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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Porque é nossa a escolha..

Quando vivemos junto ao abismo
Para onde a alma escorrega silenciosamente
Nada...ninguém...nos pode tirar de nós....
Seguiremos como figurantes solitários...sem som nem cor...
Não distinguiremos as recordações... da realidade..
Nem as melodias das estrelas cadentes...
Porque é nossa a escolha...e ninguém nos vai dizer...fica...
Se for nosso o desejo da partida....

Torna-te uma flor..

Tu que gastas as subtilezas em palavras imprecisas
Tu que procuras descansar a alma que arde num ciúme negro
Abre o teu dia...deixa que as pedras falem e as sombras se apaguem
Deixa que os sons translúcidos se diluam em cores alegres
O mundo existe...as pequenas coisas também...coisas que as palavras não descrevem
Deixa que os aromas frescos que se soltam dos sentidos te apaziguem...
O mundo existe....as vozes também...os sobressaltos são cinzentos...
Mas tu...imprecisa mulher que acalentas desesperos...
Prescinde desse fel que te escorre e queima a alma
Não há redomas nem grades que iluminem a frescura de um jardim em flor..
Sim...deixa que a tua alma deite flores...pelos olhos...por todos os poros...
Torna-te uma flor..deixa que a primavera expluda em ti...dilui-te em amor...
Olha que o ciúme desce pelas veias...queima...rebenta em terras secas...
Seca-te..porque nunca conseguirás ser a acácia que na savana...
Alimenta os seus espinhos com secura...
E porque assim....gastarás os teus dias sem saber...
Que o primeiro raio de luz que explodir na manhã...
Te é dedicado...e que a penumbra da noite...
É um esquecimento...

Diz-me o que te diz o teu deserto...

Diz-me o que te diz o teu deserto...
Diz-me qual o pacto que fizeste com a esperança ébria de assombros...
Diz-me que queres entender a noite onde as coisas façam sentido
Diz-me quais são as tintas que pintam o teu corpo sacrificado
Diz-me quais são as veredas onde gastas os dias
Mostra-me no teu rosto a escritura que fizeste com a tristeza
Ai minha ave projectada em luz...minha extinção de ser dia...
Onde começará o teu alívio...onde ficará o teu oásis...
Que sol ardente queimará as formas felinas do teu corpo...
Queres que chame o encantador de dias para fazer de ti uma espada de luz?
Queres que mande trazer os bálsamos clarividentes dos crepúsculos?
Queres que a loucura aliviada dos Invernos te aqueça?
Queres que te erga um sonho onde o altivo luar se curve perante ti?
Queres que toque trombetas e traga aves para te enternecerem?
Tudo farei...descobrirei lendas e sortilégios...sussurros e presságios...
Ciclos de tempo...incisivas primaveras...olhares fulminantes...
Tudo farei... para que essa dor vagarosa se feche numa concha...
Como se fosse uma lâmpada apagada...e em ti só brilhe o assombro...
De um acordar solene... em que a minha mão suave te afagará o rosto...

Não podemos perder mais brisas matinais...

Longe de mim ser um Santo Imaculado rejubilando pelos dias tediosos
Antes um diabo...um corpo magro...antes um excomungado....
Antes ter sobre a minha cabeça...todas as espadas e todos os dramas
Antes ter os dias multicores...vogar no infinito...saudar o nascimento dos corações
Antes atirar o meu corpo sobre as flores...ser sobrenaturalmente o vento da manhã
Longe de mim ser um Santo Imaculado...benzendo os dias bruxuleantes e danados
Venham a mim as carnes...as fadas e as praias....os sarilhos e os andarilhos...
Venham a mim os que vivem....venham a mim as sedes...os infernos...as penas capitais
E todas as capitais de países que invento...socorrendo-me de um globo rachado..
Venham a mim as esféricas mesas sem contornos...onde nos sentamos bebendo fogo
Venham a mim os luares....os travesseiros...as novas formas de amar....
E quero também ervas e alucinações... e deveres incumpridos....
Fora com a moral...fora com as mãos que nos sufocam...


Fora com os sagrados deveres...
Onde estão as mãos amigas que nos atiram ao chão?
Onde estão as mãos amigas que não nos querem amparar?
Onde estão os júbilos astrais...e os carnais..e os ancestrais?...
Partamos...desfraldemos as nossas velas raiadas de auroras
Temos tantas bocas e línguas para descobrir...tantos corpos amáveis...
Suados...povoados...feéricos...que não podemos perder mais brisas matinais...
Porque eis que aqui está presente....a glória de ser apenas corpo...
A glória de deixar embarcar a alma nesse veleiro...
A glória de perder a alma nesse nevoeiro...basso...gordo...dispensado de luz...
Porque não é precisa luz...porque tu és a luz...e eu...o diabo mágico...
Que te raptará...para o paraíso do pecado...
Onde os anjos me chamam Santo.... Maculado...

O tempo das crianças é um tempo parado num sonho...

Eis o teu imponente vestido...desfigurado pelas minhas mãos ilógicas
Eis o teu imponente corpo ...repassado de perfeição e beleza
Criou-te a natureza como uma pureza rara...ou como se fosses o começo de tudo
Como se fosses a fornalha onde todos os seres especiais são lapidados
Esperança...vida...ínfimas são as coisas que nos contentam
Porque em toda a perfeição há imperfeição...em todos os fins há algo inacabado
Em todos os instantes os olhos tentam captar migalhas de justiça
Justiça que belisca os dias...onde tudo recomeça...onde tudo termina...
Como se fossem inúteis sombras que exalam amores...que queremos capturar
Num instante temos o pranto...logo a seguir a memória...
Depois....vem o sol precioso que completa os momentos da vertigem
E as palavras que reúnem os sentimentos...numa folha perfumada...
As palavras que dizem...gente...coração....instinto...conclusão....
Todos os dias há renovação...todos os dias há o fim das certezas...
Todos os dias há a profundidade do instante incompleto
Todos os dias há generosidade...concepção e mundo...
Todos os dias há a esvaída consciência dos ignorantes
De que o tempo das crianças é um tempo parado num sonho...
Mas o tempo dos homens ….é um tempo inacabado num grito...