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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como um diamante ardente!

Nasci de um dia longo...junto à base do arco-íris
Acreditei nas cores..no sono ...e nos cantares...
Acreditei na fraqueza...no mar...e num mundo ilimitado...
Sem confins nem perigos...
Fui um anjo perseguido por uma matilha de cães...
Um nómada que se esqueceu da viagem...
Um fantasma débil...um espinho...uma mente...sombria...
Fui pajem de cortes fictícias...com pinturas venturosas
Sonhei com viagens...e revoluções de verbos esmagados...
Dissipei os meus remorsos...cantei com os galos...
Fui um verme abraçado a uma história de amor...desmedida...
Rebolei-me nos espinhos...e consolei-me com as dores das vogais trituradas...
Fatalmente cruzei a luz natural...e vi um alquimista no fundo de um lago.
Onde sobriamente conduzia o seu coche em direcção ao céu.
Fui sombrio...nas ruas da cidade apagada...
Fui inacessível...como uma religião desconhecida..
Habituei-me à febre...às larvas...a todos os sofismas...
Fiz crónicas inflamadas em salões sem história
Forneci corpos à alucinação...e santos às mesquitas...
Movi os continentes ao som de tambores...inventei magias...
Sacralizei a alucinação do espírito...e a desordem das consoantes...
E acabei queimado numa ruela fétida...
Como um diamante ardente!

Tragam-me depressa a seiva que desponta nos orvalhos

Tragam-me depressa a seiva que desponta nos orvalhos
Preciso bebê-la... de olhos pousados sobre a felicidade
Preciso inocular argila...febre...romance …
Quero sorver larvas nos salões oxidados por canhões de fogo
Pousar nos limbos onde as gargantas explodem em risos
Oferecer ao sol um sacrifício burlesco embalado em poeira ardente
Quero enviar uma mensagem ao mundo...como se fosse um general ébrio
Quero ser a centelha desvanecida que cai da razão
Eufórico irei espalhar a notícia...pelas tascas agrestes e reles..
Pelas cidades negras e azuis
Pelos raios de sol espelhados em rubis
Pelas planícies onde se desfazem as marés vazias
Por todos os lados...por todos os sítios...a todas as horas...
Tirarei o chapéu...descobrirei a cabeça ao vento e...para minha grande ventura...
Deporei a minha urina sobre todos os tesouros!

Ergo a taça ancestral da doçura

Quando me sento perante as pálpebras louras do silêncio
Parece-me que vejo um estremecer melancólico
Que me chama como se fosse um sol sem tronco
E que faz do meu olhar correrem águas que saltitam pelas pedras...como chuva...
Como se nunca tivessem visto um coração virgem de angústias
Nem as garças tristes que me pousam nos braços
Com os quais ergo a taça ancestral da doçura
Que perante os meus olhos se inflama de rubores...clamando pelas...
Amorosas violetas que escorrem pela espuma altiva... que passa em frente
E que sussurra à vida alegres queixumes
Gesticulantes... como luvas brancas caídas de mãos decepadas...
Lá fora a ramaria abandona o claro dia que escurece
E foge para ir alegrar as nuvens perdidas nos desertos
Enquanto calmamente os corpos abrem brechas róseas
De onde saem místicos clarões murchos...
Convido as gerberas claras para enfeitar o meu jantar
E para podermos conversar sobre as grinaldas que florescem na sombra
Dos últimos raios de sol que pousaram na balaustrada!

Que sei eu de sorrisos...

Ata o teu coração a um papagaio de papel...
Para que eu possa ver ao longe a tua sombra..o teu olhar...a tua mão...
Para que eu veja em ti...todas as coisas...distintamente...
Para que eu mergulhe nesse céu...onde tu és a bóia flutuante..
Que me envia sinais...e...risos inacabados...porque solitários...
Porque o riso..esse esgar que a alma envia para a face...
Só se completa....junto a outro sorriso...
E essoutro sorriso é o código da tua porta....fechada....? Entreaberta...?
Que sei eu de sorrisos...de rostos...de sinais...de alertas? Nada!
Sou um crepúsculo estreito...num largo horizonte florido...
Sou a chuva ululante sobre a calçada...um crente que profana a imaginação...
Porque invento o teu rosto... como se inventasse uma música suave...
Tenho os olhos pálidos...de estarem sempre alerta...como se olhasse um jardim...
E tenho o corpo morno...porque o sol não aquece a janela onde te invento...
Nessa janela onde prostrado...olho o fim das tardes....
E me transformo em nuvem solitária...
Imaginando... que afectuosas asas me podem elevar..do silêncio...
Para o cimo do mastro real...de onde te possa enviar um sinal...
De fogo?

Um cântico distante...


Somos ânsia e impaciência...desmesurados e súbitos...
Somos corpos feitos de poeira..mas...subimos rochedos...
Procurando alimentar a alma com contentamentos...
Porque a vida...altiva...florida...severa...
Beija-nos as mãos escassas...feitas de aço e surpresas...
Ligam-nos a ela pequenos filamentos que nos roçam as sombras...sorrateiramente
Por vezes...com passos rápidos...a vaidade entra em nós...
Fazendo-nos esquecer..que a vida...é uma tela que não vemos
Uma tinta incolor...uma pedra...que mal seja tocada pelo nosso dedo...
Se desfaz em pó...como se fosse um cântico distante...

Não sou amor,mas...amo!

Não sou poeta, mas...tenho alma de poeta! Não sou fado,mas...tenho alma de fadista! Não sou jazz, mas...tenho o swing na alma! Não sou amor,mas...amo! Por isso deixei de me ralar com o que sou, e passei  a crer só no que sinto!!

Por vezes somos tão...parvos

Em tempos fiz voluntariado numa instituição que recebia crianças em risco, mas só até aos dez anos, no entanto vivia lá o A.. que era um rapaz de origem cabo cabo-verdiana que já tinha treze anos, mas como toda a gente gostava dele e ele estava para adopção, deixaram-no  ficar. Ele vivia com uma pequena(grande) tristeza, porque tinha lá estado uma menina da idade dele que tinha sido adoptada e ele ficou, no entanto garantia-me que um dia alguém havia de ficar com ele. Eu... por motivos que agora não interessam, tive que parar com o voluntariado e não tive coragem de me despedir dos miúdos, mas...aquele rapaz ficou na minha cabeça, e muitas vezes dei comigo a pensar se já teria sido adoptado, mas nunca mais soube dele.
Passados cerca de dois anos fiz amizade com uma pessoa moçambicana de origem goesa, e que tinha uma cor de pele linda e bastante escura( isto vai interessar para a história), um dia por casualidade falou-se nessa instituição e ela disse-me que tinha uma amiga que tinha adoptado um miúdo de lá, perguntei-lhe se sabia o nome e ela disse-me que se chamava A..., não quis acreditar, o destino passados dois anos vem dar-me a resposta à questão que eu tantas vezes pusera, ( esta foi a coincidência) agora vamos à lição: eu...para confirmar mesmo que era o A...perguntei-lhe se ele era de cor e ela respondeu: - não digas de cor, afinal... o que é uma pessoa de cor? O que é que significa uma pessoa de cor? De cor somos todos nós, tu és branco, eu sou preta, ou se quiseres africana, mas de cor não...de facto por vezes utilizamos expressões que não dizem nada e nem sequer paramos um pouco a pensar para as analisar...se nos queremos referir a uma pessoa da china dizemos que é um chinês ou asiático, ou sul-americano, ou indiano, porque carga de estupidez chamamos pessoas de cor aos africanos? Claro que ela sabia que era por ignorância que eu tinha dito aquilo...