Nasci como uma bruma..
Esfrego os dias com se fossem um chão preguiçoso...inchado...
Não navego em sabedoria nem invento mundos...sei que só há um mundo...
Gozo as subtis manhãs no passadiço rente ao rio..
Onde passeio a minha ignorância das coisas...divagando como uma febre alta.
Não aspiro ao eterno nem me acuso de não prestar provas de sinceridade
Nasci como uma bruma...como uma bebedeira tola...ou como uma folha de tabaco...
Que se fuma diariamente..sofregamente...
Talvez um dia renasça noutra divagação...
Talvez a minha cinza sirva os superiores interesses das ciências astrais...
Talvez a minha cinza sirva para ser pintada como uma natureza morta..
Que sirva para estupidificar as cores das tintas...
Quem sabe o caruncho me habite como uma falsa filosofia..
E eu me impaciente um dia e coma o Ocidente...
Como se fosse um Cristo renascido num vasto campo de trigo...
Ou como um vencido que ultrapassou a meta...
Ou como um bastardo sem provas de filiação à raça Humana
Parece-me que isto é uma verosímil sentença de um tempo sem rugas...
Parece-me que isto é a mira de onde posso apontar como alvo o espírito dos vencidos...
E depois..que importância têm os paraísos?
Que prantos imemoriais caem dos olhos dos anjos?
Que provas tenho que acumular para ser uma visão dilacerante?
Não! Eu não cedo...sou livre de habitar o meu suplício....mas tenho um desejo...
Apenas quero que a minha alma durma....
Rodeada de anjos que tocam trombetas de ouro...
Cujo som me traga a subtil Visão de um verdadeiro estado de Pureza...
Ou de um sonho sem mundos inquietos e imemoriais...
Mas que contenham em si todos os dilacerantes minutos da nostalgia...