Inconstantes serão as claridades …
O futuro furará os dias até ao fim dos tempos
E as estrelas serão apenas olhares lacrimosos e pesados...
Oscilando numa espécie de loucura que dispensa os sons
Todas as brisas se erguerão numa voz...embutida numa amálgama de poeira
Que se misturará com o canto das aves e com os guinchos aflitos das folhas verdes
Porque deixaremos de ter nome para as coisas
Porque a nossa face descorada...entoando coros junto de anjos vermelhos...
Descobrirá suspiros no fundo dos lagos...
E o enorme céu ficará cheio de penosas dúvidas
E transparentes serão os corpos e as impaciências
E inconstantes serão as claridades …
E das penumbras que envolverão o nosso corpo...
Sairá o dia como se fosse um fino cabelo preso numa imensa súplica
Nenhum astro celeste abandonará as suas raízes encolhidas sob um manto de segredos
Nenhum som perturbará os rostos fundidos em choros arrancados às horas
Tudo terá o seu sentido...porque tudo perderá o seu sentido...
Então..rasgaremos os instantes como se fossem asas transparentes
Que usaremos como grandes copas de árvores...
A enfeitar os campos onde os pardais debicam milagres...
Que leremos como se fossem páginas em branco
Ou ilógicos ventos cansados de contar dias...
E que se misturam em nós como se nos fundíssemos numa seiva pontilhada de estrelas
Mas que guardaremos como uma respiração quase suspensa...
Que no fim só nós entenderemos...juntos...suspirando profundamente ao luar....