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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Durmo junto à flores exóticas

Durmo junto à flores exóticas que me falam do tempo em que dormia no teu colo
Aconchego-me agora como um verso cansado...que pressinto no casulo do tempo
Não persigo fantasmas...nem divindades...nem manhãs humedecidas pela brisa matinal
Sou um ritual...um presságio...uma tentação de água correndo para um lago frágil
Cumpri o meu esquivo dia...dei-lhe um nome...chamei-lhe vento...
Depois...aspirei sem ressentimentos o fascínio das lembranças...
Nascidas num tempo em que nós éramos...dádivas delicadas...e leitos de dossel...

Ah Se eu pudesse colar aos meus lábios

Ah Se eu pudesse colar aos meus lábios
Os pensamentos que oscilam como pêndulos sem forma
E que sibilam na minha alma como ventos soprando através de muralhas
Talvez a dimensão da minha vida
Não fosse como um colete apertado pelas horas impacientes
Ou como uma lâmina de ferro que me esfola os minutos
E que...girando através de uma curva elíptica... me corta todos os balanços do coração
Ah se eu pudesse quebrar nos meus lábios
Todas as palavras que me estremecem os dias
Como se fossem condenadas a um degredo silencioso que cresce na manhã ardente
Talvez as minhas mãos tivessem a força de um aço leve
Ou a força de um grito ...vindo de uma fraca esperança...
Que chora convulsivamente sobre as fendas da rua...e que se condensa...
Numa possibilidade estreita de abrir uma rosa de luz num bosque selvagem
Ou de erguer a minha alma branca sobre o meu peito encharcado de fontes harmoniosas
Onde tudo o que não é se transforma em dias...
E onde tudo o que são dias... se transforma naquilo que não é....

Passos consagrados a uma tempestade de fogo

Passeamos pela aguda mordedura dos dias
Disfarçados de almas quentes...e exibimos um brilho acetinado...
Como carrascos de nós... vestindo um fato de bom corte
Desafiamos a nossa razão perante a navalha afiada numa laje fria
Como se enfrentá-la fosse uma libertação...ou um grito voraz do nosso interior
Desesperamos com a sua mordedura impiedosa e...
Vagamente flutuamos nos seus lábios roxos..
Somos como vómitos de uma prisão arrepiada...


Por um gelo que pende do nosso corpo...
Ou como farrapos de um mendigo sem nome...
O coração abala-nos o peito frouxo....e nós...


Enrolamos os olhos em convulsões de pedra
Para que não vejamos as sensações...nem os passos obcecados pela luz
Enroscamos o nosso espírito insano numa fenda profunda
Que cavámos como se fosse um berço de amor...
Ou uma conjectura sulfúrica onde os arrepios da alma nos agudizam os sonhos
Perdemo-nos em imagens fantásticas...em leitos estremecidos...em lúgubres prisões
Perdemo-nos em corpos plenos e surpreendentes como demónios
Perdemo-nos imaginando que as nossas narinas exalam gritos perfumados
E o resultado de tudo isto...é um ferrete que nos marca sinistramente os passos
Passos consagrados a uma tempestade de fogo
Que não nos alimenta...mas que nos gela as paredes incoerentes dos dias...
E que sobe pelas paredes do nosso poço...onde um secreto trovão explode...
Sobre uma sólida pintura de sangue escorrente..
Que o nosso peito marcado por um ferro em brasa... teima em exibir...
Como se fosse um bálsamo condensado... em torno de uma luz eterna...

Um anjo talhado num límpido céu escarlate

Não há mais óleos raros...adocicando os nossos corpos serpenteantes
Nem letras de ouro cobrindo as palavras ronronantes
Tu foste a quimera do anoitecer
Que junto à falésia persegui com a bravura dos impossíveis
Como se procurasse dentro de ti uma filigrana Oriental
Ou um anjo talhado num límpido céu escarlate
Mas...eu sou do tempo da angústia... que num exausto esquecimento...
Se fechou numa concha...onde capturou o mar infinito...

Não quero mais voar sobre a fúria branca da lua

Descubro que de ti apenas ficou um poema feito de palavras sem sombra
Descubro que a febre que enrodilhava o nosso labirinto...
Era uma minguada luz aflitiva...que luzia num Inverno perdido e desassossegado
Como se a minha metade do céu se evadisse …
Para o interior de uma fábula de um anel sem brilho
Compungido olho o tempo que nenhum de nós sabe contar
O tempo de um retrato que dormia embalado num interdito recanto...
Enfeitado por aguarelas desbotadas...que em desespero rejubilavam lacrimosas
Não quero mais voar sobre a fúria branca da lua
Nem quero ser o insaciável leitor de um livro obscuro
Agora...sou o samurai que parte o espelho...
Onde se equilibra a sua imagem de Rei sem destino...
Mas também a de um Rei senhor do seu destino....