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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Somos o mesmo ser que procuramos


O esqueleto estava transformado em líquido...a carne comida pelos silêncios...
A voz ...dissimulada em cantares de desespero...
Procurava limpar da alma os momentos finais...
Esses momentos que estão sempre presentes...
E que nos dizem que somos o mesmo lugar onde estamos
Que somos o mesmo ser que procuramos
Que somos mesmo a mesma vida que temos...
Que somos o presente...o passado e o futuro...
Que nada vive além de nós...se nós não vivermos também além...
Mesmo com todos os segundos a cravarem-se na carne...
Mesmo com todos os dias a esgotarem-se em dias vazios
Mesmo com todos os peixes a desaguarem na praia...
Mesmo assim...somos os seres primitivos...os sobreviventes dos tempos...
Os arcanjos das almas...os guardiões do ser verdadeiro...
Que afinal desconhecemos...

Mulher...

Mulher...és a penumbra do voo da garça branca
És o arrastar de lábios pelo espaço de um tempo feito de sementes
És o cantar das húmidas florestas...o murmúrio das fontes...
A brisa das nascentes límpidas que ecoam como um grito eterno
És a flor do cardo que coalha os dias tristes...que segura a vida...
E a transforma num poema feito de abraços...

Sigo em frente como um pingente de cristal...

Abre-se uma árvore e um tecto cai salpicando de musgo a rua vazia
As crianças encolhem o rosto e o cristal cintila com suspiros de buxo
Olho a timidez de frente como um fresco delicado...ou uma claridade suspirante...
E não me perco em objectos...nem em vagares..
Sigo em frente como um pingente de cristal...
Olho as prateleiras onde retratos emoldurados também me olham...
Com os olhares perdidos...onde cintila uma luz irreal...perdida no tempo...
Não levanto a cortina que tapa a minha vidraça...
Nem deixo entrar no meu quarto qualquer luz desconhecida...
De tudo me abismo..de tudo me maravilho...de tudo me aproximo e afasto...
Tudo vive na minha curiosidade...
E tudo nada mais é que uma tesoura chamada verdade...e fantasia...
Há riqueza no reflexo da luz?
Há paz nos tectos brancos das igrejas?
Há sorrisos na ponta dos cristais?
Há cintilações prateadas quando a água do rio salpica os peixes?
Assim como a sombra projectada pelas árvores é a sua inversão
também todas as direcções são divergências de nós
São caminhos a trilhar....como luzes encantadas por crianças feitas de gesso
São rostos que atravessam mundos serenos...jardins do passado...
Sugestões de horas frescas...cheiros de rosmaninho e giesta...seiva escorrida
Rostos de pele curtida..muros frescos pontuados por pedras salientes...
Por onde nós estendemos os olhos...
Reparando que existem múltiplos mundos sem pressa
Múltiplos sabores a terra seca...múltiplas nuvens de olhos semicerrados...
Múltiplas línguas....múltiplos amores....de tudo existe neste jardim...
Onde só é preciso estender a mão e colher a flor...que nos enfeitará a vida!

Preciso de mais dias e mais sóis...

Projecto-me em todas as coisas como um sol violento
Feito de um esplendoroso mutismo que enche as ruas de sombras
Traço a minha trajectória como uma mancha na parede vazia...parto...
Deixo lá pendurado todo o sentido do meu presente...porque quero futuro...
Lá fica também o meu coração...a minha clarividência...o meu imaculado fantasma
Lá fica o meu silêncio de floresta abatida...
Lá fica a boca marcada por um belo eczema...que beijo sem nojo...
Despeço-me.. porque preciso de mais dias e mais sóis...


Porque a minha alma é um arrastar de tempos vestidos de gaze branca...


Transparente, mas...intransponível....

Preciso de mais dias e mais sóis...

Projecto-me em todas as coisas como um sol violento
Feito de um esplendoroso mutismo que enche as ruas de sombras
Traço a minha trajectória como uma mancha na parede vazia...parto...
Deixo lá pendurado todo o sentido do meu presente...porque quero futuro...
Lá fica também o meu coração...a minha clarividência...o meu imaculado fantasma
Lá fica o meu silêncio de floresta abatida...
Lá fica a boca marcada por um belo eczema...que beijo sem nojo...
Despeço-me.. porque preciso de mais dias e mais sóis...


Porque a minha alma é um arrastar de tempos vestidos de gaze branca...


Transparente, mas...intransponível....

Sonho com brasas ardendo na entrada de um palácio pejado de fantasmas

Sonho com brasas ardendo na entrada de um palácio pejado de fantasmas
Seres estranhos entram e saem numa existência sem movimento
Sem sentido...sem rosto... sem cérebro...
Escorregam no escuro e não deixam vestígios
Flutuam nesse sonho como consciências em estado vegetativo
São figurantes que se deslocam pelas ruas melancólicas onde dormem as flores
São seres desmaiados...informes...como vestígios de uma melodia inacabada
Como se pertencessem a recordações que a alma não quer
E que expulsa numa sibilante sinfonia de notas flutuantes
A que o espírito não presta atenção...
São como fúteis silêncios espreitando furtivamente na sombra
Só habitam parte do seu corpo...
E o que resta são latidos que não penetram no perfume do desespero
Porque abandonaram os pés que os ajudavam na descida...
E caíram numa impaciente armadilha feita de ferro retorcido...
Como se fosse uma muralha exilada... num coração nem dono
Tornando-os seres sem energia...incompletos...
Porque perderam o penetrante sabor das tempestades...
E se despiram dos anseios que só o amor pode realizar!

Onde estiver o ar...estarei eu...estaremos nós....

Penso no esquecimento com um súbito fechar de olhos
Aproveito os mil silêncios das vozes que ecoam numa condenada inquietação
Suspendo a minha atenção nas caras e nos sorrisos
Assisto ao revoltear das memórias que vivem num outro tempo..num outro mundo...
Finjo que a minha mão procura agarrar um objecto perdido no tempo
Um objecto sem forma e sem instante...uma abstracção coberta de poeira
Que está suspensa nas memórias...cobrindo-as de uma névoa informe
Como uma voz colada ao gelo que escorre solto pelas paredes do quarto
Em todas as idades há vozes e pancadas que nos abanam...
Peles secas...condenadas por choros indecisos...
Que saem pelas madrugadas em direcção aos campos...ao mar...a todos os meses...
Sentam-se junto às lareiras...pousam o olhar no fogo apagado...
Como se fosse uma porta gélida prestes a derreter-se...a confundir-se com o dia...
A abanar as horas como madeira que se solta dos braços das árvores apodrecidas...
A esboroar-se pelas tardes de Inverno...a abrir-se às vagas mais misteriosas...
E eu..sustenho a respiração...alimento o meu horizonte com fogo...aqueço-o...
Porque onde estiver o ar...estarei eu...estaremos nós....