Pausas de sossego onde os corpos cansados respiram!
Atravesso a cidade abandonada...vergada pelo fogo ateado numa noite lúcida
Respiro como se comesse um ritual suicida e bebo todas as chamas que me acordarem
Atravesso corações..objectos...néons pasmados pelos corpos à deriva
Corpos que procuram vento no fogo...areia nas coincidências...metamorfoses na fúria
Corpos que dialogam com as agonias que vivem nas paixões que a cinza esfriou
Vou até ao mar onde se suicidam as travessias oceânicas
Onde as saídas são pausas que ardem como lugares feitos de inutilidades
E a geometria dorme sobre lâminas que não dizem qual é a saída
É preciso atravessar as chamas... chamar os inocentes...acalmar os suicidas
É preciso manter-se vivo dentro de uma língua que sopra o fogo..ateando-o..
É tempo de corroer o ácido que verga os túneis esconsos onde se perde a voz
Porque o mundo sobrevive fechado num casulo feito de seiva
E os dias perdem-se nas arqueologias que os desertos escondem
E ficam esquecimentos...travessias...mágicos medos de águas em fúria...
Como pausas de sossego onde os corpos cansados respiram!