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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Se do Outono ficasse apenas uma folha caída sobre as lajes frescas

Se do Outono ficasse apenas uma folha caída sobre as lajes frescas
Se no Outono se desenhassem feições...
Com gotas de luz abandonadas perante o espanto
E se nada restasse dos dias calcinados pelas pinturas de uma alma
Que a madrugada amou .. como um estátua que se admira a si própria
E se tudo voltasse a ser um gesto que definisse um arrependimento...
Um gesto que vivesse numa pele ressequida pelas aflições do mundo
Então o sol seria um pedaço de ave feita de seda...ou um perdão rude...
Estendido sobre os corpos abandonados...
Transformando os presságios em alquímicas rosas embriagadas
Que enfeitariam o leito dos amantes...
Como carícias faiscantes que se despedem da dor!

E o mar era uma alma crua...

E tudo se fechou debaixo da chuva que estilhaçava o ar
Todas as coisas eram um murmúrio que triunfava perante o imóvel silêncio
A luz caía a pique...as ruas fumegavam perante os meus olhos inflamados
A poeira erguia-se como uma respiração do ar...que retesava os corpos...
Abafava o mar...e encobria o céu como se ele vestisse um traje branco..inebriado...
A chuva esmagava-se no chão como um triunfante mar....
Como um véu que encobria a embriaguez do calor...
Como uma âncora que deseja unir-se ao lodo...
Que quer encostar-se ao mais fundo da espessa água...
Como quem bebe de uma fonte refrescante...
Cuja alma deseja encontrar o ar efervescente...enervante..
O ar que faça estilhaçar a vidraça onde se escondem todas as alegrias...
E todas as desgraças...e todas as imagens de uma espada ofegante...


Fumegante de luz...
Uma espada cuja lâmina fulmina o silêncio das palavras imóveis...
E as cobre de imagens que envergam trajes luminosos...
Como se fossem luzes deitadas sobre uma cama ...
Que dança na nascente inebriante da vida....
E que perante a gélida madrugada...fumega …
Como um céu que se abre para um imenso dia claro...
Onde a chuva traça o destino...feito de salas cheias de gente inflamada...
E as crianças se recordam da alvorada em que as nascentes eram flores lilases...
E o mar era uma alma crua...
Onde dançavam luzes que se reflectiam nossos pés descalços..
Alumiando as flores que se despenhavam sobre as cabeças nuas
Como esperas de amor que caíam sobre longos véus floridos!

Onde a areia apaga as tuas máscaras esfarrapadas...

Rio-me das tuas putrefactas palavras ..das tuas sombras alucinadas....
Dos teu ódios insípidos...e dessa espécie de névoa desgastada por mágoas...
Rio-me das sombras que te devoram...e das renuncias que usas como relíquias religiosas
Rio-me das alucinações que o teu corpo sente...
Rio-me desse veneno que bebes e que depois vomitas
Como recordações desmaiadas de dias sombrios
Sim...és sombria...ténue...um rosto ardido...que um corpo gasto carrega...
És a eterna erva que não dá flor...o inquieto vestígio de um longínquo deserto...
Onde a areia apaga as tuas máscaras esfarrapadas...
E o vento leva para longe as tuas palavras...
Onde os meus olhos nunca mais pousarão!

Há uma hora pura e verdadeira

Há uma hora pura e verdadeira
Uma hora onde o exílio partilha o silêncio da cidade
Com as conchas que sussurram no areal...


Há uma hora pura e verdadeira
Uma hora em que a noite dança com as estrelas
E as brisas sobem os largos degraus do dia...


Há uma hora pura e verdadeira
Uma hora em que partilhamos a solidão com o silêncio
Uma hora em que construímos a nossa demora
Em reconhecer que os dias são estranhos...


Há uma hora pura e verdadeira
Uma hora em que dançamos em todas as ondas
Uma hora em que os sentimentos não pesam
E respiram essa atmosfera quente
Como um bafo vindo do passado
Que nos lembra que somos restos de outros corpos
Que alimentamos as nossas magras nostalgias
Com um presente que rumoreja sobre a nossa alma
Como se vivêssemos na grande e infinita paz de uma visão
Que nos diz que hoje é dia de nascer de novo!