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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

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A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Paixões esquecidas sobre águas perturbadas...

Perscrutamos o fundo da memória deslizando como folhas de Outonos amachucados
Mordemos a nuca do sol que cobre o primeiro beijo prolongado
E transmitimos calor e suavidade aos corpos que suam sob uma visão ensanguentada
A noite pernoita sobre um altar feito de profundos medos...
E as cidades não sentem as agruras onde as criaturas se deitam
Vejo agora que os risos engolem os silêncios e que a solidão suja os corpos decotados
Vejo que a poesia é um acordar de mordaças sobre uma folha de papel
Vejo que inútil é o país que cobre o nosso olhar de indigestas memórias
E só me apetece reinventar o fogo de artifício...
Acordar as tílias sobranceiras ao meu olhar
Morder a literatura que adormece nas noites em que os cães lacrimejam
Comer a folha de papel onde as minhas mãos rasuraram palavras...
E expor ao vento o meu corpo sujo de mundos arrasados...
Para que o lodo que cobre as ruas envenenadas de amianto...
Não se cole aos meus ensonados olhos... plenos de viagens à deriva...
Que adormecem num vertiginoso atol de coral vermelho...
Como paixões esquecidas sobre águas perturbadas...

Tensas suavidades invadem os olhares...

Há corpos em espaços rasos...corpos tocados por mãos que se perderam...
Corpos sísmicos que vogam sobre cantos que a contraluz disfarça
Tensas suavidades invadem os olhares...
Gritos de metal reluzente espalham-se pela fecundidade da noite
Há visões apocalípticas de cinzas encostadas a cabeças sem sono...
Há jardins de línguas devoradoras que deslizam sobre corpos feitos de rochedos
Há barcos onde a saliva fecunda o sal que cobre os estremecimentos
E nas bocas translúcidas expelindo auréolas sobre altares purpúreos
Há direcções que devoram os sopros aflitos das montanhas perdidas..
E os dias endurecem os corpos onde o sangue coagula nas artérias transparentes
Deslizando como cordeiros incandescentes que o pastor aperta contra o peito
Seguindo os doces cabelos solidamente escorridos...
Como vagabundos dentro do crepúsculo...ou como visões de jardins calcinados
Que deslizam pelas memórias de sangue antecipado pelas noites liquefeitas
E estremecemos...seguindo o canto dos alpendres selvagens...
Invadimos corpos com um olhar conspícuo..inaudível às luzes que fecundam a terra
E deslizamos sobre abismos de visões extintas...
Sobre mares que se propagam na deriva...
Até que uma sibilante e inocente chama selvagem nos acorde!