Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

A inexplicável geometria do caos....

Quando nos demoramos frente a um dédalo de sombras
Onde o pólen ferido pelo frio nos fragmenta a solidão
E um voraz apetite pela destruição das catedrais soturnas nos invade
Decompo-mo-nos em seres assimétricos …
Que tecem espumas de jade em janelas que dão para pátios esconsos
Onde capturamos aves imperfeitas...de uma beleza louca e embriagante
Porque nessas aves reside o bafo dos mortos...que se agarram à vida...
Sabemos que milhões de milénios de poemas imperfeitos...
Escorrem pelas pétalas das palavras...com o desvelo descuidado do ninho da rola
Nada mata os deuses que vivem distraídos numa concha desconhecida
Nada vicia mais que o ligeiro cantar da água sobre uma página em branco
Nada nos embriaga tanto como o assombro das camas desmanchadas
Nada nos ofusca mais que o olhar de um felino sentado sobre um tempo impassível
Enquanto esquece a inexistência dos homens...capturados pelos dias...
Como máquinas que se esfumam em cinzas...que não são calcárias...
Porque esses homens já não têm ossos...nem esqueleto...nem infinito...
São mortalhas inacabadas de um tempo efémero...sem princípio nem fim...
Que pulsa sempre igual...como a inexplicável geometria do caos....

E que explode numa espécie de música que só nós ouvimos

Somos como Píramo e Tisbe trocando juras...
Perante a fenda crua da parede que nos separa
E na qual derramamos beijos de cal....que se transformam em bênçãos
Porque somos a sombra venerável que encarna um sonho inesgotável e profundo
E que explode numa espécie de música que só nós ouvimos
Os nossos sussurros são como missas ditas sobre as ervas que despontam luminosas
São momentos...são sombras de veneráveis carvalhos que nos acariciam...
Mas...não podemos prever o nosso encontro junto ao Túmulo do Nilo...
Porque não temos amoreiras cujas bagas sejam brancas...
Nem o sol furtivo encarna na nossa voz clara...
Nem o teu manto cai perto da fonte onde a leoa mata a sede...
E onde eu próprio me darei o golpe fatal sob um sol poente...
Que me atirará para os teus braços com o coração inerte...
E tu..pegarás nele o e soprá-lo-ás para o vasto Universo...
Onde se afundará com uma profunda recordação...dos teus doces braços...
Junto às amoreiras que resguardam o perfume daquele amor...
Nos seus frutos agora vermelhos...juncados pelas dolorosas recordações...
De um tempo lavado pelos corações em frémito...

Tudo é um pequeno riacho correndo para o infinito...

Olha para bem fundo de mim...sou o Deus de um Absoluto inacabado
Sou a desobediência afundada num assombro..
Sempre em trânsito pela loucura de tudo o que é efémero...
Sempre a tecer dias que depois enterro em pequenos fragmentos
Assombros...lábios...solidões...tudo se demora sobre mim...e tudo se quebra em mim
Tudo é um pequeno riacho correndo para o infinito...
Tudo se esfuma no tempo desapiedado...
Já não conto estrelas....
Nem acredito nas fábulas que usava como um anéis encantados
E que já não enfeitam os meus dedos frios...
Sou uma ave que canta com os olhos...perdi a voz...numa inexistência rara...
Sou uma lei imposta pelo destino embrulhado numa febre...serpenteante...
Não procuro mais saber como o tempo lambe as mãos....
Não procuro mais saber como se esquece...tudo o que se esfuma...
Já não me imito...já não me curo com desprendimentos...
Arqueio agora as minhas costas sob o peso....de um retrato desbotado...
Minguei...tal como as nuvens negras escondem partes de um céu incompleto...
E...para desespero da urze e da giesta...
Não quero conhecer a virgem que chega...
Enfeitada com grinaldas sonhadas por um pintor arrebatado...
Fui proclamado proscrito...porque abusei do desconhecido...
E agora...a minha alma áspera e absurda...
Desassossega o dia equilibrando-se numa minguada linha...
Que um tédio imenso santifica...

Levar-te-ei pelos prados verdejantes...

Se caíres eu não estarei lá para te ajudar...mas...para te dizer : voa mais alto
E se voltares a cair eu não estarei lá para te levantar...mas para te dizer: voa ainda mais alto
E se caíres de novo e a tua alma se tranformar numa imensa cicatriz...
E se perceberes que essa cicatriz é a vida...e que a vida sem cicatrizes nada vale...
Então...eu estarei lá para te dar a mão...
E...levar-te-ei pelos prados verdejantes...
E...mostrar-te-ei a harmonia que vive escondida nas gotas do orvalho matinal...