Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Foste criado como se fizesses falta à vida...

Lembro-me que dos teus olhos escorriam lágrimas
Como se traçassem uma fronteira entre ti e a felicidade
Como se fossem um acaso da existência...uma norma a cumprir
Um ritual avassalador...como o firmamento numa noite sem luz
Onde estava a tua angústia nesse dia?
Onde estava a tua presença...a tua respiração...o teu inicio de vida?
Onde estava o ar que não respiravas..o rugido que quererias ter dado e reteste em ti?
Onde estava o teu firmamento desagregado...
Onde estava aquilo que faz de ti uma eternidade?
Serás tu capaz de te alimentar de tempo? De existir para além da tua liquidez?
Em tudo o que fazes há um rasgão na tua alma...
Em tudo o que respiras há uma superfície incandescente
Em todas as tuas forças está presente o último gesto...a última criação....
Em tudo o que crias está o último segundo...a lentidão da eternidade...
O tempo que te encheu de miragens...o fim dos acasos...o divino olhar...
Lembro-me que dos teus olhos escorriam lágrimas
Como se a beleza fosse algo impossível...
Como se tudo o que existe fosse como um ressuscitar de uma obra inacabada
Um sepulcro onde Lázaro se deita para sonhar com a Ressurreição
Porque não faltam verdades aos desesperados
Nem terra onde assentemos os pés...nem matéria que a beleza não possa admirar...
Espalham-se silêncios por esses teus olhos....contemplando sonhos inacreditáveis...
Mas..foste criado como se fizesses falta à vida...
Como se ela fosse impossível sem ti...e que sem o teu elo na corrente infinita
Onde os teus olhos desesperados se encontram contigo
Nada mais existiria por debaixo do tempo...nem início...nem fim....
Apenas restava um pesar profundo... chorando pela tua ausência!

Como se fosse essa esperança que temos que agarrar...

Sinto-te como sinto as ondas da beira-mar aos meus pés
Como se fosses essa espuma delicada que me chega como uma carícia
Como se fosses esse murmúrio que me olha sorrindo
E me faz sentir esse sentimento ansiado...
Como o voo de um pensamento ancorado num porto livre de tormentas...
Ou como um voo que se espraia numa ilha que olha um céu florido pelo canto da aves
Sinto-te como se acolhesse em mim todo o silêncio dos campos
Como se fosses uma luz reflectida na crueza da solidão.
Quero que me enchas de mar...de dias claros...
De encontros por onde possamos vaguear...
Observo a minha imagem sem nome...à luz suave do amanhecer...
E sinto que sou a liberdade...que tenho toda a liberdade...
E que sento o meu sorriso na tua face...como se vivesse em ti...
Como se vivesse nessa caverna transparente que és tu
De todos os lugares me chegam os teus passos
De todas as paisagens me olham as flores
Em todos os sítios me aconchegam as tuas carícias...
Seremos pois... uma incrustação comum...sentida...como um risco no olhar...
Seremos o dia..o nome...a luz que atravessa a clarabóia que nos abre o dia
Seremos a janela crua que olha o céu...esperando na noite o nosso encontro...
Como aves migratórias que voltam sempre ao mesmo lugar
Sorrimos aos cansaços...como letras amarelecidas pelo pólen das flores
E contemplamos todas as libertações que a alma nos mostrar
Teremos todos os banhos das águas de Agosto...todas as viagens...todas as árvores...
Mesmo as secas...as que apenas conservam os ramos gastos e vazios de folhas
Mesmo essas ainda enfeitam os campos...mesmo essas ainda luzem ao luar...
Como se fossem filhas de uma imaginação...ou a imagem de um lamento tardio...
Que se conserva perfilado perante a natureza...como uma esperança...
Como se fosse essa esperança que temos que agarrar...
E com ela subir todos os andares dos dias...até alcançarmos a nossa hora de amar!