Paixões esquecidas sobre águas perturbadas...
Perscrutamos o fundo da memória deslizando como folhas de Outonos amachucados
Mordemos a nuca do sol que cobre o primeiro beijo prolongado
E transmitimos calor e suavidade aos corpos que suam sob uma visão ensanguentada
A noite pernoita sobre um altar feito de profundos medos...
E as cidades não sentem as agruras onde as criaturas se deitam
Vejo agora que os risos engolem os silêncios e que a solidão suja os corpos decotados
Vejo que a poesia é um acordar de mordaças sobre uma folha de papel
Vejo que inútil é o país que cobre o nosso olhar de indigestas memórias
E só me apetece reinventar o fogo de artifício...
Acordar as tílias sobranceiras ao meu olhar
Morder a literatura que adormece nas noites em que os cães lacrimejam
Comer a folha de papel onde as minhas mãos rasuraram palavras...
E expor ao vento o meu corpo sujo de mundos arrasados...
Para que o lodo que cobre as ruas envenenadas de amianto...
Não se cole aos meus ensonados olhos... plenos de viagens à deriva...
Que adormecem num vertiginoso atol de coral vermelho...
Como paixões esquecidas sobre águas perturbadas...