Foste criado como se fizesses falta à vida...
Lembro-me que dos teus olhos escorriam lágrimas
Como se traçassem uma fronteira entre ti e a felicidade
Como se fossem um acaso da existência...uma norma a cumprir
Um ritual avassalador...como o firmamento numa noite sem luz
Onde estava a tua angústia nesse dia?
Onde estava a tua presença...a tua respiração...o teu inicio de vida?
Onde estava o ar que não respiravas..o rugido que quererias ter dado e reteste em ti?
Onde estava o teu firmamento desagregado...
Onde estava aquilo que faz de ti uma eternidade?
Serás tu capaz de te alimentar de tempo? De existir para além da tua liquidez?
Em tudo o que fazes há um rasgão na tua alma...
Em tudo o que respiras há uma superfície incandescente
Em todas as tuas forças está presente o último gesto...a última criação....
Em tudo o que crias está o último segundo...a lentidão da eternidade...
O tempo que te encheu de miragens...o fim dos acasos...o divino olhar...
Lembro-me que dos teus olhos escorriam lágrimas
Como se a beleza fosse algo impossível...
Como se tudo o que existe fosse como um ressuscitar de uma obra inacabada
Um sepulcro onde Lázaro se deita para sonhar com a Ressurreição
Porque não faltam verdades aos desesperados
Nem terra onde assentemos os pés...nem matéria que a beleza não possa admirar...
Espalham-se silêncios por esses teus olhos....contemplando sonhos inacreditáveis...
Mas..foste criado como se fizesses falta à vida...
Como se ela fosse impossível sem ti...e que sem o teu elo na corrente infinita
Onde os teus olhos desesperados se encontram contigo
Nada mais existiria por debaixo do tempo...nem início...nem fim....
Apenas restava um pesar profundo... chorando pela tua ausência!