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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Metade de mim é uma distracção...

Abalos saídos de um vómito de horror
Enroscam-se em instantes convulsivos e tingidos de vermelho
Farrapos pendem de candeeiros surpreendentes que o nojo atira para a sarjeta
Metade dos meus lábios estão frios...
Metade do meu peito atónico dorme profundamente...
Metade de mim é uma distracção...uma incoerência convulsiva...
Uma não forma suspensa num arrepio de luzes ferrosas
Flutuo sobre brilhos vomitados pelos meus olhos ...estremeço sinistramente...
Sou um poço inflamado...uma abóbada de vapor...uma imagem diabólica....
Sufoco cada instante na água gelada...sei que milhares de lugares me esperam...
Com raiva...expiro trovões sem nome sobre noites titubeantes...
E adormeço num palácio feito de ferros retorcidos
Depois...estendo as minhas mãos...quero agarrar os crimes mais pesados...
Atá-los em redor do meu corpo....buscar as suas causas...
Porque sou o expiador louco que raptou as sombras...
Que as arrastou até ao caos...que as levou pelas pedras soltas...
Como se fossem odores de brincar...ou olhares distraídos...
A seguir descansei...sentado sobre o nojo...como se fosse um diabo gelado...
Olhando as tuas entranhas...extraindo-te o coração....
Comendo-te a alma...enquanto os meus olhos rolavam nas órbitas....
Vestidos de uma incurável paz celestial....

Misturo cores que invento com palavras feitas de tintas que cantam

Afago o desconsolo como um pintor que não dá tréguas aos deuses
Misturo cores que invento com palavras feitas de tintas que cantam
Abraço estrelas e beijo luas que dançam nos rios a anunciar o verão
Nesse verão onde todos os fascínios me cobrem de grinaldas
Nesse verão onde dou tréguas às manchas cinzentas
Que brotando do interior da minha alma se desmancham em prazeres
Nesse verão onde invento cidades maravilhosas
E dos campos banhados por bênçãos de mundos em festa
Faço das cores douradas do trigo...tronos em que me sento como um Doge
Que assiste a uma peça num teatro cuja abóbada tem a cor azul celeste das crianças
E corre pela minha imaginação como uma paixão irretratável...
Porque não tem tonalidade...porque renuncia aos tons quentes dos anjos luminosos
Porque se a luz é real... a escuridão é inventada por ela...
E porque a luz canta...e porque a cinza mascara...
E porque para compor o desconsolo basta o choro das casas vazias
Onde o crepúsculo afecta a geometria mágica dos tons outonais
E a música silencia e aquece os despovoados corações
Como se fossem metáforas de versos feitos de aves e sonhos
Que nos transportam para os braços sagrados da ternura...

Não existem certezas saindo de horas que não morrem

Estendem-se incêndios de vozes incoerentes
Murmurando palavras sobre olhares entardecidos
Pelo chão quente ateiam-se gritos e cânticos com luz própria...imanente...
Não existem certezas saindo de horas que não morrem
Nem conversas gastas pelo restolho dos dias...
Dúvidas...rostos...conversas...
Olhares que acreditam que a vida é uma queda de água impaciente
E que após se derramar no abismo jamais volta à nascente...
Mas leva esperanças esvaindo-se numa apertada e estreita margem
E nós..prendemo-nos a essa força disposta a não retroceder
Agarramo-nos ao nosso olhar...seguimo-lo...como se fosse a jangada da nossa salvação
Que navega sobre rápidos...sobre decepções...sobre luzes esmagadas...raio a raio...
Torcidas...decompostas... como se atravessassem um cristal de páginas submersas...
Espalmamos a morte com o rosto virado para o sol..
Debicamos as penas....como corvos marinhos depois do mergulho...
Escolhemos as letras...atiramo-las aos ventos...
E da sua queda nascem cheiros a terra molhada...
Brisas que transpiram fragmentos de folhas serenas...
E nós... simplesmente...ficamos como que adormecidos...embaciados de dolência...
Descansando sobre essa esquiva aragem que nos refresca os sentidos...

Segredando-me... que ainda havia tanto para viver....

Quantas vezes as estrelas cadentes
Me acariciaram o rosto desperto sobre a areia da praia
Quantas vezes as ondas do mar
Embalaram na sua espuma branca a minha cama de areia
Quantas vezes o sol laranja me fitou
Por detrás da névoa da manhã...e me abrigou no seu coração
Segredando-me... que ainda havia tanto para viver....
E que a sua luz era apenas uma amostra dos deliciosos dias que viriam...