Que os anjos me sufoquem num céu deserto
Que sabes tu das ruas encharcadas pela chuva das almas ...crucificadas
Que sabes tu do pão roído pelos milhões de vampiros
A quem os tiranos de pele incerta e suja rasgam as entranhas
Que sabes tu das bebedeiras deitadas nos confins dos céus nublados
Que percebes tu das caras... e das idades sem cara e sem idade que povoam as ruas
Sim... temos o sol e o Inverno...e os sovacos cheios de desconforto
Temos as praias e a altivez pavorosa da incerteza
Temos o desconhecimento a pairar sobre as nossas cabeças
E os astros a florir sobre as nações cobertas de carnes desfraldadas aos cães
Temos validade e prazo para os sentimentos que em júbilo gritam...multicores...
Palavras pegajosas como saliva quente...
Onde irei eu arranjar quem me sopre e enfune as velas?
Eu que vejo a humidade da manhã a ser derrotada pelo vento
Eu que vejo sobre a minha cabeça todas as flores e todos os dramas
E que vejo ao longe a idade filha do tempo a escarrar sobre a minha imaginação
E tílias imensas bruxuleando raivas sobre feéricas memórias
Eu que só peço que venha depressa a guerra...que se mate a moral...
Que os anjos me sufoquem num céu deserto
Que derramem sobre a minha cabeça uma bela glória a Deus
Sem arte nem imaginação...apenas uma bela coroa de magia...
Dura e flexível ...feita de um material insensato e bestial
Onde eu possa acrescentar a sede...a chuva...o luar...
E todas as coisas que povoam os gritos que o inferno pagão ignora
E onde possa acrescentar... viva... a mão vazia e amiga de um vácuo
Como se fosse uma flor a pedir perdão...
Por ter nascido...