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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Estenderei os olhos pela planície longínqua

Esperarei pelo barco que se aconchega ao mar com um ruído de vagas claras
Encontrarei uma noite antes que a aurora trepe pelas minhas dúvidas
Estenderei os olhos pela planície longínqua
Como se me erguesse livremente perante um céu feito de suaves penas brancas
Lamentarei que que a claridade desabe impetuosa sobre todos os crimes
Porque sei que o ar húmido da manhã amaciará a minha amargura
E que o meu corpo acompanhará as ruas desertas
E os meus pensamento sentar-se-ão sobre todas as alvoradas
E dir-me-ão todos os segredos...
E todas as respirações que se erguem como brumas lívidas
Perder-se-ão nas luzes da manhã...com a chegada de uma pomba que traz o novo dia...

Preciso dessa manhã onde eu acorde para a glória de ter errado...

Rugem as ruas por onde passo...berram as verdades amortalhadas...
E eu sigo vasto e bêbado sentindo na boca o teu travo a absinto e hortelã
Preciso do teu ar... da tua manhã...dos teus cumes espetados sobre o meu peito...
Preciso dessa manhã onde eu acorde para a glória de ter errado...
De ter entrado numa cela solitária...como um rio sem absolvição...
Que se afunda numa profunda bênção onde paira o mar cheirando a rosas debotadas...

Cega seja a luz se o meu rio não desaguar na tua enseada

Deito-me sobre uma cama crepuscular feita de luzes polidas
Deito-me sobre a tua imagem...dispo a tua imaculada pureza
E tenho a clara visão dos teus seios arejados pelo meu beijo
Cega seja a luz se o meu rio não desaguar na tua enseada
Se o meu corpo não errar por dentro do teu como uma capa que te protege
Se não te cansar com a minha imagem de diabo polido e severo
Que faz da dessa tua criatura solitária...uma imensa alma muda....
Que despe o seu cansaço sobre mim....

Amo a ambiguidade dos seres...

Amo a ambiguidade dos seres...
Reparo na mentira que vertiginosamente se descarta no subtil prazer do segredo
Sim...quem mente guarda um segredo...guarda em si uma luz que não acende
Guarda em si a morte da verdade...como um mar de agonias em pleno Inverno
A mentira é como o sal do mar...precisa de sol para mostrar o seu esplendor...
Admiro os donos da verdade...aqueles que juram a pés juntos que jamais mentiram
Como se viver não fosse já uma mentira...um assassínio de um prazer....
O homem oculta a sua verdade para se manter fiel a si...
Para não se perder nesse oceano onde flutuam luzes irreais...
Para saborear o riso sinistro do vazio...para tornar definitivo o seu absoluto...
Ah gentes verdadeiras...quem sois? Desconheço-vos....
Desconheço todos os que pensam que podem incendiar as nuvens
Desconheço os vossos dias repletos de falsas crenças...acreditas na verdade?
Eu acredito mais nas pombas brancas que evoluem sobre o cume de uma dissonância
Porque no final do dia quem pode dizer que foi verdadeiramente real?
Quem se pode acusar de não ter adormecido sobre uma geração de segredos?
Houvesse um único dia para viver...e eu mentiria sobre a luz que se acende...
Diria que não me arrependeria de escalar essa montanha...
Onde encontraria a minha fiel verdade...
Ainda que fosse mentira!

Querias que os pássaros fossem só teus

Tinhas frio..e eu disse-te que às vezes as casas se alimentam do calor dos corpos
Arrepiavas-me como um cheiro a tangerinas frescas..
E tu dizia que os frutos são como seduções...roupa nua que desperta os sentidos
Era o fim da tarde...as estrelas suavam para aparecer..


E tu esfregavas o teu corpo no meu
Querias que os pássaros fossem só teus e ….
Que os seus cantares Se reflectissem nos teus óculos feitos de sol...
Tinhas razão...o tempo reinventa os olhos ensonados....é uma lente de aumentar...
O tempo explodia em nós e...a tarde ardia no teu pequeno corpo...
Somos éter...dizias...somos os dois contra a multidão..
Perturbamos os dias com o nosso amor...e a roupa tornou-se inútil....
E as estrelas estremeceram...e nós comemos a doçura das palavras...
Até que tu ficasses saciada...

Trazias em ti o ritual do verão... antecipado!

Trazias em ti o ritual do verão ...antecipado!
Havia em ti a despedida de um oceano devastado por começos impossíveis
Arrastavas a noite seca e errante que sussurrava finais de amores invisíveis
E a terra deixou de ser firme...transformou-se num largo porto corroído pelo mar
E na vastidão de um grito deserto havia um amor em fogo...
Havia uma voz rasante que se arrastava...era a voz de um corpo procurando o seu par
Era o cansaço de uma severa seiva que errava pelas ruas sem começo
Era o travo de uma boca penosa e fatigada de cidades cheias de ares cansados
Ouves as criaturas solitárias? Sabes que as árvores traçam sombras sobre as paredes?
Não sentes descer a noite sobre os desertos que cantam manhãs de glória?
Foste o fim de uma imóvel praia que depois seguiu apressada rumo à extinção do sol
Porque levavas em ti o ritual do verão... acabado!