Tudo funcionava perfeitamente!
Passava o tempo como uma alvura de febre inexplicada
Os anos preocupados discorriam sobre as prendas que dariam aos dias
E imprudentes melodias surgiam nos pés descalços
A hilaridade foi lograda pela neve rosa de Novembro
E os magníficos bosques apresentavam fendas abertas para o céu
Serenamente a lua cintilava enfeitiçada pelas aves negras
E as sombras caíam das árvores varridas pelo frio glacial
As horas submergiram-se nas lâmpadas eléctricas gastas e rugosas
Os espíritos absorveram conversas animadas de tédio
Vertendo para os cálices o seu Porto Vintage
Homens de braços curtos esculpiram sapatos de pedra
E calçaram luvas amarrotadas junto à meia-noite duvidosa
Mágicas temperaturas exerciam pressão sobre os cabelos entrelaçados
E mágicas esperas absorviam a inércia em lareiras de pedra fumegante
A inconsciência manuseava livros habituados ao silêncio
E perante as explicações pacientes das mesas desocupadas
Escoavam-se poliglotas retóricas sobre romances fleumáticos
As pessoas circulavam de mão em mão como Invernos filosóficos
E a combustão das distracções gerava uma onda de teatro alugado
Que o amor físico lastimava como se fosse uma doutrina chegada do céu
Brutalmente o furor apossou-se das camas e dos lençóis
Como se os cabelos castanhos usassem unhas loiras
E fosse obrigatório passarem a noite na profundidade da planície
Para que a pureza dos sofrimentos fosse honrada pela anatomia dos navios
Que sublinhavam de boca escancarada a erudição balofa dos diamantes
A vida inconsciente e fúnebre sofria de mistérios e não sabia quem era
E o sistema nervoso negou ao cérebro a passagem para animal inferior
Tudo funcionava perfeitamente!