Não sou os minutos que procuram as palavras
Não sou os minutos que procuram as palavras
Não sou aquilo que a tua imaginação te descreve...
Sou um rasto de sombra que não te irá procurar entre parêntesis
Nem se irá esforçar para te dizer que és uma imprecisão...
Prescindo da tua confiança e não me importo que não me encontres na tua cabeça
Porque não analiso as primeiras luzes do dia nem as horas que te caem pelos ombros
Não desconfio da tua farsa...porque tu és a farsa à qual declaro não pertencer
Nem me interessam os teus esforços para te sentares sobre a minha memória
Não sinto o teu aroma fresco nem os sons que a tua alma emite
Não há nada que eu possa dizer que existe...se eu apenas existo no nada...
Sou uma pedra que se reclina sobre o cheiro da terra molhada
Uma memória diluída em sons e cores abstractas
Uma palavra que se diz ao terminar o dia...sou mesmo a palavra que termina o dia...
Sou um corpo onde a luz não se transmite às ideias...porque eu não sou as ideias...
Nem questiono os pequenos gestos que faço para abrir o cinzento dos dias...
Durmo um sono de veludo e acordo sobre uma translúcida face desconhecida
Porque o meu espelho não me reflecte...nem a serenidade vive nos meus braços...
Vivo como se os dias fossem emprestados ao meu corpo...
E se eu não tivesse mais que isto para te dizer...
Dir-te-ia que sou um sobressalto poisado numa serenidade desconhecida
Com uma pele e uma voz...onde piscam palavras...
Como pirilampos acesos num descampado solitário...
A que chamo com a devida delicadeza....vida!