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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Como se sentisse um frémito de amor ao entardecer!

Quem é esse homem que apenas procura uma certeza
Uma certeza fechada no dia que se esconde como uma esperança implacável
Que fuga pode escolher...que possibilidade tem de se soltar...
Que rituais terá que cumprir...para que sejam suas todas as madrugadas
Para que os dias não sejam apenas a execução da sua pena capital
Para que o seu coração se encha de uma ondulante felicidade
Que bebe uma luz impaciente...um céu colorido...um som de ténue harmonia...
E que as suas noites não sejam envenenadas pela luz solitária...
Porque um dia cessarão todas as corridas...todos os ruídos...
E todos os dias serão novos dias...e todas as janelas serão a sua janela...
E a ele nunca chegará o dia de todas as agonias...
Porque a sua respiração saberá a mar...
E porque o fogo de milhares de anos estará consigo..
Assistirá consigo ao deslumbre da luz
Tão completamente real...como se tivesse a vista encostada ao céu...
E o sangue corresse pacientemente pelas suas raízes...
Inundando-o como uma onda colorida que lhe faz tremer as coxas...
E lhe exacerba o olhar...como se sentisse um frémito de amor ao entardecer!

Uma noite sem telhados para se esconder..

Nunca saberei que impulso me impele para as ruas arruinadas
Nem que  sol me aquece as linhas do rosto
É tudo tão raro...tudo tão inútil...que mesmo que os insectos estremeçam nos flores
Tudo será um excessivo gesto...um entoar de um cântico desnecessário ...
Um período de tempo sem pensamentos ...
Nunca saberei porque razão os ciprestes emprestam à paisagem uma cor fúnebre
Marcando nos muros uma sombra excessiva...
Imposta por uma melancolia sem tréguas...
Entre mim e as coisas há sempre algo que estala...que canta e se parte...naturalmente
Enquanto cruzo os campos...piso ervas que se queixam dos meus passos...
E não volto a mim..sigo absorto por tanta beleza que me passa pela cara...
Nunca saberei que sangue empapou os ninhos das aves...nem a barriga das luzes...
Nem mesmo que todo o céu se cubra de gerânios brancos....
Nunca saberei o que sente um boneco descarnado...
Ou uma cama desfeita cujos lençóis dourados reclamam por mais calor
Nunca saberei qual é a singularidade melodiosa de uma rua ladeada por jazigos
De uma noite sem telhados para se esconder...de um latejar que empalidece os olhos...
Nunca saberei o que sente um candeeiro fatigado por tantas noites em branco
Por tantas incertezas...por tanta gente que passa de olhos curvados sobre a calçada...
Há tanto sangue...tanta carne...tanta lágrima apoquentada...
Há tanto para saber...que até as estrelas se aconchegam em eternos mistérios...
E não contam nada...não dizem nada...mas...
Esmagam-nos com promessas que descem na chuva...e nos empapam o espírito...
E nos deixam como casas despejadas de luz...
Vazias e encantadoras como palavras incumpridas...que nos estilhaçam os dias...
E nos fazem crer que a noite é o triunfo das nascentes...
De onde brota a água que nos lava o sangue...e nos refresca os olhos...
E nos faz acreditar que o azul é o céu inflamado de mar....
Nesse mar onde a nossa respiração balança suspensa numa bóia...
Que um dia nos libertará dançando e elevando-se...
Como se fôssemos uma espécie de poeira ofegante!

Uma alma de vidro caída do céu..

Imagino todas as vozes...escuto todos os chamamentos...
Sei que as vozes silenciosas são sonhos ... que falam baixinho
Que oprimem os passos...que chamam os pássaros que voam ao longe...
Para que os levem de mansinho..e me livrem do seu cansaço...
São ondas confusas que se perdem na cidade...
E que me conduzem às noites quentes de verão
São pregões da alma...caminhos de inocentes luzes...sonos de claridades...
São ares oprimidos por um céu indisposto...são itinerários...às vezes esmagadores
Outras vezes são culpas da alma...rumores de cego....lamentos de inocentes dias...
Os sonhos descem as ruas...saciam corações...erguem-se luminosos sobre o vazio
Encontram-se em todos os lados...nas caras ansiosas...
Nos abismos onde a luz crua da noite se encerra
Nos corações vazios...nos odores da primavera...
Até nas prisões onde os não podem encerrar.
Como pode alguém erguer-se de um sonho...como se fosse um facto real...
Como pode alguém conduzir os dias sem que a sua imaginação ansiosa
O recorde que o sonho é incolor...é uma vertigem...um atentado ao inútil...
Mesmo que as horas sejam pobres verdades...e que o sonho saiba a sol poente...
E que todas as fugas são possíveis...
Nada é mais fácil que embrulhar um sonho numa alma...
Pegá-lo com uma tenaz de ferro...exibi-lo no local onde sucumbe o vazio
E sorrir...tornar-se um sorriso saído de uma garganta atroz...condenada a sorrir...
Como se tivesse passado pela tolerância do tempo...
E fosse uma alma de vidro caída do céu...ou um salto no infinito...
Que no seu mais profundo lugar... encontra a sua razão de viver!

Nada é mais triste que um perfume sem mistério...

Outro que não eu...recearia assistir ao espectáculo do vento abanando os dias
A esse sopro incómodo que dobra os corpos e faz faz inclinar as ervas
Como um poderoso momento em que todas as harmonias...
Se esvaem numa missa fúnebre
E todos os infinitos mostram as suas trevas que iluminam a vida.
Por mais que não queiramos...seremos sempre tempestades anónimas
Desertos sem norte...misteriosos seres de cabelos ao vento...
E nada é mais poderoso que as vastas ramarias que nos assolam
E nos fazem encobrir os frágeis dias...e as fontes obscuras onde vamos beber a vida
Porque nada é mais triste que um perfume sem mistério...
Que uma sombra pálida e pungente se agite numa dissimulação de felicidade
E que da música não se derramem corpos enlaçados...sempre enlaçados...
Numa dança que o toque dos sinos aplaude...a chamar os crentes...
Para o milagre do amor!