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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Bebo a tua sina pela minha própria mão..

Bebo a tua sina pela minha própria mão..
Porque te dei a provar a cicuta que nos devora
Viverei em ti... como uma recordação...
Ou como uma estampa cobrindo a tua alma
Ou ainda como uma tatuagem perene a que não podes renunciar...
Arderás nas chamas gastas...impiedosas...
Ouvirás músicas impalpáveis...hinos... baladas...
Sombras de notas gravadas na distância...
E sentirás o sabor da ausência...como uma fadiga...ou uma noite fechada...
Os teus olhos breves ficarão embaciados...como sombras aladas...desgastadas...
Até que derrames todas as tuas penas...sobre um lençol inebriado...
Cruzarás a luz como uma borboleta atraída pelo alfinete que a crucificará
Atravessarás o tempo como uma fantasia derramada sobre um frémito
O teu corpo não terá sombra...nem corpo...nem chama ateada...
A tua cama gemerá sons profundos...em crescendo...como um candeeiro perfumado
Nada te lavará...nem a fadiga...nem a brisa derramada sobre os campos...
Nem a geada que se deita ...deleita...sobre as noites inebriantes...
Agitar-te-ás inflamada pelas carícias impalpáveis da ternura sonhada...
E abrirás para a noite da minha felicidade....a tua rosa perfumada.....
E como num frémito de prazer profundo...
O teu coração em fogo...
Fogosamente se deitará sobre as chamas de um paraíso emprestado...
Onde eu estarei como um atento espectador...
Dessa breve alegria...desse breve assombro...desse grande brado...
Que sairá de ti...como de uma Vénus em êxtase....
Que bebe do belo sexo um amor imaculado....

Um canteiro de amores perfeitos....

Roço lentamente o corpo pelas ruas da cidade
E...enquanto a chuva me ateia os seus segredos
Abro o meu sangue...bebo a verdade...desenlaço os enredos...
Dos rasos e discretos vulcões que pedem serenidade
Dos disfarçados Invernos inclementes...
Dos intocáveis pressentimentos...dos medos...
Dos presságios do Estio...que dormem sonos brancos...vigiados
Das terras onde as hastes com espinhos... se disfarçam de espelhos gastos
Dos canteiros e das flores escondidas na brisa....
Das infindáveis estátuas... a pedir amor...a dar as mãos...a pedir amor...
A disfarçar os silêncios ásperos...sobre as telas mornas...
A pintarem os olhos inclementes...mascarados de giestas sonhadoras...
Rosas de olhar profundo...mistérios ásperos...Outonos disfarçados...
Como a trama de um segredo ancestral...insondável e infinito...
Não há nada nas nossas mãos...que o olhar não possa atender...
Nem teias na noite em branco...nem noites vigilantes...nem brisas sobressaltadas...
Nem discretas aranhas na terra mole...nem vozes nos areais desertos...
Nem retratos...nem disfarces...nem magias...
Apenas existe...entreaberta...uma pequena gelosia...
Que espera o fim da tempestade...
Como quem aguarda por uma estrela cansada...do seu próprio absoluto...
E que olha as tintas negras que a cercam ...
E que fazem sobressair na negritude do infinito...
A sua luz feiticeira... que ilumina um canteiro de amores perfeitos....

O vento chorava uma mágoa pungente

Chamei pelo teu odor com os olhos pasmados no poente
Chamei por ti num desespero doce que se calava no mar azul escuro...profundo
E a minha voz que ressoava numa irresistível sombra que se mirava no meu coração
Olhou a luz erguida num clamor transfigurado por um céu novo e reconhecido
Não havia árvores... nem folhas... nem aves...nem clareza ...nesse fim de dia
O vento chorava uma mágoa pungente e tão sentida
Que as doces memórias se transformavam numa luz que iluminava o escuro
E a lua que se arrastava num céu ébrio e transfigurado
Fugiu em direcção ao coração do Universo...só para não ver o poente da nossa música
Que entoava no ar árias profundas... que se agitavam nos corações passantes...mudos
Até que...finalmente vi as cores fortuitas do desespero...
Desaparecerem envoltas num perfume que se derramava pela vastidão da noite
Era de novo a branca esperança...
Era de novo a venerável bênção da harmonia...
Incontida...devoradora...
Era uma espécie de cascata musical...onde os teus cabelos revoltos
Derramavam hinos...profundos...que se insinuavam sobre os nossos murmúrios
Como lembranças beijadas...pela mágoa misteriosa...de um vinho inebriante...

A parede tinha pouca vida

A parede tinha pouca vida...nada estava preso a ela...
Nem quadros... nem fotos... nem personagens fingidas de pessoas sorridentes
A parede tinha desaparecido como um riso distante
Nada lhe fazia sombra...a luz reflectia inteira e prenhe o mundo
Essa parede que já tinha assistido a ternuras
Estava agora abandonada como um corpo adormecido
Até os móveis se distanciavam
A parede estava em ruínas...precisava de arranjar maneira de sair dali
Não queria mais o esquecimento...queria cor...beleza...
E um dia... obstinadamente...bateu com a porta!