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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Onde pousarão os cantares das ideias?

Desabam cansaços como segredos que as folhas guardam
Por entre os ramos há palavras envolvidas pelas sombras
Que dizem que entre a terra e a mágoa há um abismo de sussurros saturados de homens
Os pés tornam-se rasgões cavados na terra seca...
Que se confundem com as paredes rachadas das montanhas
E as ervas cobertas de mágoa erguem-se perante a secura dos sentimentos
Os pensamentos atiram-se contra o coração...suicidam-se numa agonia estrondosa
E há um cheiro a tempestade...um abismo que abre a sua boca ao tédio...
Desafiando uma morte fresca espalhada sobre as carnes aflitas...
Como um desamparo...ou o desmoronar de um pesadelo...
A boca informe...o peito raso cheirando a figueiras selvagens...
Ninguém sente vontade de regressar às horas tardias..
Às horas suspensas nas folhas que os pesadelos tecem...
Aos cheiros das memórias que esfriam os corpos numa lágrima de fel
Onde pousarão os cantares das ideias?
Onde estará a derrota da alma que vive nessas ideias?
Que luz se exilará no escurecer da hora que se desmorona ?
Podemos regressar ao ar fresco...à chuva ácida...aos dias longínquos
Mas o nosso desamparo nunca terá uma migalha de tempo que lhe diga
Que os canteiros dos jardins irão florir...no dia em que a luz do sol se retirar..de nós!

Porque somos tudo o restará de nós

Bebi-te como uma noite que não arrefece...como um travo que me nasceu nos dedos...
Como uma suave brisa almofadada...que não faz perguntas..nem se gasta nas distâncias
Fragmentos de nós pululam pela maresia...como lunáticos dias sem direcção...
Porque somos apenas verdade...sem perguntas nem olhares hesitantes...
Porque somos olhos e carne...mãos e barcaças...marés e aves marinhas...
Porque somos tudo o restará de nós...um dia..

Podemos ser o alvo do tempo...

Vinham os corpos cavalgando sobre o eterno inicio do tempo
Queriam falar das coisas invisíveis...da escassez dos futuros
Das gerações que inventaram as palavras que nos povoam
Da insustentabilidade da seta que voa sem destino...sem alvo...
Como uma semente sem sentido...ou de sentido inverso...a semente que mata...
Podemos ser o alvo do tempo...os filhos da transgressão...
A estrada que retempera o cansaço da eternidade...
Mas temos um lugar fixo na imaginação de Deus...
Uma serventia qualquer...que não descortinamos...um povoar de terras estéreis...
Somos a vasilha cuja asa não podemos agarrar...uma verdade inalcançável
Um respeito que só usamos em casos de justiça...uma pontaria desafinada...
Em cada etapa comemos cores...bebemos fartamente o sofrimento...
E partimos...partimos porque precisamos preencher o espaço vazio que há em nós
Porque temos que saber até onde pode ir o nosso olhar...
Até onde podemos ser o bolbo que a terra espera para dar flor...
Ou para nos ocultar o destino sob uma pedra indistinta aos olhos mais atentos
Como se fôssemos uma música invisível em que só os insensatos acreditam...

Podes ser o mundo inteiro...que nada terás...

Trazes uma verdade que a fria manhã desmente
Trazes uma terra...uma ofensa..um desespero que te desconsola...
Nada te falta...nem antes nem depois do fim...
Porque só os dias contêm o fogo da imperfeição
Acalma-te... haverá uma hora em que acordarás
Um desconhecido que se mostrará...no dia em que a máscara cair...
Haverá uma fonte onde beberás o teu ânimo...leve...fresca...sensual...
Lá beberás todas as tuas imperfeições...e todos os teus fogos secarão...
O teu nome surgirá como uma ameaça ao consolo
Renascerás num corpo sem medos...iluminado por luzes que se queimarão em ti
E as fontes forçarão a passagem das suas águas...para que possas plantar a tua semente
Para que te possa socorrer dessa imperfeição que é um nome...
Um nome incapaz de dizer quem tu és...de te socorrer na aflição...
De te mostrar a esperança...
De te fazer regressar ao tempo em que a sombra se recortava na tua pele...
Sem medo de ser condenada...ou dissolvida numa abundância de vidas...
Podes ser o mundo inteiro...que nada terás...
Podes declarar que possuis todas as cores e todas as harmonias...que nada terás...
Nem os caminhos te dirão que és uma espécie de medo...uma notícia sem recorte...
Uma dissolução do Eterno!

Nós somos os frutos que mutuamente saboreamos!

Acordo para me lembrar que hoje é a noite em que a nossa almofada será feita de neve
Que todos os orvalhos terão a cor dos teus olhos...
E que todos os ventos te soprarão carícias amorosas...
Penso no teu respirar...nas mãos que a minha boca aquece...
No nascer de um gesto sobre o teu peito...
Numa madrugada em que te desfolhei como uma rosa insegura...
Depois.. partimos encostados a essa madrugada cambaleante de risos
A esse erguer de nós... boca sobre boca...como uma original manhã...
Como um procurar por ti... dentro de mim...
Como uma descomunal prece sem fundo...
Que me arrebatou como uma felicidade muda...porque os silêncios eram as palavras
Que irromperam do lugar mais profundo...coração e luz...
E porque a nossa história era o começo do luar...
Era a entrada para o jardim onde os versos nos contam alegrias...
E onde nós somos os frutos que mutuamente saboreamos!