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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Tudo funcionava perfeitamente!

Passava o tempo como uma alvura de febre inexplicada
Os anos preocupados discorriam sobre as prendas que dariam aos dias
E imprudentes melodias surgiam nos pés descalços
A hilaridade foi lograda pela neve rosa de Novembro
E os magníficos bosques apresentavam fendas abertas para o céu
Serenamente a lua cintilava enfeitiçada pelas aves negras
E as sombras caíam das árvores varridas pelo frio glacial
As horas submergiram-se nas lâmpadas eléctricas gastas e rugosas
Os espíritos absorveram conversas animadas de tédio
Vertendo para os cálices o seu Porto Vintage
Homens de braços curtos esculpiram sapatos de pedra
E calçaram luvas amarrotadas junto à meia-noite duvidosa
Mágicas temperaturas exerciam pressão sobre os cabelos entrelaçados
E mágicas esperas absorviam a inércia em lareiras de pedra fumegante
A inconsciência manuseava livros habituados ao silêncio
E perante as explicações pacientes das mesas desocupadas
Escoavam-se poliglotas retóricas sobre romances fleumáticos
As pessoas circulavam de mão em mão como Invernos filosóficos
E a combustão das distracções gerava uma onda de teatro alugado
Que o amor físico lastimava como se fosse uma doutrina chegada do céu
Brutalmente o furor apossou-se das camas e dos lençóis
Como se os cabelos castanhos usassem unhas loiras
E fosse obrigatório passarem a noite na profundidade da planície
Para que a pureza dos sofrimentos fosse honrada pela anatomia dos navios
Que sublinhavam de boca escancarada a erudição balofa dos diamantes
A vida inconsciente e fúnebre sofria de mistérios e não sabia quem era
E o sistema nervoso negou ao cérebro a passagem para animal inferior
Tudo funcionava perfeitamente!

Não imponho o som dos meus passos

Não procuro nem clarividência nem perfeição
Existo como um venerável acompanhante da vida
Não condeno fantasmas nem berços
Porque cada um vive dentro do seu deslumbrante dia
Exijo às minhas cavernas que desocupem o espaço onde estou a mais
Para que possa aceder ao mundo das ruas com sombras solitárias
Onde não imponho o som dos meus passos... nessas  ruas que os silenciam...

Cais sem sentido

 


 


08-12-2015 020.jpg


 Eis o meu poema:


Perante a paisagem translúcida


Abro o meu corpo vago...desabitado..


Sou como um barco ancorado


A um cais sem sentido...


Ah! Se o rio me trouxesse a vogar num corpo perdido...


A fêmea...


A alma...gémea!


 

Esta noite esqueci-me de sonhar com o canto da luz

Esta noite esqueci-me de sonhar com o canto da luz
Esta noite esqueci-me de sonhar com a virtude solitária
Esta noite esqueci-me de sonhar com a essência da alegria
E fui...procurar a incompreensão pelas terras dissolvidas
Fui procurar o instante em que um fio de luz atravessou o espaço
Zunindo aos meus ouvidos astrais como se alongasse esse instante
Fui procurar a fonte da origem das paisagens longas e misteriosas
Onde as brumas interiores já não se distinguem das noites imaginadas.
Fui procurar dentro de pedras enormes sentimentos castrados pelas nuvens
Confundi a lonjura com as lágrimas porque alonguei o meu olhar
Alonguei-o mais do que a minha vista podia alcançar
E centrei-o no ponto longitudinal da árida poeira
Depois...atei a minha alma a um cadáver de refulgente transparência
Indeciso...perante um cenário de trágica comédia
Fui espectador e actor de todos os sentimentos
Deixei a pegada da minha  alma no deserto
Junto à árvore seca onde a fonte extinta apaga a luz...
Depois descansei...
Porque vi que abandonavas a plateia deserta!