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folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

folhasdeluar

A minha poesia, é a minha incompreensão das coisas.

Falta-me o caos que a paixão das frases produz no meu corpo mineral...

Fragmentos turvos de passos... olhos inchados pelos cumes que inventam vales e rios
Sou eu ou há coisas em mim que titubeiam sem verdadeiramente serem coisas
Olho o sol cuja vermelhidão me apavora...
Espirro todas as cores que se acendem nos meus olhos
A boca sabe-me a frutos que vibraram nos ramos das árvores...
E irreais vapores lilases extraviam-se pelos ares densos...
Como irrealidades submergidas por bruscas mudanças de maré
Falta-me nascer de novo...faltam-me os passos incertos de criança...
Falta-me o caos que a paixão das frases produz no meu corpo mineral...
Sigo submerso e evaporado...como palavras devoradas pelo papel...

E eu rolava sobre ti...invisível e estridente..

Era o primeiro cheiro que me chegava de ti...um cheiro salgado
Fugias da água com um nevoeiro arrepiado sobre o corpo
E um volumoso aborrecimento a cair dos teus seios
Querias dias agressivos para onde pudesses fugir desse espesso dia ofuscante
Gritavas sobre as frágeis dunas que o vento desfolhava
E eu comia as horas sobre algas escorregadias e sujas pelas águas turvas
Tu enfeitavas os lábios com instantes feitos de areia
Talvez gostasses desse sabor a Março...talvez quisesses brincar às marés...
Porque subias e descias sobre mim com um cair de vestidos enfeitados por túlipas azuis
Depois era o frio...o choro...os desejos desmoronados como aves...
Eras um opaco espelho que chorava sem saber que os instantes são lunares..
Que os momentos são plumas de segredos que bebem perfumes afrodisíacos
Depois olhavas o futuro como alguém ausente...
Como um mijar inflamado sobre a areia...que se dispersa numa covinha que o mar apaga
Fugias desses recomeços antes de começarem...como se estivesses enfastiada de tédio
E eu rolava sobre ti...invisível e estridente..
Sentindo um sensual prazer em te sujar o corpo
E tudo recomeçava...a noite e o seu marulhar inquieto...
As marés com as crianças sulcadas pelos barcos que levam os sonhos
E só ficavam os cheiros...que sozinhos na praia assobiavam poemas de pernas para o ar!

Monserrate...jardim proibido...capítulo encerrado!

Escuto este silêncio como uma ausência assustada de mim
Como uma agulha que se enterra profundamente no meu coração
Desenhando uma costura de nomes esquecidos...
Desenhando os nomes de todos os que irremediavelmente vibraram comigo
De todos os que de longe a longe visitam a minha memória
De outros que aparecem como serenos sustos que se perderam no frio do cansaço
Na vida...no álcool...nas drogas...como moscas esvoaçando em contra-luz
Queimando essa luz com os seus corpos cheios de pulsares ansiosos
Ausências e noites mal dormidas ...acordares de cabelos emaranhados pela areia...
Feixes de raios perdidos no marasmo dos dias desencontrados...
Nunca estaremos longe...nunca se está longe das marcas que se espalham pelo corpo...
Nunca o frio treme mais que nós..nem a dor se espalha com mais frenesim
Eram os tempos em que inventámos sonhos em Sintra... feitos de ácido e noite...
Tempos de saberes vibrantes e de speed...pulsações de desejosos corpos etéreos
Não havia desordem quando dávamos pão aos peixes que agitavam os nenúfares do lago
Monserrate...jardim proibido...capítulo encerrado!

Silêncio aquático e esquecimento...

Eram tempos de inquietantes vozes...tempos que a minha memória respirou
Tempos que arderam numa desordem de dias perdidos...
Já não volto a esse respirar...já não sou o arqueólogo do passado...
Sigo a paixão que me chamar...perdido em desertos onde não existem abrigos
Vou pelos lugares onde o tempo absorve o esquecimento...onde eu serei o esquecido
O inaudível..aquele que por aqui festejou a noite...
Coberto de seiva onde o cansaço dormiu...e que agora desperta dentro de um casulo
Onde se aconchegam os restos dos meus gestos....
Onde se acumulam as minhas cinzas inquietas...porque não voltarei a sair das brumas...
E me transformei num vapor translúcido...
Que submergiu num nocturno desejo...que desapareceu como uma lua solar...
Até ao dia em que o aroma aquático...de um rendilhado de flores aéreas....
Me desperte!

Silêncio aquático e esquecimento...

Eram tempos de inquietantes vozes...tempos que a minha memória respirou
Tempos que arderam numa desordem de dias perdidos...
Já não volto a esse respirar...já não sou o arqueólogo do passado...
Sigo a paixão que me chamar...perdido em desertos onde não existem abrigos
Vou pelos lugares onde o tempo absorve o esquecimento...onde eu serei o esquecido
O inaudível..aquele que por aqui festejou a noite...
Coberto de seiva onde o cansaço dormiu...e que agora desperta dentro de um casulo
Onde se aconchegam os restos dos meus gestos....
Onde se acumulam as minhas cinzas inquietas...porque não voltarei a sair das brumas...
E me transformei num vapor translúcido...
Que submergiu num nocturno desejo...que desapareceu como uma lua solar...
Até ao dia em que o aroma aquático...de um rendilhado de flores aéreas....
Me desperte!

Nas madrugadas pálidas...

Mordo o sol... alimento-me de frutos luminosos que a noite tenta esconder
Desejos...jardins de noites cheirando a carícias de virgens sibilantes
Nas madrugadas pálidas... cujos rostos mostram a marca de um véu envergonhado
Há seduções de conchas escondidas nas rochas inalando o iodo do mar bravio
O sangue ferve...perde o medo e desaba sobre os sexos...escoa-se pelo amanhecer...
Tudo geme num estertor de corpos insaciados..
Que ardem numa vertiginosa paixão de águas segredadas...
Que suportam línguas onde brilham fluidos sagrados...fluidos de vida...
Fluidos que saem do paraíso como seduções de bocas húmidas...
Não há sossego para essa ferida que as miragens transformam em prazer
E os paraísos sibilam pausas...respirações...insónias ferventes...
Exalam doces sucos em memórias alugadas...como alucinações de oceanos em êxtase
Como essa memória assustada pelo ácido dos corpos carcomidos pelo desejo
Que arde como pedaços de pele arrancada por amores sôfregos...

Sal...sol...ruído infernal de gotas de água cobertas de sono...

Havia uma aparência de paz nos nossos rostos azulados pelo frio
Havia um amanhecer que embaciava os insectos entorpecidos
Não sei se o mar ofegava sob lua cheia
Ou se as tuas mãos procuravam as minhas como se fossem paisagens virgens
Porque havia um sonho que iluminava as nossas silhuetas
Numa paisagem doida onde tremeluziam pirilampos
E nós brincávamos com a espuma de mil desejos
Éramos o esquecer das coisas e dos corpos exaustos
Éramos a sombra dura de um sol ofegante que se entendia sobre o mar
Dominava o mar...com a sua claridade de noite interrompida
Descrevo este amanhecer como só os sonhos o podem fazer
Como só as vidraças o podem reflectir..como só os vómitos das paixões o podem entender
Ah lua que abriste em mim os melhores dias...que me exaltaste o sono...
Como milhares de gotas de águas silenciosas
Que cantam como aves imersas em nevoeiro
Haverá um olhar sobre um peito ofegante que descreva este amanhecer?
Conseguirá o sol atingir as profundezas onde vivem as algas?
Ah cidades exaustas de trevas que a claridade vomita
E que atam as mãos que escrevem sobre os abandonados
Sal...sol...ruído infernal de gotas de água cobertas de sono...
Paixões que voam com as gaivotas e que o oceano entardece...
Mil cantos sem nome elevam-se no fumo azul das chaminés
É tudo tão frágil...a claridade...as paixões...os subúrbios esconsos das cidades
Esses subúrbios onde a comida azeda na fome dos desejos...
E o abandono é uma paisagem árida que os doidos aplaudem...
Nus... nas ruas que guincham estertores de paixões que procuram corpos
Paixões que brincam aos desejos cobertos de limos salgados
E que entardecem espavoridos pelos dias viscosos que os doidos exalam
Paro o olhar...descubro que as aves comem algas e fumam os nossos venenos
E que do outro lado do espelho se perde o rasto das coisas que perseguimos...
Como se o entardecer fosse um atravessar de nevoeiros espessos...
Onde perdemos o rumo...e largamos amarras...até que nos afundemos num corpo...
Que a nossa solidão encontra numa esquina... repleta de vertiginosos segredos
Que a nossa imaginação fecunda ...como se concedesse paz a uma noite perfeita!

Em surdina!

Respiro o amarelecer de uma miragem deitada na chuva
É o meu tempo dos desencontros...a minha coincidência com o nada
Por detrás da insuspeita vigília contemplo a chuva que rasga o ar
Esse ar viciado pelo excesso de fumo e álcool...
Como um impedimento feito de risadas extravagantes
Que o deserto mascara de lentas areias que deslizam pelas palavras
É lento o tempo coincidente...é lento o caminhar das frases inventadas
É no revelar-se dos dias coalhados nos corpos que as sílabas despertam
E a memória se funde num escutar de risos antigos e corpos marulhados
Que mostram na queda das máscaras o silêncio murmurante das miragens
São os excessos...é o desgaste das margaridas em flor escondido em cada palavra
E eu só quero usar todos os receios...todas as insónias...
Para inventar um tempo que nasça em mim
E me invente como um pilar feito de aparos de canetas azuis...
Onde cresçam estranhos canteiros de versos perdidos de amor
Onde se gritem palavrões injectados nas veias vermelhas das petúnias
Que num estremecimento escondido na pálida tristeza da neve
Suspire por um momento de alívio...por um segundo de sonhos matinais...
Pelo momento em que o corpo se perde numa gargalhada vinda do inferno
E a sombra dos ciprestes me cubram de alívios...
Porque caminho sobre leves fragmentos de trevas circulares
Que me levam a campos de manhãs inventadas que cheiram a solidões translúcidas
Onde os sopros se perdem...e as palavras se escondem...
E o mundo é feito de uma estranheza onde raras flores despertam do frio matinal
E por ali ficam murchas e cobertas de gelo coalhado pela separação dos dias
Até que eu lhes mostre os meus suspiros feitos de caos
E elas se recordem que já foram mãos e frutos
Que me alimentaram as noites feitas de pânicos e me escreveram crepúsculos...
Em surdina!