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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Toda a gente comentava que os campos levam às colinas...

O caixão avançava sem vida pela rua dos marginais
Os acólitos... de rostos pontiagudos..vagueavam agarrados ao turíbulo
Espalhando incenso pela periferia dos nus..
Compreendi que os sorrisos ossudos gargalhavam fórmulas consagradas...
E que o caixão reluzente projectava um ridículo embaraço nos passantes
Todos tinham o seu lugar no cortejo...o sol...a solenidade...e as caras pálidas...
Os beiços...os narizes... os apaixonados....e as perguntas idiotas...
Cada ângulo do silêncio era uma bofetada...um esconderijo...
Havia qualquer coisa no ar ... e não era o cheiro a sal...
Porque o que chegava até ali...era uma chaga insossa...um peso de terra vazia...
Toda a gente comentava que os campos levam às colinas...
E que os caixões são meio de transporte para os céus...e todos se alegraram...
Afinal..quem não gostaria de fazer caretas a Deus?
Quem não gostaria de se esconder debaixo de um insecto?
E...como uma paixão profunda...lá seguia aquele pobre apaixonado...
Carregado de flores...como um pobre sem sombra...encerrado numa verdade...
Que lhe dizia...que é difícil acreditar...que há silêncio na luz...e paz na realidade...

O calor do sol sobe-nos à boca..

Torna-se pequeno o ar quando os corpos se afastam
Tornam-se apertados os largos espaços...
Quando a distância não tem um lugar por onde abrir caminho
Tudo é pequeno...os olhos são pequenos...os lugares são pequenos
Os olhares são profundamente pequenos...diminuídos...lentos...
Os corações cultivam orações distantes...dissolvidas na agonia da espera...
Porque na lenta caminhada para o encontro...
Todos os nossos sentimentos se dirigem para o mesmo lugar...
Todos seguem para aquele pequenino espaço em forma de coração...
Para aquela pequenina existência... magoada pela intempérie da separação
E por isso...lançamos gritos distanciados que a tristeza enfeitou de aragens solitárias
Alastra-mo-nos em caminhadas pelas trevas sem idade...estamos incompletos...
O ar é abafado...a respiração poisou sobre uma superfície áspera...
O corpo inclina-se...descai...os braços agarram-se ao espaço vazio...
Que agora abraçamos incorpóreos e silenciosos...a lentidão tomou conta de nós...
Os fragmentos dos momentos felizes tomaram conta de nós...
O céu que é de todos...não nos quer....tudo se arrasta...o medo alastra...
E o calor do sol sobe-nos à boca...a idade desaparece...torna-se intemporal...
Mas..naquele preciso momento...em que o hálito da terra fresca...reencontrada...
Volta a enfeitar os nossos olhos...os nossos sentimentos...os nossos corpos...
E esse tempo distanciado foi apenas...um pequeno passo...
um pequeno fragmento de uma viagem pela distância...
que já esquecemos...porque tudo voltou ao seu lugar....
E porque a aragem nos trouxe a paz...o rosto lembrado...e a certeza....
De que não há separação...que escreva no tempo...que é para sempre...