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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

És o mural do mistério a vencer o efémero..

Mas...és tu...conheço-te...sei quem és..ave silenciada em sílabas
Que os dias arrefeceram...novelo de paixões e magias tristes
Tens olhos geométricos a anunciar mistérios...
E carregas pétalas de rosas que só tu cheiras
Encurtas distâncias em tardes brancas e silenciosas de inverno
E reclamas rostos aos dias íngremes como se fossem pinturas de guerra
Trazes sagradas sabedorias no teu corpo inquieto...
E guardas o princípio do mundo no teu útero...
Como se fosse feito de lendas e dias semicerrados em espantos...
Que os poetas tentam interpretar...como se flutuasses num quadro esquivo
Que tem que ser perseguido pelas veredas íngremes dos Deuses
E pelas alturas sagradas da criação...ou como se fosses a semente do Eterno
E residisse em ti toda a luz do profundo Universo
Essa Luz que vive escondida numa centelha de sonhos feridos
Porque longe da memória do tempo...resides cativa no rosto imaculado do amor...
És o mural do mistério a vencer o efémero...um enigma que o espanto não nega....
Mas..és a pergunta...que todo o homem carrega....és a fonte...
Onde vamos beber o medo das almas sem tecto..
Mas também és o berço …onde vamos buscar todo o afecto....

Nada pode ser feito de coisas inúteis...

Gasto-me como se fosse uma nuvem flutuando sobre um tempo gasoso
Caminho sobre um abismo de ar sólido...enredado na recordação do teu rosto
Visto a camisa apertada dos aflitos...mas faltam-me os acontecimentos distantes...
Sou inconcreto...sou um olhar...o teu olhar?
Não posso ser feito de serenidade
Porque carrego o tempo como um companheiro interdito...
Nada nasce da verdade...assim como nada morre...
E o tempo...foi meu amigo... contou-me o enredo de todas as farsas...
Disse-me que nada me faltaria na hora em que eu acreditasse nele
Disse-me que me dissolveria...literalmente...como uma verdade escorregadia...
Disse-me que as recordações que trago arrastadas na garganta...
Seriam engolidas mal conhecesse as coisas inertes...
Nada pode ser feito de coisas inúteis...
Assim como nada pode ser desfeito de coisas amadas...
Nasci de uma pequena oportunidade no tempo...um rasgão umbilical...
Uma prece feita de palavras esburacadas...
Que acontece a quem escorre pelos dias?
Não me rio quando o céu se abre num oceano que passa rente a mim
Não me rio das subtis recusas disfarçadas num parêntesis...
Questionarei as sombras até lhes gastar a paciência
Todos os meus esforços ficarão gravados num tempo indistinguível
Porque sou gás...porque sou um rio sólido...
Que de repente se precipita pelos intervalos das palavras...
Como se fossem buracos de um passado...que sem saber como... acredita no Céu
Como se acreditasse num rio qualquer que lhe passe à porta
Ou como se fosse uma imagem que analisa com uma lupa subtil
Estarei onde estiver a minha alma...o meu espírito...a minha obrigação de ser...
Assentarei as minha paredes sobre os dias frescos...cheirosos de terras...
Emitirei sons..que serão esforços de mim...que serão teus...
E que te chamarão para nos diluirmos na noite...
Depois... acordaremos com os corpos assentes em luzes translúcidas
Cansados...teremos a visão de todas as cores...de todos os cheiros...
Veremos tudo em tons de veludo...seremos corpos...flores silvestres...
Seremos como uma eternidade... que vai caindo sobre nós como uma chuva enxuta...
Lançaremos o nosso coração para longe...para a primeira luz que aparecer...
Porque está escrito...que a distância que existe entre nós...
Se perdeu nas ruelas onde não passamos...
E que...já não existe distância...nem ruelas...nem nós...
Seremos apenas uma luz que prescindiu dos nossos corpos....unos...
Como se estivéssemos numa sombra concreta...
E o mundo fosse um resto de dias...sobras de dias..que já não queremos rabiscar...
Porque estaremos lá...naquele momento delicioso...
Em que não precisamos de estender os braços...
Porque...já estaremos abraçados...perdidos...e isentos de dor...

Acenderemos o fogo na lareira

Quando as águias mostram o seu sorriso aos nossos pés despidos
Quando a nossa imaginação voa...irreal e frágil...projectando gestos de asas cansadas
Não nos bastam as lembranças ilustradas por memórias pálidas
Nem sombras poisadas sobre outrora...
Porque nunca as reunimos num jardim de anémonas eloquentes
Nem representámos a graciosa voz dos puros perfumes
Cortaremos as memórias em tiras finas...comeremos desesperos sem chorar
Acenderemos o fogo na lareira e...contar-lhe-emos os nossos dias...
Embalaremos o lume em músicas de enxugar lágrimas
E sorriremos para os corpos despidos...que andam em volta de nós...
Como sombras inocentes...ou como amores sem sombras...
Seremos pois...conversas requintadas...candeias sem apuros...
Frágeis corpos que bebem ... com deliciosa avidez...as flores cobertas de poesia..
Não teremos então morte nem vida...seremos águias sobrenaturais...
Planando sobre a solenidade encantada de um momento...
Ou sobre as folhas dos dias... que um prazer perfumado por frescas hortenses...
Nos transportará ao último prazer...
Que beberemos numa profunda hora de avidez insensata...mas sentida …
E que consumiremos...até onde a volúpia nos tocar nos olhos fechados...