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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Até que um dia o vasto despertar nos visite


Habitamos corações fechados em covis onde falta alguma coisa
Empurramos o pó da alma com um espanador cheio de medos
Vemos olhares que rasgam o ar enquanto expulsamos os dias que não importam
E fechamo-nos em sombras e risos esperançados...como um ritual  inevitável
Dançamos... em corpos rasgados pelo frio...uma dança plena de imensidão
Escondemos segredos...cantamos assombros....
E devolvemos à alma o troco de um pagamento feito com sentimentos coalhados
Preenchemos a nossa sombra com trovões e poesia...
Com portas fechadas e doces corpos acariciados
E contamos às pessoas que dançam à nossa volta...
Histórias que caem no chão negro e poeirento...
Porque reclamamos a eternidade como se ela fosse uma pedra...indestrutível...
Arrastamos os pés pela tapeçaria que é o nosso nascimento
E pela penumbra do céu que é a nossa felicidade
Nada nos diviniza...nem o céu nem a terra...nem os assobios do vento...
Somos uma contaminação exagerada de nós...
Um espaço preenchido por bocas e sementes que lançamos ao chão
Até que um dia o vasto despertar nos visite...e nos diga...
Que somos feitos de lama...que somos feitos de terra e ar...
Frágeis cascas de ovo...que se erguem fortes e resistentes
Perante o enorme espaço que flutua entre nós...
E os sorrisos delicados das flores...

Desse lago coberto de nenúfares...

Naquele abrupto e profundo lago residia uma solidão cansada
Os seus olhos eram uma distância...como se fossem uma chama apagada...cruel
Ou um isolamento amontoado sobre uma ruína fechada... interdita
Delimitada por uma silenciosa dor...como se fosse uma coisa grande...
Ou algo incompreensível...como uma vontade desprotegida...
Desse lago coberto de nenúfares...saíam choros que entravam pela manhã adentro...
Como se fossem clamar ao mundo...um isolamento...uma ascese...
Ou como se fossem rasgar esse mundo distante
Com um longo e profundo suspiro cheio de dignidade...
Ou como se tivesse que obedecer aos degraus espalhados pelos dias
Subi-los palmo a palmo...descalço..como uma indigna voz calada
Insípidos mundos...clarividentes deveres...crianças desarticuladas...
Que estranhas coisas somos...que nos enredamos em deveres desmesurados...
Grandes demais para as horas...que são maiores que nós...
Grandes demais para os ventos que sopram das profundezas verdes da terra
Grandes demais para o sangue do tempo que pende como um lastro..
Ou como um rumor de vela... que nos acolhe...
Numa condição de náufragos libertos de mares tempestuosos
E que depois de salvos...e secos...
Nos abraçamos aos murmúrios que latejam nos largos espaços
Onde desemboca o centro da noite cheia de estrelas...
Que se espraiam em nós...como uma altura...ou um enorme cruzamento de afectos...

Numa manhã onde as cores brincam...

É pesada a carga que faz latejar o precioso momento da vertigem
Porque é na escuridão seca que se contorce o pânico da espera
Porque é no instante impossível em que as vozes ecoam como gargantas latejantes
Que ignoramos todas as coisas que se agitam à nossa volta...
Como se o mundo já não estivesse na nossa cabeça...
Como se tudo se esvaí-se numa inconsciência...num mundo interior...numa manhã...
Numa manhã onde as cores brincam... o sangue aquece... e as veias rebentam
E onde só há uma nitidez que se precipita sobre imagens distorcidas
Porque nos atiramos como alucinados para dentro de impossíveis rostos...
Onde a nossa realidade é abanada..gira sobre si própria...contorce-se...
Lateja em infindáveis dias caprichosos de olhares vítreos...informes...
Até que lentamente...as respostas surgem...
Como se a lareira mais insuportável...mais inconstante...
Se iluminasse numa mágica simbiose com a realidade...
Com essa realidade espelhada num mar agitado...
Em que cantos efémeros...nos enchem a noite aveludada...
E a vida se transforma numa tela impossível de ignorar....
Porque dentro de nós...sabemos..que já só nos falta viver...