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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Detesto a frase: “a beleza exterior não interessa o que interessa é a beleza interior”

Detesto a frase: “a beleza exterior não interessa o que interessa é a beleza interior”. Pois a mim não me interessa nem uma nem outra interessam-me outras coisas, e acho estúpida a frase porque ninguém tem um interior linear, todos temos o nosso lado negro e o lado mais branco, é por isso que acho que a frase não faz sentido. Dou um exemplo do que gosto numa pessoa sem ser essa ideia parva da beleza interior:
Tenho uma amiga que é feia, todos os que a conhecem dizem que ela é feia, e mais, que tem mau feitio, como se uma pessoa por ser feia tivesse que ser boazinha, mas o que ninguém, menos eu, acho, percebe é que ela não te paciência para certas banalidades. Sou amigo dela há mais de vinte anos e embora ela tenha traços que não podemos dizer que são belos, tem uma pose de senhora que me cativa, e nem sequer é uma pose pedante é natural nela, é forreta, não gasta dinheiro em marcas, mas gosto da maneira como fala e se movimenta e isso é o suficiente para eu a achar bela...a mim o que me cativa é um gesto, a forma como alguém diz uma palavra, como se movimenta, há muitas coisas que me cativam numa pessoa e me levam a gostar dela... mas aquela frase detesto-a.

Que ditoso será o amanhã...

Amanhã será outro dia...será o dia em que a chuva vai arder
Será o dia em que os trovões vão estender o pescoço para a terra
E os meses vão estreitar entre os ramos das árvores a poeira cinza do verão
Nada escapará à tempestade que repicará como um sino feito de girassóis
A chuva lavará as roupas que estremecerão de prazer
As fogueiras terão asas feitas de tábuas planas com equimoses
As impurezas esbranquiçadas entrarão silenciosamente pelos espinhos
Gota a gota...entranhando-se pelas escamas dos peixes que sobem os rios
E os espantos dirão que dos mapas das cidades escorrem sombras anémicas
Não haverá sinais nem homens-foguete
Não haverá atenções voltadas para Abril
E para espanto geral os sons sufocarão as letras... que fugirão correndo.
Amanhã será outro dia...será o dia em que as existências comerão patas de cavalo
As almas simples tirarão a pele às estrelas
E as portas afogarão o riso em peitos ogivais e cúmplices
O tempo profundamente transtornado mostrará uns olhos ameaçadores
As feridas farão visitas de passagem pelas almas dos girassóis
Os bálsamos arderão num futuro luzidio como a idade das crianças
Enquanto furtivamente os acasos da redenção espalham rostos sufocados
Penso que ditoso será o amanhã...
Que me trará um outro novo dia...

Como adquiri a minha máxima de vida...

Quando era miúdo ia passar as férias escolares para uma quinta de um tio meu, era uma propriedade com duzentos e vinte hectares um casarão enorme, que uma empregada interna( ao tempo dizia-se criada de servir) administrava. Por vezes aos fins de semana vinha um amigo dos meus tios, o Sr. N... vinha ele, a mulher e a filha, uma médica solteirona, que não se queria casar. Vinha no seu Benz, que era a forma como ele se referia ao carro, jamais pronunciava a palavra Mercedes, talvez fosse uma palavra demasiado plebeia para ele...era o seu Benz. O Sr. N.. tinha uma loja na Baixa negociava em artigos para a arte equestre, era um homem alto, de porte aristocrático, grande contador de histórias, era uma delícia ouvi-lo, o meu pai dizia que ele inventava um bocado, mas isso ainda lhe dava mais encanto. Num dia de verão muito quente estava eu com ele na adega, que era um local mais fresco, falávamos já não sei de quê e ele diz-me: - Joãozinho, (eu tinha cerca de oito anos) lembra-te disto, um homem ou é um homem ou um monte de merda...olhei para ele embasbacado..UAU o Sr. N...tinha dito um palavrão, a mim, à minha frente, que grande confiança ele tinha em mim, guardei aquela palavra como se fosse um tesouro, eu que pensava que as pessoas finas não diziam palavrões, mais, pensava que elas nem sabiam dizê-los...mas a verdade é que adoptei a máxima que ele me ensinou e acho isso mesmo “ Um homem ou é um homem...ou um monte de merda”.