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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Onde desaguar tudo o que criamos com palavras...estará o infinito

Cai a chuva diluindo a noite numa lenta passagem
Para a manhã que virá como um propósito de luz
Indivisos...os olhos procuram existir para lá de todo o horizonte
Não há fronteiras que separem o que vem de dentro...
Nem meses em que os rostos não floresçam em mistérios líquidos
Exacto é o fogo que acende o céu que não vemos
Potente é o rugido que acenderá o fim de tudo
Reais são as presenças que atravessam os rios
Rumo a um tempo que existe para lá de todas as coisas...
Não há antes...não há depois...tudo é...como sempre foi
Porque onde estiver uma luz acesa...estarás tu....
Onde estiver uma estreita passagem...estarei eu...
Onde desaguar tudo o que criamos com palavras...estará o infinito
Nesse infinito onde repousa o ar.... que arquejando procurarei sofregamente
Porque não há verdade na existência...nem tempo na solidão
Porque não há fogo que não emita um rugido de fera impaciente
Porque não há divisão na vida...nem no tempo...nem nos corpos unos...
Esta é uma noite amena..em que a água nos lava a respiração ofegante
E em que a contemplação do existir...queima tudo o que nos pode separar

Todos os silêncios são incêndios que vogam de rosto em rosto...

O vento desfaz-se em palavras que levam as certezas...para um tempo sem aragem
As dúvidas estendem as suas vozes por túneis sem luz
E os rostos são levezas dispostas em círculos...no restolho preso ao chão
Todos os olhares são gritos...todos as luzes são terra...
Todas as palavras são árvores dispostas a morrer...
Todos os silêncios são incêndios que vogam de rosto em rosto...
Até ao entardecer das horas em que as conversas morrem desesperadas
Empurramos a vida com a nossa vassoura de feita de conversas e páginas
Alastramos como um pasto seco que descobre na água a sua força
E...junto ao restolho...transportamos os nossos passos esquivos...
Que teimam em caminhar sempre...infinitamente....
Como se estivessem dispostos a desfazer teias...a libertar luzes...
A comer o próprio olhar....
Aos minutos juntamos dias...ás horas certezas...
E forças incertas que residem na nossa alma...
Porque temos que prender na nossa mão... a luz que espalha sombras...
Como se a deixássemos solta...apenas naquele pequeno espaço...
E para que ninguém a veja...guardada na nossa mão...fechada...

Como uma palavra ateada num cântico...

Por entre os fragmentados cheiros das ervas cobertas de flores
Rasgam-se sombras coladas às paredes caiadas de branco
Onde as distâncias são estrondos que a imaginação suspende sobre a fadiga
E o vento envolve os teus passos suaves...
Como penas que sussurram entardeceres gentis...
Já não preciso subir a abrupta montanha...nem descer o íngreme abismo
Porque todo o teu cheiro transportado pela brisa
Me dá a tua forma intemporal...como se fosses um ciciar de luz...
Que atravessa a minha agonia...
Ou como se fosses uma água fresca que escorre da doce fonte
Em que um dia me sentei sedento...e me cobri de desalento...
Mas...como uma palavra ateada num cântico...
Que se mistura com a certeza do meu olhar preso na hora...
Em que surgirás...como se fosses um rasgão de uma imensa luz...
E... em que o meu peito...a minha face...a minha alma...
Se condensarão numa vontade infinita de te envolver....
Num manto de flores silvestres...
Que darão forma aos minutos perdidos num tempo...
Em que as mágoas eram o alimento das nossas bocas famintas...
E que agora se desvanecem num doce encanto...

O fogo que rasga a fronteira que te separa..de mim...

Eis o teu dentro e o teu fora...como se fosse uma fronteira sem acaso
Como se fosse um horizonte de água numa tarde de Maio
Ou o mundo inteiro dentro da liquidez da eternidade...
Onde está a tua respiração preciosa que contém todo o pólen das flores?
Onde está a vaga iluminada que rasga as trevas de um ar líquido?
Onde está aquele existir de ti...
Que atravessa o fim de tudo e caminha sem recusar a vida?
Serias tu capaz de encher o firmamento com roseiras floridas?
Serias tu capaz de permitir que uma misteriosa seara de trigo te tocasse no rosto
E te levasse pela mão até acender em ti a sombra que te cobre a pele?
Serias tu capaz de carregar a flecha de Artemisa
Como uma esperança que te ilumina o rugido das trevas?
Suspende a respiração...atravessa a eternidade....acende a luz que te levará ao silêncio
Mas..existirás sempre como uma passagem entre a beleza da vida...
E o fogo que rasga a fronteira que te separa..de mim...