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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Sombras...sabemos que somos sombras...

Sob árvores irreais...frágeis sombras imprecisas penetram-me na imaginação
Dizem-me que somos insípidos...pálidos...profundamente apagados...
E que transportamos esse adiar da alma como um prazer alucinado
Inocente...teatral...como uma irrealidade conversadora coberta da flores vãs...
Os dias mudos...são frágeis papéis encantados...
Que uma candeia feita de palavras alumia...
Como se fosse uma lembrança feita de memórias pálidas
Sombras...sabemos que somos sombras...
Sombras que adiam a vida com esperança de retardar a morte...
Sombras que se apagam somo últimos actos de uma peça sem sentido
Sombras requintadas...amigas de vida fácil ...feitas de tempo que voa nas asas da loucura
Porque é preciso regar o jardim esvoaçante que vive no espírito...alimentá-lo...
Pegar nas flores e cheirá-las até ao cimo...senti-las como amantes perfumadas...
Requintadas...ricas de prazeres imaginados que esvoaçam nas horas mais profundas
Sei que nenhuma angústia fará mudar o horizonte...
Sei que nenhuma esperança fará acabar o mundo...
Compreendo que um mastro sem vela não trará alegrias...
E que a esperança é uma volúpia fechada num quarto...
Onde um piano mágico... toca de olhos fechados...a ária triste do desencontro!

Venho adorar a floração das ruas

Inevitavelmente desço dos lugares mais altos que as cidades trazem nas costas
E venho observar as vozes que ecoam nos peitos gelados
Venho percorrer todos os bancos de jardim e todos os rostos sem pão
Venho adorar a floração das ruas e talvez...
Também olhe para a lama negra que cobre os passeios
Procuro com os meus passos oscilantes o vago tesouro de luz que desce dos candeeiros
Que acendem e apagam a minha sombra ao ritmo dos meus passos...
Não sei porque não hei-de ir para qualquer lado...não tenho ruas nos braços...
Nem espelhos nas mãos....sou uma catadupa de visões sem cama nem chão...
Sou um vago e sinistro dia esperando junto ao mar...o mês de Março...
Sou como o sável que vem desovar no rio...no recanto do seu braço...
Ou como uma luz circular que sobe esse rio...amarrada ao barco varino...
Sei que em todos os lugares as manhãs são passos trôpegos dos dias...
E que pessoas sem rosto vagueiam pelas florestas pejadas de relâmpagos...
Nunca me tinha visto num espelho em chamas...
Nem nunca me tinha perdido num leito cadavérico....
Mas...onde quer que passe....abraço a boa sorte...
Grito-lhe palavras que se elevam como fumo saindo de uma multidão faiscante...
E digo-lhe que percorra todos os lugares...todas as pedras que calçam... os descalços
E lhes entregue o festim que a minha alma lhes preparou...
E lhes cante a minha vida... numa toada em possam mergulhar os seus pés...
E os eleve para uma deliciosa noite sem pragas e sem carrascos...
Porque eu agora vou escutar o teu sono...e levitar sobre o teu transcendente olhar...

És a solene aurora..que me aquece o dia..

Ergo-me desvendado em vestes brancas
Conheço todos os mistérios que brilham como azeviche
Porque carrego no meu flanco um tesouro...
E com ele mergulho na mansa confiança no mundo...
Desaparecidos todos os rituais..libertas todas as felicidades
Mergulho agora numa vaga carinhosa e sem infinito...
Como se fosse um nascimento acrescido de mim...
Ou o término de um exausto dia...
Não há mais infernos no meu bosque...
Não há mais tardares divididos em orgulhos...
Todas as gotas tenebrosas se afastaram...
E tu... és esse beijo carregado de poesia...
Que todas as manhãs me acorda...
Para um concerto que se ergue do irreal vácuo da alegria...


Para me recordar que tu és a  solene aurora que me aquece o dia...

És a solene aurora..que me aquece o dia..

Ergo-me desvendado em vestes brancas
Conheço todos os mistérios que brilham como azeviche
Porque carrego no meu flanco um tesouro...
E com ele mergulho na mansa confiança no mundo...
Desaparecidos todos os rituais..libertas todas as felicidades
Mergulho agora numa vaga carinhosa e sem infinito...
Como se fosse um nascimento acrescido de mim...
Ou o término de um exausto dia...
Não há mais infernos no meu bosque...
Não há mais tardares divididos em orgulhos...
Todas as gotas tenebrosas se afastaram...
E tu... és esse beijo carregado de poesia...
Que todas as manhãs me acorda...
Para um concerto que se ergue do irreal vácuo da alegria...


Para me recordar que tu és a  solene aurora que me aquece o dia...

Como se fosse uma amanhã...que é já agora....


Uma gélida vaga criou todos os momentos...todas as perfeições e todos os calvários
Todas as juras foram instintos de recomeços inacabados...
E todos os começos foram instintos incompletos feitos de sentimentos remotos
Cada momento é uma esperança...assim como cada sombra é um trabalho da luz...
Cada olhar é uma emanação do espírito...
E cada generosidade é um encontro carregado de pureza...
Não há razões que a candura desconheça...nem lágrimas que os olhos não chorem..
Cada memória é uma certeza...assim como cada futuro é uma iníqua quantidade de dias
Tudo existe na sua proporção...como uma realidade desconhecida e atroz...
Tudo está condensado...todos estamos condenados a dar voltas sobre nós próprios...
Até ficarmos tontos...distorcidos...sem perceber que a vida é uma ideia que cultivamos...
Como se fosse uma amanhã...que é já agora....

Cioso desses amores imperfeitos..

Abandonarei a improvável trovoada que sufoca os rios
Fugirei como um alastramento de choros bêbados que visitam os suplícios
Perseguirei o meu festim de noites sem moral e de corações sem senso
Porque não possuo a casta dos vinhos que enfeitiçam a Beleza
Nem me abandono à ganância dos padres..
Nunca fui ao engano nem simpatizo com a justiça celeste..
Ajoelho-me e injuro-a...como se estivesse sentado nos joelhos de uma feiticeira
E sigo perdoando as faltas às pragas que mordem na agonia
E sigo estrangulando dias a que chamo cegueira e miséria...
Uma noite...tentei secar as leis do Universo...quis destruir todos os tesouros...
Queimá-los numa agonia voraz de sangue estilhaçado
E chamei todos os doutores..todas as bestas..e todos os pavores...
Convoquei as pragas e os fuzis...lancei a alegria contra as portas...
Estrangulei os sufocados...ajudei-os a encontrar a chave da loucura...
Do meu sangue coalhado fiz um festim...
Da minha canoa fiz uma primavera...que lancei às hienas...
Como se lhes entregasse o estalo capital...ou um idiota egoísta...
Não me atrasei quando me saiu ao caminho o selecto pirómano dos vícios
Porque almocei as minhas faculdades...diminuídas...
Como se comesse ervas arrancadas aos dias
Os animais ausentaram-se à minha passagem...
E eu...por vingança... arranquei do meu livro todas as páginas
Transformei-me numa ausência de sentido...num acanhado sinal inodoro...
Mas o meu sopro correu sobre todas as terras...sobre todos os ódios...
Porque esfreguei as minhas mãos em colos ternurentos...
Que me resgataram da inevitável descida às catacumbas dos alucinados...
E numa alegria desenfreada...pude receber em mim todas as graças...
E todas as danações...e todos os amores... e todos os sopros de paixão...
Enfim...pude ser um ocioso...cioso desses amores imperfeitos...inesperados...
Que ainda guardo como uma fatal graça encantada....

Uma encruzilhada de gente rara...

Fechado numa emoção impulsiva salto a margem que me divide
E atravesso o barranco por onde se escoam águas barrentas
Não cambaleio...dou enormes passos...como se fixasse a alma numa afeição
Ou numa mordedura quente...de onde brotassem tímidas palavras...desassumidas..
Paro depois...com um desgrenhado zelo...numa encruzilhada de gente rara...
Que me surge como se fosse uma fosforescência de filigrana...
Abandonada ao desleixo dos dias …como uma brutal fumaça de erva...
Dormindo sob uma majestática impaciência...
Afago essas cabeças sem raiva no coração...apenas as quero ver desfalecidas...
Como se fossem uma tribo que anuncia dias floridos...com sinaizinhos de fumo...
Que se elevam sobre a pele clara das faces mimosas...
Como afagos de crianças...Vestidas de belos uivos multicolores...
Ou como reposteiros que tapam a luz...onde as pedras sanguinolentas e sombrias...
Se fundem em caprichosos vergões violeta...
Que irados me assaltam as costas empedernidas...
Como se fossem sinais de espanto... polidos como azeviche...dormentes como a palidez
E que majestosos e delirantes...como grandes sequóias bradando aos ventos...
Me contemplam os denegridos olhos sombrios...
Vazos de uma espuma enrubescida por um sol esquecido...como um anjo sem auréola...