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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Nada em ti é amanhã...

Desapareço por entre a folhagem dos teus cabelos soltos
Percorro o teu corpo como se fosses uma praia solitária
Onde me escapo para a tua carne como se fosse uma maré ardente
Porque nada em ti é amanhã...
E tudo em ti é uma fogueira que reflecte no meu rosto espantado...
As suas chamas rúbias...
Que queimam o meu corpo...como se eu fosse a brasa que te alimenta....

Prenhe de bolor está a imagem do corpo enrugado...

Prenhe de bolor está a imagem do corpo enrugado...
E o futuro penetra em todas as folhas...dos livros e também das árvores...
Como se fosse a mesma coisa...como se fosse uma insondável garganta...
Que apregoa gritos de liberdade...e palavras frágeis de arestas fulgurantes...
Que buscam a insondável harmonia da luz ao entardecer...

Ondas límpidas que chegam sem avisar......

Que nos diz a voz da lua quando a nossa garganta está seca?
Que luz se derrete no interior da nossa carne feita de tempo?
Que branco pânico escorre pela nossa pela nossa jugular?
Que breve brincadeira nos faz morder os lábios informes?
Tudo são imagens distorcidas...tontas...impossíveis de fixar nas telas
Tudo são obscuridades agitadas...que correm à solta pelo nosso interior
Como se fossem coisas raras..puras...onde é impossível descriminar o tempo
Como se o tempo desse voltas e agitasse o mar levantando ondas de pureza
Ondas lavadas de carnes e de vozes....ondas sem ideias...ondas que brincam aos dias
Ondas límpidas que chegam sem avisar...
Como súbitas realidades inundadas por veias disformes
Tudo é agitação e ideias de mundos desconhecidos que giram na nossa mão...
Procuramos a realidade como se a tivéssemos ali mesmo...ao pé de nós...
Essa realidade sem rosto...mas que possui milhões de rostos...
E tem dentro vozes desinquietas...que fingem ser alucinações da verdade...
Depois...vem aquele instante...em que a memória se perde...em que a porta se abre...
Em que o sossego enche o quarto....como se estivesse condenado a pairar por ali...
A pairar pelo tecto...pelas paredes....pelos instantes em que voltamos a ser crianças...
Pelos instantes em que queremos mesmo esquecer que somos homens...
Pelos instantes em que queremos que a nossa atenção volte atrás...
Ao tempo dos sorrisos que revolteiam na nossa face...como vidas preenchidas...
Como silêncios fingindo que a poeira que nos tolhe é um tempo diferente do nosso..
Então...voltamos a nossa atenção para a janela que abana empurrada pelo vento
Para a porta que bate surdamente...para a saída de alguém que partiu...
E apenas restou dessa presença...
Um lençol amarrotado pelos sôfregos estertores do seu corpo rígido...
Parado num tempo infinito...acabado...como um objecto impresente...
Que lentamente se vai desfocando da nossa imaginação...
Como um restolhar de folhas secas levadas por um vento agreste...magnífico...
Que se congela em nós como uma memória...preenchida de nostalgia!

Um corpo que se recuse a ser dividido...

Acordo como um desesperado que procura um corpo
Um corpo que se recuse a ser dividido...
Um corpo que se recorde do instante em que foi uma visão instantânea
Em que foi uma vida irrecusável...sem meandros....
Como uma seara que cresce sobre a terra negra e se ceifa a si própria
Um corpo percebido...indispensável ao lastro do tempo...
Como a morte...ou como uma época que alimenta uma ideia...
Procuro esse corpo onde possa pôr uma vida completa...irrefutável...
Como os olhos... ou uma verdade livre dos desesperos finais...
Um corpo do qual recolha os pedaços...
Espalhados ao longo das ruas de qualquer espelho...
Como uma vitória que se ergue das profundezas...
E que perante a claridade...perceba que é apenas uma espiga de trigo....
Uma semente sem idade...uma vida infatigavelmente nua...
Que descansa sobre uma pele ofendida....
E que perante a primeira verdade da manhã...
Se ilumine como um fogo animado por desconsolos
Ou como uma injustiça que corre a montante da criação da vida
Um corpo acalmado de desesperos e de ameaças...
Um corpo declarado universalmente...louco...alucinado...
Como um autêntico sacerdote que se desfaz em cera …
Para que as velas que o alumiam possam incendiar as suas imperfeições...
Possam queimar as suas ofensas...como se fosse um prisioneiro do consolo...
Ou um pedinte que descobre a fonte que derrama a água que o secará...
Como se contivesse em si...todo o desespero invisível ao mundo.