Que irá desaguar numa inquieta nuvem...
Danças à minha volta como se fosses um tempo suave
Um tempo amarelecido pelo Outono...
Que se queda em cascatas sobre os meus ombros
E me sopra ventos solitários como fotografias de Invernos
Tudo em ti é feito de uma frágil obscuridade....
Como uma árvore desterrada...ou um tronco sem perfume...
Reparei que em cada flor se deita uma borboleta
Que em cada corpo se refresca o calor...que em cada gruta há uma obscuridade paciente
Vejo a noite como quem muda o relógio...e atira os ponteiros ao ar...
Vejo-a a derramar-se sobre a calçada...sobre a música...sobre ti....
Vejo também gestos e pensamentos...como resumos de asas feitas de ouro branco
Invejo o tempo das marés...a sua correria insensata...sem destino certo...
Invejo esse vaivém que a palidez dos dias me mostra...
Como uma terra despida de verdura...
Ou como um jardim suspenso no tempo...extravagante...
Sei agora que os desgostos se curvam perante o teu perfume
Que uma manhã de sol afagará os teus cabelos...
E que o nosso consolo atravessará a solidão...como uma maresia aflita...
Que irá desaguar numa inquieta nuvem...
Feita de restos de dias que já foram ásperos...
E que agora descarrega toda a sua fúria num sono que explode em espantos...
Como se fosse uma insuficiência delicada...ou uma folha despida por um dia negro...
Que se reencontrou com a fascinante vida!