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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Secamos as alegrias com maneiras de uma nobreza inata...

Embrenha-se a névoa pelos recantos onde a luz vacila
Das bocas sai o fumo da madrugada que se derrete num arrependimento
Misturando-se com a magia de um lume seminu que aquece os rostos
Não há perdões espreitando pelas portadas fechadas
Não há pinturas de mulheres tardias nem róseas criaturas aparecendo à janela
Todos os sentidos se ajoelham num estrado ressequido
Todos os abandonos se entregam às catástrofes...
E as aves espantam-se...batendo as asas com gestos rasgados por pedaços de luz
Nas lajes dos adros ardem telas indefinidas...rugem cóleras aflitas...
E lívidas...as raízes pintam-se de orvalhos vermelhos...
Por fim...o mundo encanta-se...o sol torna-se uma rua calcinada...
E nós amamos o arrependimento... exaustos de humildade...
E secamos as alegrias com maneiras de uma nobreza inata...
Porque temos os olhos embutidas num rosto que desafia a rudeza da inconsciência
E caminhamos...simples e fáceis...pelos dias que as cores das paredes desafiam...
Tropeçando na satisfação suprema...
De sermos como portas forradas por tapeçarias maravilhosas...
Que se abrem para o espanto de uma pintura em seda...
Como uma exaustão embriagada por corais vermelhos
Por onde a chuva escorre em gotas de resina
Traçando um sulco no rosto...daqueles que secam os olhos com lenços de seda...
E imploram que os deixem ser apenas uma imensa vida...
Onde o tempo se entalhe...como uma caligrafia feita por mãos talhadas pela rudeza!

Dos seres informes...nada emana...

Agoniam-me os teus zumbidos de vespa ansiosa...
Agonia-me a tua palidez disfarçada de escuro
Nada do que vive em ti me traz uma recordação agradável
És uma imagem vaga...amarelecida...dissipada...
Hoje és apenas uma...coisa!
Um pátio que a escuridão vomita...
Um esquecimento que a noite já não contempla...
Um ar decepcionado que me dá pena...
Porque de ti ...ser informe...nada emana...

As nossas asas delicadas mostrarão a cor da nossa vida...

A noite desperta nos murmúrios daqueles que se erguem
Daqueles cujo chão é um bocado de penumbra...
Onde a solidão cospe as suas mágoas e a lama coalha o encanto dos rostos
Ao longe....morrem flores que reclamam futuros nas sementes caídas
Sementes que se arrastam como música que enfeita a natureza
E que vencem a solidão como homens que fugiram do seu corpo
E esticam as bocas para o futuro...enterrando o passado...e...
Preenchendo os dias com sorrisos que relampejam ao vento
Sorrisos que todos as manhãs se enroscam nos espelhos...
Sorrisos inevitavelmente breves...
E que inevitavelmente contaminam a fatalidade dos dias...


Como uma gota feita de erros...
Como uma gota que escorre de uma caveira cujos beijos acordam a carne...
Para lhes lembrar que existe uma história feita de laços...
Que nos unem como uma fatalidade...às carícias...às cores...
À beleza de um despertar apaixonado...por todas as coisas...
Por todos os erros...por todos os nascimentos...por todas as derrocadas...
Porque fatalmente todos pisaremos o mesmo tapete...
Um tapete feito de erva e terra...que nos encerrará como se fôssemos um monumento...
Ou um breve e ridículo casulo...onde a nossa alma se fecha...
Até ao dia em que seremos borboletas coloridas vagueando por nuvens e céus...
Onde as nossas asas delicadas mostrarão a cor da nossa vida...
E os trovões acordarão as luzes...e tudo em nós se iluminará...
Como um vasto campo feito de poemas que se espelha numa delicada aguarela!

Somos moldados pela força que transporta o tempo...

Não há palavras que me expliquem o vazio de uma mão
O vazio que nasce de uma verdade... imaginada.
Não há palavras que me expliquem o destino da poesia
Que me explode nos braços ...embriagada.
Não há palavras que me expliquem a doce visão
De uma ternura condensada num gesto de amor
Não há palavras que me expliquem o alumiar da matéria...nem o invisível vazio
Tudo tem o mesmo destino..em tudo reside a verdade e a ignorância...
Em tudo o tempo despende um esforço opaco...desconfiado...fino...
Tudo se acumula em camadas de olhos que ficam presos nos dias
Viver é receber todos os sentidos da vida...encontrá-los é talhar a vida...
É transportar esse mundo nas palavras...é colocar esses dias nos gestos..
É não permitir que a erosão das horas faça descrer as mãos que talham os olhares
Porque somos moldados pela força que transporta o tempo...
E pelo amor que todos os dias nasce nos nossos corpos...
Nesses corpos que são tão puros como uma montanha indecifrável!