Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Não sou os minutos que procuram as palavras

Não sou os minutos que procuram as palavras
Não sou aquilo que a tua imaginação te descreve...
Sou um rasto de sombra que não te irá procurar entre parêntesis
Nem se irá esforçar para te dizer que és uma imprecisão...
Prescindo da tua confiança e não me importo que não me encontres na tua cabeça
Porque não analiso as primeiras luzes do dia nem as horas que te caem pelos ombros
Não desconfio da tua farsa...porque tu és a farsa à qual declaro não pertencer
Nem me interessam os teus esforços para te sentares sobre a minha memória
Não sinto o teu aroma fresco nem os sons que a tua alma emite
Não há nada que eu possa dizer que existe...se eu apenas existo no nada...
Sou uma pedra que se reclina sobre o cheiro da terra molhada
Uma memória diluída em sons e cores abstractas
Uma palavra que se diz ao terminar o dia...sou mesmo a palavra que termina o dia...
Sou um corpo onde a luz não se transmite às ideias...porque eu não sou as ideias...
Nem questiono os pequenos gestos que faço para abrir o cinzento dos dias...
Durmo um sono de veludo e acordo sobre uma translúcida face desconhecida
Porque o meu espelho não me reflecte...nem a serenidade vive nos meus braços...
Vivo como se os dias fossem emprestados ao meu corpo...
E se eu não tivesse mais que isto para te dizer...
Dir-te-ia que sou um sobressalto poisado numa serenidade desconhecida
Com uma pele e uma voz...onde piscam palavras...
Como pirilampos acesos num descampado solitário...
A que chamo com a devida delicadeza....vida!

Que eu depois espalho sobre todo o teu corpo despido!

Reclino a cabeça sobre um profundo suspiro que se recorta nas árvores
Um suspiro que sobe às mais altas ramadas...como se fosse o espírito das folhas
Um suspiro que mergulha no canto dos pássaros poisados num calmo dia de sol
Depois mergulho no teu seio os meus olhos...e poiso o coração no teu céu escarlate...
Estremeço como se o vento me abandonasse e a felicidade se tornasse um coisa obscura
Calmas noites pedem-me que mergulhe em ti e te ofereça o meu corpo
Um corpo estranho...dourado pela luz das folhas verdes que os dias secam...
Um corpo murmurante...feito de luzes esguias...
Que te perpassam como oferendas feitas por um sol que não provoca sombras...
E em cuja raiz me sento calado...imóvel...obscuro....
Como se fosse um resto de dias felizes...ou um vasto organismo que se agita sob o chão
Como uma raiz que mergulha em ti....ou como uma prece antiga...
Gritada por lago poisado perto de um céu que canta...
Um céu onde preservo a imobilidade..


E observo o silêncio dos teus cabelos soltos sobre mim...
Arrepiando-me o peito numa estranha dança sensual
Que me faz tremer como um prazer antigo...feito de carícias que se erguem do chão...
Que sobem pelas minhas veias...que repousam em todo o meu corpo...
Arrasando-o de prazer....com um exagero que me comove...
E tal como as flores das buganvílias se deitam sobre o caramanchão
A tua boca deita-se sobre a minha...e planta na minha língua um açucarado néctar...
Que eu depois espalho sobre todo o teu corpo despido!

Sob doce sombra que a noite jamais esquecerá!

Acaricio a terra que um dia me arrastará para o seu interior
Acaricio-a como acaricio as tuas mãos... essas mãos que estendes...


Para me consolar das fadigas...
Acaricio-a como se fosse atraído por um mistério que me foge
Um mistério que tenho que percorrer...como se fosse um mar exaltado...
Ou um vestígio de uma fascinante água que passou num repente por mim
Sempre a irrealidade me há-de fascinar...
E nunca me desgostarei dos sulcos que a terra criará no meu rosto...
Serei um passo...uma enxada....um ruído...serei a pureza que o teu corpo procura
Serei um rasto endurecido pelos cambiantes profundos da luz
Serei um pressentimento...uma necessidade que terás...
A pálida luz que te fará percorrer os delicados caminhos que a noite cala ...
Serei um desvanecido vestígio de um tempo aberto para a água profunda
Serei uma sombra flutuando sobre uma sedução...
Deixarei um rasto...como um ser possuído por uma misteriosa nudez
Que flutua sobre uma deserta rua sem casas...inalando o aroma de delicadas flores...
Que me acompanham os passos que se desvanecem na noite...
Percorro a impermanência do tempo como uma criança que cava uma adivinha
Deito-me sob as ramarias que me abraçam como o fazem as vagas de um mar comovido
Ou como inquietas necessidades que sentem o repouso de um corpo cansado
Em tudo há encanto...nos desgostos e nas nuvens...no cansaço e nas veredas estreitas
Num pescoço nu...num peito ofegante...num dia calmo....
Num trapézio onde o ginasta procura fugir de si....
No apagar de todos os batimentos do coração...no nada possuir...no nada ter...
No nada ser...no seguir sem olhar....serenamente...
Como um barco que percorre o mar e desaparece num horizonte calado...profundo...
Onde tudo o que nos inquieta se transforma num tempo infinito...
Onde o tempo pára e nos diz que a água lava todas as sombras que nos tolhem...
E que nós...um dia..não seremos mais que simples e etéreos corpos...
Feitos de encontros que passam por nós...de fugida...
Simples e desertos rios que se encontrarão nos lagos onde flutuam nenúfares
Que nos acompanharão em direcção às noites encantadas …
Onde nos encontraremos e... por fim ...uniremos as nossas almas nuas...
Sob doce sombra que a noite jamais esquecerá!