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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como um pátio que se iluminasse de escuro...

Nos dias em que o dia se torna na nossa cela...
E os minutos são pombas a voar sobre gestos bruscos
Nos dias em que as árvores morrem sobre as pedras febris..queimadas
Por um penoso sol que se derrama como insustentáveis flores brancas
Nesses dias sabemos que somos sempre o mesmo...
Sabemos que não temos idade..que temos todas as idades
Como uma pedra sem brilho ou um calor de rachar...
Somos esse calor que vem do princípio de tudo..
E que se derrama sobre nós de costa a costa...de brisa a brisa...
Como um pátio que se iluminasse de escuro...
E que escurecesse o planalto onde residem os nossos desejos...
Febris e inconstantes como uma pele transparente e sonolenta
Ou imóveis como um mar parado sobre um chão desumano...
Porque das nascentes de águas gritantes...sai poeira que cobre o nosso corpo ansioso
Então..mergulhamos a pique...nesse brilho triunfador...nesse silêncio imóvel...
Nessa respiração abafada...porque simplesmente já não sabemos respirar..
Já somos o cabo sem esperança..boa ou má...
Já somos como uma flauta sem orifícios...com o som sufocado pela areia ofegante...
Que nos cobre os olhos...como se fôssemos simples danças azuis...
Ou como se fôssemos uma geada de fogo atiçada pela crista das ondas...
Que nos submerge em dóceis delírios...em canduras de criança...
Em abafados e esquivos amores...a que chamamos distâncias...

Chegou o tempo do silêncio....

És a aragem que ainda sopra das palavras escondidas
Tu não estás...apenas a tua cabeça persegue a minha imprecisão
Podes esconder a tua farsa...os teus esforços são o que nunca saberás...
Estarei sempre na tua cabeça...porque provaste o cheiro que te abriu as asas...
Nunca me saberás descrever...serei sempre o teu hífen...
Ou cepo onde porás a cabeça translúcida e alucinada...
Serei o teu resto de luz..diluído...porque nunca saberás quem eu sou...
Esquece o nome...ele não existe...apenas habita o corpo de outro...
Mas de ti...eu conheço perfeitamente o teu covil...a tua toca...
Prescindo agora de todas as palavras...chegou o tempo do silêncio....

 

 

 

 

Em todas as vidas há pombas que olham imóveis as águas claras

Em todas as vidas há pombas que olham imóveis as águas claras
Em todas as vidas há olhos brilhantes...febris...esmagadoramente insustentáveis
Sobre todas as vidas chove luz e rochas...
Como se fossem estilhaços de um rumo perdido...ou um penoso ofegar da areia opaca
Onde silenciosos lilases despertam num êxtase triunfante e abafado
Em todas as vidas há véus..duplos silêncios intransponíveis...


Fechados sob um céu fresco
Todas as vidas desejam encontrar a espada...a chave...o espesso mistério...
Que lhes abra a fresca nascente onde a chuva bebe o seu murmúrio
Podemos calar-nos perante o ar imóvel
Podemos respirar a embriaguez das ondas
Podemos viajar pela atmosfera azul...inflamada de vagas esperançosas...
Podemos dançar como triunfadores...ou como luzes desgraçadas...
Podemos retesar o corpo...torná-lo um mundo fechado num minuto...
Mas do chão erguer-se-á sempre o fumegante dia...
Erguer-se-á sempre a extenuante âncora que nos prende à vida
Como se alguém imprimisse fortes pancadas na nossa porta...
Ou na nossa alma...

Como um banho de mar

Uma recordação venenosa veio desaguar no meu coração
Deixei-a tombar como um corpo vazio...pronto a encher-se de um dia claro
Percebi nela...um desequilíbrio nascido de um delírio crispado
O dia era uma onda a inundar-me...a inchar-me todo por dentro...como um banho de mar
Vesti essa recordação como se fosse um fato delicado...de homem livre...e parti...