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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Depois de comidas as amoras...

Era uma bruma de esperas ...um silêncio de coisa
Uma melodia arrastada...um coaxar de rã
Era um ar a passar...ligeiro...por entre as folhas soltas do livro
Era um ai....um silvo...uma vingança...sórdida...
Nada me foi dado...em tudo fui um salteador
Porque sabia que vinham aí os palácios onde os amores se crucificam...
E que no silêncio branco...brutal...ácido...
As sombras invejavam os danados...
Pestilentos ais de sangue..duro...escorrido...
Apagavam as visões cobertas de vergonha
Era o fogo pregador do castigo...que cansado...vinha dormir na espuma
Há que manter o passo...travar a batalha...
Brutalizar a brisa....despir os sem-vergonha...
Pô-los ali...nus...carregados de silvas...
Depois de comidas as amoras...
Que verdade existe num corpo?
Que som tem o riso do inferno?
Que prazer têm os velhos?
Ah mãos amigas que me tocam
Ah vergonhas escondidas na aurora
Um dia seremos cidades...rigorosas e plenas...
Um dia veremos a claridade da paciência
Arderemos num inferno de mulheres-anjo
Hipócritas os que afirmam saber verdade
Hipócritas os que dizem conhecer o Inverno Divino
Hipócritas os que dizem que os galos não acordam os dias
Onde eu me agarro-me a esse brumoso céu...
Em que a nossa barca vagueia sem destino!

Apesar de tudo as crianças festejavam!

A golpes de machado desfiz a pedra onde estava encerrada a minha alma
E descobri que a altura do mundo desliza em plano inclinado
Porque está sentado numa almofadas feitas de nuvens e estrelas
E é suportado por troncos de espuma branca.
Nos picos das montanhas... revestidas com um brilho gelado
Luminosas salas que dão para o Outono
Esperam em fila os seus clientes de olhos translúcidos
Vales de esperança regozijam-se com a chegada dos cavalos ao pasto
E o Inverno ficava com dúvidas de que os corações aguentassem
Porque o Natal se tinha transformado num puzzle que era preciso montar
Apesar de tudo as crianças festejavam!

Lá vem a adoração da luz esfomeada

Temerosos dos vagidos incandescentes da razão
Dizemos palavras mortas à porta da cidade oscilante
E bradamos essas palavras às raízes magoadas
Como se fôssemos condenados a seguir espectros que gritam:
Eis os crepúsculos ancorados na miséria
Eis os nus desenrolados nos cobertores
Eis os suspiros das sombras negadas...comungadas...excomungadas
Eis o Divino a comer as almas...como uma estátua seca...
Lá vem a adoração da luz esfomeada
Lá vem a vida íntima dos Santos
Lá vem a cruz cambaleante com a carne pendurada....ácida
Oh que terrível tragédia nos assedia a sombra
Ah que terrível ser reflecte a luz abissal do coração
Essa luz que nos pinta a carne e a entrega tingida de vermelho
Aos dias cheios de esqueletos virtuosos mas condenados
Como se fossem moedas falsas...
Mas nós que pedimos luz...mais luz...chamuscante e solitária
Luz que inunde toda a nossa superfície solar da alma
Luz que nos pouse na lápide..alumiando o nosso nome
Luz ignorante...incompreensível...dramática
Luz gemente...triturante...fornicadora...
Luz  risonha...que todos os dias assista à nossa tragédia!

O mel e o fel das palavras...

Por vezes dizemos ou escrevemos palavras e não pensamos como irão ser interpretadas, escutadas...dizemos porque...sim...porque calhou...porque saíram...outras vezes, dizemos ou escrevemos essas mesmas palavras porque queremos saber se são escutadas, se fazem algum sentido para o outro,ou...se são indiferentes..é nesta dicotomia que reside o mel e fel das relações entre as pessoas e a beleza das palavras....