a dar-lhes sem me pedirem...gosto deles...e quando me dizem que não lhes devia dar dinheiro porque vão gastá-lo em álcool ou droga...eu respondo que lhes dou precisamente por isso...porque tenho gosto em saber onde o meu dinheiro é gasto....


Termino com umas palavras de Teixeira de Pascoaes:
Vês aquele velho mendigo,
esfarrapado e faminto, de porta em porta?
Repara nele; é Jesus Cristo!
Mas o pobre não sabe quem é.


E acreditem... é preciso coragem para se ser um imitador de Cristo....